Trabalhadores da Vale protestam contra anúncio de demissões
Na última sexta-feira (29/5), a mineradora Vale confirmou que vai demitir 250 a 300 funcionários a partir de junho. De acordo com a empresa, os trabalhadores que a serem desligados são aposentados que ainda continuam trabalhando ou empregados próximos da aposentadoria. A Vale também disse que as demissões vão acontecer em unidades de todo o país.
Enquanto a empresa justifica as demissões com as quedas na produção, em razão da crise econômica mundial, os trabalhadores reclamam do valor do pagamento dos acionistas da empresa aprovado para este ano. Em assembléia geral, o montante foi definido em R$ 5,7 bilhões, mesmo valor de 2008. O lucro líquido da Vale no primeiro trimestre deste ano foi de aproximadamente R$ 3,2 bilhões.
Na segunda-feira (1/6), os trabalhadores da empresa que atuam em Minas Gerais divulgaram uma carta entregue ao presidente Lula e ao governador Aécio Neves. A carta denuncia a situação de abandono em que se encontram os projetos da Vale no estado e os funcionários mineiros. Leia a seguir:
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE LULA E AO GOVERNADOR AÉCIO NEVES
Excelentíssimos Senhores.
Hoje, a Vale está completando 67 anos, sendo 12 anos nas mãos de empresários privados. Neste aniversário, reina a intranqüilidade nos lares e nos municípios mineradores.
Desde outubro, quando se iniciou a crise, a Vale já demitiu cerca de 1.500 trabalhadores diretos e 12 mil terceirizados. Agora, diz que não fará demissões massivas, mas se recusa a garantir a estabilidade.
A angústia dos trabalhadores aumentou com o corte dos investimentos da empresa em 2009, que caiu de 14 para 9 bilhões de dólares. Significa menos investimentos com funcionários, menos impostos para as cidades mineradoras e menos investimentos no Brasil.
Os maiores projetos de investimentos estão no exterior e somente 0,1% dos investimentos serão destinados a Minas Gerais (projeto Apolo, no valor de nove milhões de dólares).
A Vale iniciou um paulatino abandono de Minas Gerais, dando as costas a quem lhe deu guarida e riqueza: os trabalhadores e as cidades mineradoras, principalmente Itabira, que foi o berço da Vale, em 1942. A empresa cortou a produção de minério de ferro em 37% no primeiro trimestre de 2009, sendo que 80% do corte se realizou em MG, com o fechamento de quatro minas e diminuição drástica da produção nas 23 minas restantes.
Segundo dados do DNPM, os municípios mineradores perderam, em média, 23% das receitas no primeiro trimestre de 2009.
A Vale é a maior empresa exportadora do Estado e é responsável, sozinha, por 26% das exportações de MG em 2008. Além disso, a Vale foi responsável por 65,2% do superávit da balança comercial brasileira em 2008.
A empresa não necessitava fazer demissões e muito menos cortar investimentos, pois como afirma o próprio diretor presidente da Vale, Sr. Roger Agnelli: “Financeiramente, a situação da empresa está muito boa”. A Vale é uma das empresas mais rentáveis do mundo, bateu recordes de lucros nos últimos seis anos e tem caixa para pagar seus funcionários por vários anos.
Apesar de cortar investimentos e demitir funcionários, a empresa manteve inalterado o pagamento de 2,5 bilhões de dólares aos acionistas em 2009. Hoje, 70% das ações da Vale estão em mãos de grandes bancos americanos como o Citibank, J.P. Morgan, Morgan Stanley e mais uma centena de fundos de investimentos.
Apesar da crise, se manteve, em 2009, o pagamento de R$ 70 milhões aos seus diretores executivos, que ganham cada um deles, R$ 13 milhões por ano, oito vezes mais que o Presidente da República.
Desde dezembro de 2008, a empresa já gastou cerca de R$ 4,8 bilhões de reais adquirindo minas na Colômbia, Argentina, África, Canadá e Brasil.
Dada a gravidade da situação e a possibilidade da Vale demitir milhares de trabalhadores em um futuro próximo, pedimos urgência na adoção das seguintes medidas concretas:
Que Vossas Senhorias adotem, imediatamente, ações que garantam a estabilidade no emprego para os trabalhadores da Vale e das empresas contratadas;
Que Vossas Senhorias adotem medidas compensatórias, exigindo contrapartidas em investimentos da Vale, nos municípios mineradores, como forma de compensar a queda de arrecadação;
Que a União, através do Presidente da República, utilize seu poder de veto na Vale (como possuidor de 12 ações Golden Share) e proíba as demissões massivas na empresa, garanta a reabertura das minas fechadas, assim como a readmissão dos demitidos.
Solicitar ao Presidente da República que, caso a Vale venha a demitir massivamente, destruindo o patrimônio nacional para garantir os lucros de seus acionistas estrangeiros, o governo reestatize a empresa, sem indenização e sob controle dos trabalhadores e da comunidade.
Minas Gerais, 1º de junho de 2009.
Paulo Soares, Sindicato Metabase de Itabira e Região
Valério Vieira, Sindicato Metabase de Congonhas/Ouro Preto
(Com informações da Radioagência NP)