Militante do MST recebe prêmio Margarida Alves
A militante do setor de gênero do MST Lourdes Vicente recebeu, nesta quarta-feira (24/06), o Prêmio Margarida Alves de Estudos Rurais e Gênero, realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com o objetivo de estimular a produção de pesquisas no meio rural.
O trabalho da Sem Terra, intitulado “A construção da identidade de gênero das crianças sem terra”, ficou em segundo lugar na modalidade Ensaio Acadêmico – voltada a estudantes de cursos de graduação ou recém-formados.
Lourdes, que desenvolveu a pesquisa durante a conclusão do curso de Pedagogia da Terra da Universidade Federal do Pará (UFPA), investigou a experiência de um grupo de oito Sem Terrinha, assentados no município de Chorozinho (CE), que construíram barracos de lona no assentamento para torná-los espaços próprios e de leituras, discussões e brincadeiras.
A pesquisadora relacionou as formas de convivência entre as crianças (como a divisão igualitária de tarefas, a preferência por práticas coletivas e a inclusão de crianças mais novas no grupo) à sua formação enquanto sujeitos autônomos dentro do assentamento, e concluiu que a luta pela terra ajuda a superar a opressão de gênero também na infância. “Penso que a pesquisa se destaca pelo seu ineditismo, porque geralmente ninguém se interessa em investigar como se constrói a identidade de gênero na infância. Esta também é uma forma de divulgar o que alguns assentamentos do MST têm feito de interessante, de novo”, comenta Lourdes.
Para Clarice dos Santos, coordenadora do Pronera, a premiação de um trabalho oriundo do curso de Pedagogia da Terra possui um duplo significado. “Participar do prêmio já representa o reconhecimento e a legitimidade de uma experiência específica diferenciada de educação que é realizada em parceria com as universidades. E ter um trabalho premiado, que reflete as questões de gênero relacionadas, em particular, com as questões da educação infantil, contribui imensamente para o debate que estamos promovendo dentro das universidades a respeito da vida das pessoas nos assentamentos, especialmente das mulheres”, assinala.
Para esta edição do prêmio, nove ensaios foram enviados, provenientes de estudantes de nove instituições de ensino superior e sete cursos. A Comissão Julgadora foi composta pelas professoras Ellen Woortmam, da Universidade de Brasília (UnB); Anita Brumer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Maria Isabel Antunes da Rocha e Neuma Aguiar, ambas da UFMG; e Gema Galgani, da Universidade Federal do Ceará (UFC). A autora receberá como prêmio R$ 2.500,00.
A premiação aconteceu durante o II Encontro Nacional Pensando Gênero e Ciências, que ocorre em Brasília (DF) nesta semana. O Encontro reúne núcleos e grupos de pesquisa e é promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/PR), em conjunto com o MDA e outras instituições parceiras.
Homenagem
O Prêmio é uma homenagem a Margarida Maria Alves (1943-1983), militante que presidiu durante doze anos o Sindicato Rural de Alagoa Grande, em Pernambuco. Margarida foi brutalmente assassinada em razão de sua vigorosa atuação em defesa da reforma agrária e contra a exploração e a subordinação feminina, em crime que até o momento permanece impune.
O Prêmio é realizado pelo MDA, por meio do Ppigre, do Nead, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), através da Coordenação-Geral de Educação do Campo e Cidadania, e em parceria com a SPM/PR, Associação Brasileira de Antropologia (Aba), Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e movimentos sociais.
(Com informações do site do MDA)