Vinte e cinco anos de lutas
Editorial do Jornal Sem Terra
No próximo mês de janeiro, completamos 25 anos de existência. Neste um quarto de século vivido, fomos testemunhas de profundas transformações na economia e na vida dos povos de todo o mundo. A crise dos países dito “socialistas” do Leste Europeu, o fim da União Soviética e a derrota de revoluções na Nicarágua e em El Salvador deram início a um período de refluxo das lutas de massas e de retrocesso programático da esquerda em todo o mundo.
Era o começo da era neoliberal, onde os seres humanos valiam muito pouco diante dos humores e desejos do Mercado. O Mercado “acordava mal-humorado”, cresciam dívidas externas, faliam países.
O Estado deveria ser reduzido ao mínimo, sem serviços sociais, sem investimentos, sem empresas… A mercadoria parecia ter vida e os seres humanos é que eram mercantilizados. Talvez o melhor símbolo do neoliberalismo esteja na fronteira entre os Estados Unidos e o México, onde as empresas e produtos podem ultrapassar as fronteiras com liberdade, mas os seres humanos são recebidos a bala.
No campo, estas mudanças deram origem ao que chamamos hoje de agronegócio. Grandes empresas ligadas aos bancos internacionais passaram a controlar toda a cadeia produtiva – desde as sementes até a comercialização -, serviços que pertenciam ao Estado, como a pesquisa, a assistência técnica, a regulação do comércio agrícola e o armazenamento foram privatizados ou deixaram de existir.
Para a Reforma Agrária, estas mudanças significaram o total abandono do capitalismo pela democratização do acesso a terra. Aquela Reforma Agrária clássica, que estimulava o mercado interno e a produção, perdeu o sentido para os capitalistas. E se não há espaço para a Reforma Agrária neste modelo, não há espaço também para os pobres do campo que lutam por ela.
Assim, em 2008, compreendemos o significado desta decisão do capital. O governo federal abandonou qualquer possibilidade de fazer a Reforma Agrária, a lentidão do Incra e a falta de vontade política do governo Lula serviram como sinal verde para que os setores mais violentos do latifúndio e mais atrasados do poder judiciário articulassem uma poderosa campanha de criminalização dos movimentos.
Vinte e cinco anos depois, mais do que nunca, temos a convicção de que única Reforma Agrária possível é uma Reforma Agrária popular, obra do povo e para os interesses do próprio povo. E reafirmamos os mesmo compromissos que assumimos em Cascavel (PR), nos idos de janeiro de 1984: lutar pela terra, pela Reforma Agrária e por uma sociedade mais justa e igualitária.
Porém, os próximos anos poderão abrir um novo cenário na luta de massas dos trabalhadores. Nos últimos meses temos visto a velocidade com que o projeto neoliberal tem implorado o apoio do Estado para socializar os prejuízos e garantir os lucros.
A ladainha de que o Mercado resolveria os problemas da humanidade acabou. E grandes investimentos do agronegócio – como os desertos verdes da Aracruz e Votorantim ou a integração da Sadia – agora começam a falir, fruto do seu próprio modelo.
Isto não significa que este modelo está completamente derrotado. As fusões de grandes bancos e empresas têm demonstrado que os setores mais fortes do Capital continuarão sobrevivendo e engolindo os menores, como é da natureza do capitalismo.
Mas este momento de fragilidade, se transformado em bandeiras de luta e mobilizações de massa, poderá ser uma oportunidade histórica para a classe trabalhadora. Não haverá maneira e lugar melhores para comemorarmos nossos 25 anos que com lutas nas ruas e ocupações de latifúndios!
Coordenação Nacional do MST