MST lança CD de música sobre a agroecologia
Durante a noite cultural da 8ª Jornada de Agroecologia, no dia 29/05, em Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, os militantes da Frente de Música do Setor de Comunicação e Cultura do MST realizaram o lançamento do CD Agroecologia em Movimento: Canções da Natureza.
O CD traz 15 músicas inéditas, com composições próprias dos cantadores e cantadoras do MST, sobre a temática da agroecologia, que alertam para a necessidade da diversidade dos alimentos, sem uso de agrotóxicos e adubos químicos e o respeito à natureza. O trabalho também denuncia os transgênicos e o modelo de morte do agronegócio e das transnacionais.
O responsável pela frente de música no estado, Levi de Souza, conta que o objetivo é provocar uma reflexão sobre o modo de produção da agricultura e da existência no planeta, demonstrando a necessidade de construção de um modelo de produção com alimentos saudáveis e respeito à biodiversidade, como é a agroecologia. “As músicas contemplam a resistência dos camponeses na roça e denunciam a malvadeza das empresas estrangeiras, como diz uma das canções, e a exploração do latifúndio”, conta.
A peça conta com músicas de gêneros musicais variados como xote, bugio, samba, moda de viola, guarânia, reggae e balada. A gravação também contribui para a promoção da cultura camponesa e troca de conhecimento entre os músicos lutadores. “O CD exerce um grande papel no resgate e na preservação da cultura camponesa, e ajuda a suprir os anseios da juventude do campo por outros gêneros musicais. Além de possibilitar a troca de experiências, saberes culturais, e gêneros
musicais, melhorando a capacitação técnica e política dos cantadores do MST”, afirma Souza.
No modelo de desenvolvimento atual, as relações sociais, pessoais, inclusive culturais giram em torno da mercadoria. Levi afirma que com a música não é diferente. “No capitalismo, onde até a música se tornou mercadoria, tentamos refletir no CD, que nossa música tem que ser libertadora, trazer presente a nossa realidade: um camponês falando para outro camponês dos seus sonhos, denunciando as injustiças contra o ser humano e contra a natureza”, relata.
A música e as várias formas de artes têm a capacidade de tocar as pessoas, no sentido da consolidação do que estão praticando no dia-a-dia e da cultura desses indivíduos. Para a engenheira agrônoma Ceres Hadich, quando os sujeitos participam do processo de construção da sua própria cultura, se tornam autônomos e enriquecerem a sua própria vivência, como
é o caso do CD com cantadores ligados à terra, cantando a agroecologia. “Ter nossa própria música é uma questão de soberania cultural para não sermos um povo dependente e dominado por outra cultura”, salienta.
A gravação do CD Agroecologia em Movimento foi realizada através do Projeto Águas em Movimento, patrocinado pelo Programa Petrobras Ambiental, da Petrobras.
Os assentamentos e acampamentos do MST contam com uma grande diversidade cultural, dentre as quais a música é uma das que mais se destaca, é através dela as famílias se reúnem para compartilhar suas prosas, contos e causos, e realizar as tradicionais comemorações comunitárias. Segundo Levi, a partir da compreensão dessa realidade, sentiu-se a necessidade de criar momentos onde os cantadores e poetas populares pudessem se encontrar para trocar experiências, capacitando tecnicamente e politicamente todos, para que contribuam com as comunidades onde vivem.
O mais importante na produção do CD foi o método coletivo de construção, que demonstrou o potencial na área da cultura nos acampamentos e assentamentos, demonstrando que muitas pessoas só necessitam de oportunidade, destaca Ceres. “Com um processo coletivo, associado ao projeto de luta do MST a produção musical com ritmos diversos, composições e com conteúdo político contribui como uma ferramenta de diálogo com o camponês e a sociedade. O que qualifica o
processo de luta da classe trabalhadora”, garante.
O processo de gravação foi realizado a partir de uma criação coletiva de cerca de 25 cantadores, com duas oficinas de capacitação em composição, teoria musical, arranjos e harmonia, e muito ensaio.
A frente de música do setor de comunicação e cultura do Paraná tinha um acúmulo na realização de oficinas de músic e, em 2006, gravou o primeiro CD de música, chamado Reflexos da Terra, com a participação de vários artistas de várias regiões.