Ameaça de CPI é reação à mudança de índice de produtividade
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) considera que a iniciativa da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) de criar uma CPI para investigar o movimento é uma reação às mudanças nos índices de produtividade rural. A sequência de acusações na mídia tem a mesma origem, segundo os ativistas. O movimento afirma não temer investigações
“Estamos muito tranquilos e não temos nada a temer, porque já fomos investigados em duas CPIs e nada foi encontrado”, sustenta Vanderlei Martini, da coordenação do MST, por e-mail. “A própria Katia Abreu deixou claro que está fazendo uma chantagem para impedir as mudanças nos índices”, prossegue.
Os índices de produtividade são utilizados como parâmetro pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para desapropriação de terras. A revisão de cálculo do índice era uma reivindicação dos agricultores e consta de portaria interministerial assinada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
Para a secretaria nacional, não existe “motivo concreto para investigações ou CPIs” e a intenção é promover “chantagem política”. O movimento havia negado, em nota, ter recebido ou usado dinheiro público para ações de ocupação, protesto ou marcha.
Na semana passada, a presidente da Confederação a Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu declarou já ter o apoio de 29 colegas para a instalação de CPI para investigar o MST – 27 seriam necessárias. O pedido se baseia em reportagens publicadas pela revista Veja, na edição 2.128, sobre convênios de associações e cooperativas com o poder público e organizações internacionais.
Não é a primeira vez que o movimento é alvo de um ataque da revista Veja. Em junho de 1998, João Pedro Stedile apareceu na capa da publicação com a chamada “A esquerda com raiva”. Em reportagens sem tanto destaque, o movimento é tratado como criminoso pela publicação.
Para Martini, a revista Veja representa o pensamento dos setores mais conversadores da sociedade. “Atacam nosso movimento como atacam os direitos trabalhistas, a previdência social, a universidade pública, os quilombolas, as cotas para negros, as demarcações de terras indígenas. Ou seja, atacam todos os avanços que a democracia garantiu para a nossa sociedade”, sustenta.
Por isso, não há previsão de ações judiciais contra a publicação, nem expectativa de publicação de correções. “Não esperamos nada da revista Veja. Apenas fizemos os esclarecimentos à sociedade e ponto”, conclui.