Semana de Cultura do MST une debate e muita animação
“Contra o Imperialismo, soberania popular na Amazônia”. Foi esta a palavra de ordem que deu início ao o primeiro debate da Semana de Cultura Brasileira e Reforma Agrária, realizado nesta terça-feira (11/11). O evento, organizado pelo MST, acontece em Belém do Pará até dia 16/11 e conta também com diversas apresentações de música, teatro e oficinas.
Charles Trocate, da Coordenação Nacional do MST e o prof. Angelo Carvalho, da Escola Agro-técnica de Castanhal, debateram com cerca de 800 trabalhadores rurais Sem Terra de vários estados do país a situação da Amazônia como um território em disputa. Para o professor Ângelo, a região Amazônica simboliza uma das principais disputas da atual fase do capitalismo, denominada por Charles Trocate de Imperialismo Ecológico e ambiental: a disputa entre os países centrais, com tecnologia e os países periféricos, com recursos naturais. “A lógica do capitalismo é a do desenvolvimento econômico a qualquer custo. Isso implica necessariamente na concentração de terra e no controle dos recursos naturais necessários para esse ‘desenvolvimento’”, disse ele.
Charles Trocate completa: “Não há saída para a crise ambiental que vivemos dentro dos moldes capitalistas, uma vez que o sistema capitalista só se desenvolve levando à exaustão a força de trabalho e a natureza”. Por isso, para o dirigente do MST a palavra de ordem “Contra o Imperialismo, soberania popular na Amazônia” simboliza bem a resistência na Amazônia, já que toda a luta na região é uma luta anti-imperialista
Política, Comunicação e Cultura
O tema do debate da manhã de hoje foi ‘O papel da comunicação e da cultura na construção de um projeto popular. Para Keila Negrão, da Secretaria de Comunicação do Governo do Pará, o modelo de comunicação concentrador, centrista e excludente vigente no Brasil deve ser combatido, e ela reconhece o papel do Estado para mudar esse modelo.
“A comunicação no Brasil sempre foi pensada como brinquedo de família. As Secretarias de Comunicação não podem se preocupar apenas em cuidar da imagem do gestor, mas sim pensar a comunicação pública e a inclusão social a partir da comunicação”.
Uma das formas de combater o monopólio dos meios de comunicação e de produção cultural é democratizando esses meios, dando acesso aos trabalhadores para produzirem sua própria comunicação e cultura. Para Miguel Stedile, da Coordenação Nacional do MST, “não existe fronteira
entre a luta política, a comunicação e a cultura, já que toda a comunicação e cultura é uma opção política e está a serviço de um projeto político”. Por isso, a construção de um projeto popular
implica necessariamente na construção de uma nova comunicação e de uma nova cultura.
Tributo a João do Vale
Além dos debates, da reflexão e das oficinas práticas, os participantes da Semana de Cultura do MST têm também muita animação. Todas as noites artistas populares e da Reforma Agrária mostram na prática algumas experiências do processo de construção dessa nova cultura, que se recusa a ser instrumento de dominação e alienação, mas que quer, ao contrário, ser instrumento de transformação.
São apresentações musicais, teatrais, folclóricas, recitais de poesia e saraus. Ontem a noite foi também de homenagem. Riba do Vale, filho do cantor e compositor maranhense João do Vale, foi homenageado pelos trabalhadores rurais Sem Terra em um tributo a seu pai.
O compositor, que nasceu no interior do Maranhão e cantou as dificuldades da vida de sertanejo pobre, teve suas musicas cantadas por artistas que também conhecem bem a realidade da qual João fez poesia.
A Semana de Cultura Brasileira e Reforma Agrária está acontecendo no Centro Cultural Tancredo Neves – CENTUR, e todas as atividades são abertas ao publico e com entrada franca.