Por que temos que ingerir mais venenos?

Por Reinaldo Onofre Skalisz Primeiro, foi o aumento em 50 vezes da quantidade de resíduo de glifosato, que pode permanecer nos grãos de soja, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esta decisão foi tomada para ser liberado no Brasil o plantio e o consumo da soja transgênica.

Por Reinaldo Onofre Skalisz

Primeiro, foi o aumento em 50 vezes da quantidade de resíduo de glifosato, que pode permanecer nos grãos de soja, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esta decisão foi tomada para ser liberado no Brasil o plantio e o consumo da soja transgênica.

Na soja não-transgênica (convencional) só era permitida a quantidade de 0,2 mg/kg de glifosato, mas dificilmente era encontrado o resíduo deste veneno, pois o uso do mesmo na soja convencional é feito antes do plantio, portanto, não entra em contato com a planta, como também o produto não é absorvido pelas raízes.

Mas, com a introdução da soja transgênica, a Anvisa aumentou para 10mg/kg a quantidade de glifosato, que pode permanecer nos grãos, pois este agrotóxico é utilizado para exterminar as plantas daninhas até 56 dias antes da colheita. Quando é utilizado o agrotóxico atinge também as folhas da soja e é absorvido, passando a circular no interior da planta, chegando também aos grãos.

Em análises laboratoriais, constatou-se que mais de 60% das amostras de soja transgênica apresentaram resíduos de glifosato, dentro dos limites estabelecidos pela Anvisa. Em algumas amostras, a presença desse agrotóxico apresentou-se acima do permitido. Na soja convencional, isto não acontece.

A Anvisa publicou no Diário Oficial da União, no dia 29 de julho de 2009, uma Consulta Pública, ficando aberto o prazo de 30 dias para que sejam apresentadas críticas e sugestões relativas à proposta de aumentar a quantidade máxima de resíduo de glifosato, de 0,1mg/kg para o milho convencional, hoje, para 1,0 mg/kg de milho transgênico e convencional.

Mais uma vez, aumenta-se o nível de resíduo para se liberar o glifosato, agora para uso no milho transgênico.

Para se ter uma idéia da potência deste veneno, damos como exemplo o que significa 0,1 mg/kg – é como se comparássemos a décima parte de um milímetro, numa régua, com um quilômetro de comprimento.

Será que o ser humano e os animais estão se tornando resistentes ao glifosato, como as plantas daninhas estão?

Será que vamos poder nos alimentar com milho verde e outros derivados, do milho transgênico, tranqüilamente? Ou vamos entrar nas estatísticas dos intoxicados?

Será que as aves e os animais poderão se alimentar com um milho e seus derivados transgênicos?

Quando a Anvisa vai divulgar o resultado das reuniões realizadas nos dias 6 a 9 de maio de 2008 (data publicada na Resolução RDC n° 10, de 22 de fevereiro de 2008), que teve como assunto a discussão dos relatos de intoxicação ocupacional e acidental, a solicitação de revisão da dose estabelecida para a Ingestão Diária Aceitável (IDA) por parte de empresa registrante, a necessidade de controle de limite máximo de impurezas presentes no produto técnico e possíveis efeitos toxicológicos adversos, do glifosato?

Como poderemos apresentar sugestões ou críticas à Consulta Pública, se a única informação que foi publicada no Diário Oficial da União é a de que vai ser aumentado o Limite Máximo de Resíduo para 1,0 mg/kg para incluir milho transgênico? Não cita nem o nome da empresa solicitante.Suspeitamos que seja a Monsanto.

E os documentos e as justificativas apresentados pela empresa para avaliação, estão à disposição do público? Por que não se fazer uma Audiência Pública com a apresentação dos documentos?
Continuaremos na interrogação e forçosamente iremos ingerir mais venenos.

*Reinaldo Onofre Skalisz é engenheiro agrônomo e membro da Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária (Amar)