A monocultura que vai terminar na pobreza
Por Paulo Mendes Filho
Uma cidade, Encruzilhada do Sul. Uma monocultura, eucaliptos. Uma situação insustentável. Miséria, favelas, pobreza e desilusão que tende a piorar. Basta conhecer, observar e conversar com as pessoas, com os agricultores e as agricultoras familiares do município para perceber o que está em curso.
A monocultura dos eucaliptos modificou a paisagem, a economia e principalmente a estrutura social do município. Indo lá, vendo e conversando, observamos que a invasão dos capitalistas está desequilibrando rapidamente a paisagem da região e a estrutura social e econômica da cidade.
Quem ainda não vendeu suas terrinhas e insiste em ficar, convive com as visitas dos desesperados animaizinhos que fogem da invasão. São mulitas, mão-pelada, gato-do-mato, ratões e capivaras famintos que devoram tudo que veem pela frente. As plantações, os maciços estão cada vez mais absorvendo a paisagem e desalojando tudo que ali existe. As matas ciliares estão cercadas e desprotegidas pela baixíssima possibilidade de alguém conferir se está dentro ou não da lei ambiental.
Falando em lei, a conversa é de que existem dois pesos e duas medidas. A dureza da lei ambiental para os agricultores e a moleza para os empresários da monocultura. Tudo remando a favor dos novos senhores da terra, da energia e da água. Tudo a favor para que os resistentes e teimosos agricultores tradicionais e os ecochatos abandonem suas terras e suas ideologias a favor do império.
O poder público propagandeando empregos de papel e sinalizando impostos que serão sonegados, apóia o projeto de olho nas contribuições de campanha. A adesão individual de alguns técnicos do poder público também é observada.
Uma invasão de poucos e grandes empresários que está sendo facilitada e apoiada estrategicamente pelo governo Yeda e por vários governantes municipais. Incentivando politicamente o plantio. Recebendo recursos das empresas. Facilitando créditos. Modificando o zoneamento ambiental da silvicultura. Desestruturando a Fepam e a Emater (Extensão Rural) e permitindo a prática do fato. Encontra-se em curso a maior ocupação de terra do Rio Grande do Sul por parte de um único grupo. Um verdadeiro império!
Uma verdadeira Encruzilhada ou quem sabe uma grande Cruzada rumo ao poder concentrado da energia, da água e da terra. É disso que estamos falando. A expansão de um único dono em mais de um milhão de hectares com a destruição de comunidades rurais, deslocamento de famílias inteiras para a favelação nas cidades e a concentração de poder. Esta nova situação vai influenciar por anos a vida da sociedade gaúcha. A mesma sociedade que é desrespeitosa com a luta de milhares pela Reforma Agrária abre as pernas para a invasão de uma única empresa que vai aumentar a violência das cidades.
A busca pela energia (pasta de celulose), a terra (poder estratégico) e água (Aquifero Guarani) faz com que a invasão tome conta de tudo rapidamente. Não há tempo a perder. Planta logo que o poder garante.
Em nossas barbas, está se estruturando o MAIOR IMPÉRIO do século XXI. Uma dominação que vai influenciar gerações futuras. Que vai excluir milhões de pessoas e vai concentrar poder e capital para poucos. Uma dominação sem precedentes que trará a insustentabilidade do nosso Estado.
* Paulo Mendes Filho é siretor do Semapi (Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do RS). Texto publicado originalmente na Agência Chasque