Che Guevara é humano, não é Deus

Apesar de ser um mito, Che Guevara não deve se tornar um Deus, mas sim continuar a ser um humano. Este é o apelo deixado pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jorge Qüillfeldt, aos mais de 50 participantes no lançamento do livro “Ernesto Guevara, também conhecido como Che”. A atividade, organizada pela Associação Cultural José Marti e pela Editora Expressão Popular ocorreu nesta quarta-feira (8), no Espaço Cultural Utopia e Luta em um prédio ocupado pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), no Centro de Porto Alegre (RS).

Mais do que marcar a lembrança dos 41 anos de assassinato de Che ou de reverenciar sua memória, o encontro marcou a necessidade de trazer a imagem, os ensinamentos e o exemplo de vida do guerrilheiro para mais perto do povo e para os dias atuais. Em seu debate, o professor Jorge Qüillfeldt recuperou a história de Che e apontou detalhes recém-descobertos que mostram o quanto o guerrilheiro era um revolucionário e representava um enorme perigo ao avanço dos Estados Unidos na América Latina. Che teve as mãos cortadas logo após ser morto, que foram transportadas para identificação na Argentina a fim de tivesse certeza que o homem assassinado era o guerrilheiro. Os soldados norte-americanos e bolivianos também tiveram o cuidado de lavar o corpo de Che e tirar as marcas de sangue antes que fossem tiradas as fotografias, para que não parecesse que a morte havia sido uma execução.

No entanto, Guevara não se tornou um mito apenas por seu assassinato cruel, mas sim pelo que ele fez e defendeu em toda a sua vida. Che tinha orgulho de ser latino-americano, tornando-se um dos poucos heróis “descolonizados” na esquerda, ao lado de Sandino (Nicarágua) e do Subcomandante Marcos (México) – a esquerda está cheia de mitos com valores da elite branca européia. Che também é exemplo de solidariedade aos povos, estando inclusive entre os 81 mil soldados de Cuba enviados ao Congo que derrotaram o exército sul-africano e deram início à luta contra o Apartheid. E, acima de tudo, como ressaltou Qüillfeldt, Che Guevara foi um homem comum. “Ter mito não é ruim. Ruim é o mito se transformar em obstáculo para as mudanças”, avaliou o professor.

E é justamente o fato de Che ser um mito e estar ainda presente entre os lutadores do povo que faz com a mídia convencional e as forças sociais mais ligadas à direita rotulem o guerrilheiro de terrorista. “A imagem de Che como terrorista voltou à tona na mídia porque a resistência ao império norte-americano e ações para derrubá-lo se tornaram fortes na América Latina como na Venezuela, Bolívia e até certo ponto no Equador e na Nicarágua. Não é à toa também que a ‘Escola das Américas’ voltou a funcionar em Honduras”, diz o professor. Che, que já passou por terrorista, sonhador, romântico e até mesmo por esquizofrênico (Che Guevara como pessoa era diferente do Che Guevara Revolucionário) pela mídia, deve ser perpetuado entre os seus companheiros e quem mais acreditar nele como um simples humano.

Lançamento

Militantes de esquerda, integrantes de organizações sociais e movimentos sociais prestigiaram o lançamento do livro “Ernesto Guevara, também conhecido como Che”, da Editora Expressão Popular, nesta quarta-feira (8/10) na Capital Gaúcha. Além da presença do professor Jorge Qüillfeldt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também participaram do ato o músico Edward Solari, do Grupo Utopia e Luta, grupo cultural ligado ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e o Grupo de Teatro Popular da Restinga – periferia de Porto Alegre.

Com quase 800 páginas, o livro “Ernesto Guevara, também conhecido como Che” voltou a ser reeditado no Brasil depois de 11 anos de sua primeira edição, pela Editora Script. A obra do escritor mexicano Paco Ignácio Taibo II chama atenção pela apuração dos fatos e das informações típicos de um historiador – foram entrevistadas quase 100 pessoas entre familiares, amigos e companheiros de luta – para contar a história do argentino Che Guevara.

Livro: Ernesto Guevara, também conhecido como CHE
Autor: Paco Ignácio Taibo II
Número de páginas: 728
Preço: R$ 30,00

Pode ser encontrado no Brasil na Editora Expressão Popular: www.expressaopopular.com.br
No Rio Grande do Sul, pelo representante da editora Aderbal Brás no e-mail: [email protected]