Usineiros: lucro de R$ 39 bilhões é pouco para garantir alimentação de trabalhadores

No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor sucroalcooleiro correspondeu a R$ 48,43 bilhões, valor equivalente à economia do Uruguai ou 1,5% do PIB nacional. Os dados fazem parte de um estudo feito pelo Centro de Pesquisa e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat), da USP.

No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor sucroalcooleiro correspondeu a R$ 48,43 bilhões, valor equivalente à economia do Uruguai ou 1,5% do PIB nacional. Os dados fazem parte de um estudo feito pelo Centro de Pesquisa e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat), da USP.

Segundo o estudo a cadeia produtiva sucroalcooleira somou R$ 150,19 bilhões. Desse total, 23% referem-se aos insumos agrícolas e à produção de cana-de-açúcar. Os gastos na construção e modernização de usinas somaram R$ 11 bilhões. Como resultado, mais 29 usinas iniciadas por volta de 2006 e concluídas no ano passado.

Somente o lucro das usinas com a comercialização de açúcar e etanol somou R$ 39,16 bilhões. A distribuição dos produtos responde por mais R$ 41 bilhões.

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, o Brasil deve fechar o ano de 2009 sendo responsável por 50% da exportação mundial de açúcar e nos próximos cinco anos, pode chegar aos 60%.

Os gordos valores e as pretensões do setor estão voltados principalmente para a alimentação dos tanques de automóveis. Hoje, o setor é responsável por mais de 50% do mercado de combustíveis consumido por automóveis. Segundo o estudo, estima-se que em 2015, 80% do combustível consumido por automóveis leves seja de etanol.

Para usineiros, pagar alimentação “é muito caro”

O setor que fatura bilhões se recusa a garantir os mínimos direitos trabalhistas. Em junho deste ano, durante uma reunião entre usineiros, trabalhadores e governo federal para a discussão de um termo de compromisso sobre a situação trabalhista nas lavouras canavieiras, representantes de grandes usinas se recusaram a fornecer alimentação e um piso salarial nacional para a categoria dos cortadores de cana.

À época, o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, tentou explicar o veto à proposta de oferecer comida aos cortadores, dizendo que “o sistema de alimentação é muito caro e tem uma logística complicadíssima”.

Existem ao todo cerca de 500 mil trabalhadores no corte de cana no país. O setor sucroalcooleiro – maior empregador de trabalho temporário, em especial para a colheita -, até o ano passado, costumava empregar em todo país cerca de 270 mil trabalhadores por safra. A partir de janeiro de 2009, foram empregados apenas 150 mil trabalhadores. Destes, 72 % receberam menos de dois salários mínimos (de 1 a 1,5 salário mínimo).

Nos últimos anos o setor também vem despontando no ranking de libertações de trabalhadores escravizados no país. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 2.553 trabalhadores deixaram a condição análoga à escravidão nas lavouras de cana-de-açúcar em 2008. O índice representa 49% do total de 5.244 trabalhadores encontrados nessas condições em 2008.

Além da escravidão contemporânea – o mais grave caso de violação dos direitos humanos verificado nas usinas -, as infrações encontradas pelos auditores do trabalho no setor sucroalcooleiro dizem respeito a problemas como a falta de instalações sanitárias adequadas e água potável, ausência de EPIs e outros tipos de irregularidades na gestão de saúde e segurança.