Salvador Allende
O sonho de uma sociedade igualitária se fez real no Chile quando, em 1970, Salvador Allende venceu as eleições presidenciais no país. Sua vitória significou a implantação do mais democrático regime político da América Latina, até então. Um governo efetivamente popular que tinha o objetivo de promover profundas transformações sociais no país e oferecer aos seus cidadãos condições dignas de vida. Para isso, as primeiras medidas englobaram itens como uma previdência para todos, atendimento médico, a independência ao Fundo Monetário Internacional, a nacionalização das indústrias e uma efetiva Reforma Agrária.
Todas estas medidas, a favor do povo chileno, não agradou a elite reacionária do Chile, tampouco aos Estados Unidos. Em 11 de setembro de 1973, o país sofre o golpe militar, tendo Augusto Pinochet, então Ministro das Armas, como um dos principais líderes. Começava uma das mais sangrentas ditaduras militares presenciadas em toda a América do Sul, que resultou na morte de mais de 3 mil pessoas. O presidente Salvador Allende é covardemente assassinado no Palácio de la Moneda.
Uma vida política em nome das transformações sociais
Médico de formação, Allende nasceu em 26 de junho de 1908, na cidade de Valparaíso. Em 1926 ingressa na universidade, onde se torna presidente do Centro de Alunos de Medicina e organiza um grupo de estudos, junto com outros colegas, so bre marxismo. Já em 1930 participa ativamente da luta contra a ditadura de Carlos Ibañes, como vice-presidente da Federação de Estudantes do Chile.
Um dos fundadores do Partido Socialista, é exilado em 1935 por fazer dura oposição ao governo conservador de Ibañes. Quando retorna a Valparaíso, em 1936, participa da criação da Frente Popular, sendo eleito para seu primeiro cargo público: deputado por Valparaíso e Aconcágua, no Congresso Nacional Chileno.Em 1940, conhece Hortênsia Bussi, com quem se casa e tem três filhas: Laura, María Isabel e Beatriz.
Em 1959, Allende inicia sua aproximação com os países socialistas. Visita Havana, com o intuito de conhecer o processo revolucionário cubano e se encontra com Fidel Castro e Che Guevara. Em 1964, visita Coréia, Vietnã e União Soviética, pelo aniversário de 50 anos da Revolução Russa.
Mas é em 1969 que Allende participa da formação da Unidade Popular, que reúne comunistas, socialistas, Movimento de Ação Popular Unitária e Ação Popular Independente. O poeta e ganhador do prêmio Nobel de Literatura, Pablo Neruda, candidato à presidência pelo Partido Comunista, abandona sua candidatura para unir-se a Allende e garantir a sua vitória.
Imperialismo não aceita vitória de Allende
A eleição de Salvador Allende provocou a ira dos setores reacionários do Chile, que contaram com o irrestrito apoio dos Estados Unidos, através da CIA.Desta forma, desenvolveram formas de boicote ao governo, como greves de setores vitais, como o transporte. Desta forma, itens de primeira necessidade como alimentos, não chegavam às cidades. A classe média burguesa, que se opunha ao regime popular de Allende, passou a estocar produtos para criar um falso clima de desabastecimento no país.
Os Estados Unidos tiveram seus interesses prejudicados com a eleição de Allende para a presidência do Chile, porque ela significou uma enorme barreira para a Operação Condor, planejada para conter os movimentos de resistência às ditaduras militares que se espalhavam pelos países da América Latina nas décadas de 60 e 70. A Argentina e o Brasil foram exemplos destas ditaduras.
Dia cinza para o Chile e para o mundo
Em 11 de setembro de 1973, tanques e tropas militares circulam pelas ruas de Santiago. Aviões fazem vôos rasantes no céu. No rádio, hinos militares. Estava instaurado o golpe militar, que resultaria numa ditadura de 17 anos para o povo chileno. Na manhã deste dia, direto do Palácio de la Moneda, Salvador Allende faz um emocionado discurso aos cidadãos chilenos. Era a última vez que eles o ouviriam: ”Trabalhadores da minha pátria: quero lhes agradecer a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que somente foi o interpréte dos grandes anseios de justiça. Estou me dirigindo, sobretudo, à modesta mulher da nossa terra, à camponesa que acreditou em nós. Dirigo-me ao homem do Chile, ao operário, àqueles que cantaram, que entregaram sua alegria e seu espírito de luta”, disse Allende. Os generais pressionavam para que o presidente renunciasse ao seu cargo, mas ele se negou: ”Pagarei com a minha vida a defesa dos princípios que são caros a esta Pátria”. Armado com fuzil soviético e um capacete dos trabalhadores mineiros, Allende não sucumbiu, permaneceu em combate até a destruição total do Palácio de La Moneda. Lá, defendendo seus ideais, foi assassinado pelas tropas de Pinochet.
O sonho de Salvador Allende não morreu. Ele permanece vivo em cada pessoa que luta por uma sociedade justa para todos. Seus ideais seguem nas mentes dos militantes sociais que vão às ruas reivindicarem seus direitos. Allende é um marco na história da América Latina porque mostrou que é possível a existência de um governo popular que atenda às necessidades de seus cidadãos.