Trabalhadores rurais vítimas de aliciamento acabam na cadeia

Doze trabalhadores vítimas de aliciamento de trabalho continuam presos sob acusação de dano ao patrimônio, formação de quadrilha e ameaça. Eles foram encaminhados para o presídio de segurança máxima Baldomero Cavalcanti e até então não têm nenhuma perspectiva de serem indenizados, terem seu dinheiro devolvido ou suas carteiras de trabalho de volta.

Uma manifestação envolvendo mais de 800 trabalhadores aliciados por José Ferreira Lins Filho e Cícero Gomes dos Santos tomou as ruas de Matriz de Camaragibe no dia 31 de março. Os “gatos” (como são conhecidos os atravessadores de mão-de-obra para o corte da cana-de-açúcar em outros Estados) haviam sido presos, mas após firmarem juízo a devolução dos mais de R$ 120 mil com as respectivas carteiras de trabalho e pagarem fiança, trataram de se foragir da justiça.

Numa ação desesperada, os trabalhadores rurais que vinham de diversas regiões de Alagoas e do sul de Pernambuco provocaram danos a propriedades no centro de Matriz de Camaragibe, atingindo principalmente o Fórum de Justiça Desembargador Paulo de Albuquerque. Mesmo com toda a pressão, não há nenhum sinal de resolução para retribuir as perdas dos trabalhadores. Muitos deles deixaram seus empregos, sem resgatar o FGTS para cair no golpe de Ferreira e Gomes.

A prática identificada no litoral Norte alagoano configura mais uma prática conivente com o trabalho escravo, ainda presente no campo brasileiro. O agronegócio da cana-de-açúcar é responsável por 19% do trabalho escravo encontrado hoje, segundo dados do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da Ong Repórter Social. Um dado que está devidamente apagado ou oculto é quem seria o contratante, o dono da Usina que receberia os trabalhadores para se aprisionarem por mais uma safra.

Para entender melhor sobre as práticas de aliciamento e de trabalho em regime de escravidão em Alagoas e no Centro-Oeste, assista ao filme “Tabuleiro de cana, Xadrez de cativeiro”, produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT-AL) e disponível em: http://www.cptpe.org.br/modules.php?name=Downloads&d_op=getit&lid=100