Ocupando o latifúndio do ar

Há um ano, o MST rompia mais uma cerca: a do latifúndio da comunicação. No dia 23 de novembro de 2007, em Madalena, cidade localizada a 180 km de Fortaleza, a voz dos Sem Terra passou a ter mais um instrumento para difundir nossas lutas, nossa história. Estava no ar a rádio 25 de Maio FM – 95,3, primeira rádio comunitária do Movimento no Ceará.

Antes de possuir um veículo próprio, o setor de comunicação do MST- CE desenvolvia uma parceria com oito rádios no interior do Estado, nas quais realizava programas do Movimento. No entanto, era preciso mais. Sabendo da experiência de outros estados, onde já existiam rádios do próprio Movimento, veio a vontade de também realizar aqui nossa própria comunicação. Como afirma a coordenadora do setor de Comunicação, Juventude e Cultura do MST-CE, Joyce Ramos, “a comunicação tem o papel de educar, formar, mobilizar. Mas esse papel de formar e mobilizar estão voltados para um determinado objetivo: fortalecer a luta e prol de uma causa, que é a transformação social”.

A concretização desse desejo pôde ocorrer com o auxílio de Raúl Fernandez, engenheiro de Telecomunicações, que manifestou à direção nacional do MST o interesse de colaborar com o movimento na montagem de uma rádio comunitária. Tendo em vista o desenvolvimento da comunicação no Ceará, decidiu-se que este seria o estado a receber o projeto. A escolha do assentamento não poderia ser mais simbólica: a primeira rádio foi instalada onde, há quase 20 anos, foi firmado o primeiro assentamento do estado. Raúl conta que, no início, foi preciso enfrentar muitas dificuldades, mas com a participação da comunidade e “com muito trabalho e vontade”, a rádio foi ao ar.

Durante toda a semana, programas musicais, esportivos e informativos, como o “Reforma Agrária em Debate”, compõem a diversificada programação da rádio 25 de Maio FM. Os Sem Terrinha também participam dessa experiência. Aos domingos, vai ao ar o “Sem Terrinha em Ação”, feito pelas próprias crianças, bem como o “Cantoria”, destinado à divulgação da música dos nossos artistas. Bem como as demais atividades do assentamento, a rádio é pensada e realizada de forma coletiva.

Ao longo desse ano, fizemos uma comunicação diferente, educativa, comprometida com a transformação social, pois, como afirma Joyce, “Enquanto a comunicação burguesa concentra, a comunicação popular busca justamente o contrário, a socialização, a divulgação da informação, mas não qualquer informação, e sim aquela que sirva para construir, transformar”.

Continuamos a ocupar, resistir e produzir

Celebrando um ano da nossa primeira rádio, o MST-CE deu mais um passo na luta pela democratização da comunicação: foi inaugurada na semana passada a rádio Lagoa do Mineiro FM, na cidade de Itarema.