Policiais militares atuam em milícias armadas

A fazenda Consulta, em São Joaquim do Monte, onde ocorreu o conflito que resultou nas mortes de quatro pistoleiros contratados pelos proprietários da Fazenda Jabuticaba, também estava sendo “protegida” por milícias armadas ilegais.

Desde o último dia 19/02, quando as famílias Sem Terra foram despejadas da área pela Polícia Militar, os proprietários da fazenda Consulta contrataram um grupo armado de quatro pessoas para impedir que as famílias retornassem à área e retomassem a produção agropecuária, iniciada por eles em 2002.

Entre os pistoleiros estavam dois Policiais Militares: o soldado Gercino João de Oliveira e José Milton da Silva, presentes durante o conflito e responsáveis por recolher as armas dos pistoleiros.

Apesar de ilegal, a atuação de policiais militares em milícias armadas no campo é comum e tem sido motivo de vários conflitos com agricultores Sem Terra. Em 2008, oito pistoleiros, entre eles policiais
militares, cercaram o acampamento do MST na fazenda Passarinho, em Lagoa Grande, Sertão de Pernambuco. Na época o fato foi denunciado ao Governo do Estado, ao Ministério Publico de Pernambuco e à Ouvidoria Agrária Nacional.

Em 2007 o MST protocolou uma denúncia no Ministério Público sobre a existência de milícias armadas no Paraná. Segundo a denúncia, pelo menos 13 policiais fazem parte de um grupo armado encarregado da “segurança” de fazendas da região. Dois anos antes oito soldados da Polícia Militar do Paraná foram presos acusados de atuarem como uma milícia armada de latifundiários, responsável por desocupações ilegais de propriedades rurais e agressões contra trabalhadores sem terra.

Nota de esclarecimento sobre os acontecimentos em PE

1– Nesses 25 anos de luta pela Reforma Agrária, o MST repudia a violência como solução para os conflitos no campo. Nós, como muitos outros movimentos sociais do país, fomos historicamente vítimas da violência da reação do latifúndio e do agronegócio. Segundo dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra), de 1985 a 2007, foram cerca de 1500 assassinatos de trabalhadores rurais, muitos deles mortos enquanto defendiam seu direito à terra.

2 – O caso recente de Pernambuco é um exemplo de ação em legítima defesa, a que os trabalhadores tiveram de recorrer para evitar mais um massacre. Pistoleiros e milícias armadas rondavam dois acampamentos – nas fazendas Jabuticaba e Consulta – desde sábado (21/02), conforme comprovam fotos e denúncias feitas à Polícia Militar. Os pistoleiros entraram armados no acampamento Consulta, depois de reocupado pelas famílias, e passaram a agredir um trabalhador, até levá-lo ao chão. Um dos pistoleiros chegou a sacar uma arma para atirar, e foi nesse momento que os acampados reagiram, em legítima defesa. No desfecho da situação, quatro pistoleiros morreram e um trabalhador foi baleado. A Polícia Militar foi chamada para registrar a tentativa de massacre, e prendeu dois Sem Terra sem averiguar a denúncia feita pelas famílias. Hoje, esses trabalhadores e trabalhadoras estão sendo permanentemente ameaçados por parte das milícias armadas da região.

3 – Solicitamos a defesa da vida das famílias acampadas e a desapropriação imediata das duas fazendas, que, conforme já comprovou o Incra, são improdutivas e não cumprem sua função social.

4 – O MST reafirma seu compromisso de luta por uma Reforma Agrária ampla e massiva, que possa de fato resolver os conflitos no campo, através da desconcentração da propriedade da terra, garantindo a milhares de famílias Sem Terra seu sustento e a produção de alimentos para a sociedade brasileira.

Saiba mais:

Famílias são ameaçadas por pistoleiros em Pernambuco
24/02/2009 – Conflito envolvendo as fazendas Consulta e Jabuticaba – onde nesta semana quatro pistoleiros foram mortos – ocorre desde o ano 2000. De lá pra cá foram vários os despejos realizados pela polícia militar e as ameaças permanentes por parte de milícias armadas.