Seminário discute movimentos sociais e universidade
Nos próximos dias 5 e 6/11, a Associação de Professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), juntamente com MST e o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC), realiza o I° Seminário Movimentos Sociais e Universidade.
O evento acontece no auditório de Ciências Jurídicas do prédio da Santos Andrade da UFPR e contará com a presença de representantes de diversos movimentos sociais, do campo e da cidade. Durante o Seminário, serão discutidos o papel social da educação e a atualidade dos movimentos sociais no Brasil, frente às mudanças em curso. Serão
Nos próximos dias 5 e 6/11, a Associação de Professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), juntamente com MST e o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC), realiza o I° Seminário Movimentos Sociais e Universidade.
O evento acontece no auditório de Ciências Jurídicas do prédio da Santos Andrade da UFPR e contará com a presença de representantes de diversos movimentos sociais, do campo e da cidade. Durante o Seminário, serão discutidos o papel social da educação e a atualidade dos movimentos sociais no Brasil, frente às mudanças em curso. Serão
debatidas também ações de educação popular ligadas aos movimentos sociais que já ocorrem na UFPR, como projetos de extensão, ensino e pesquisa e núcleos de vivência.
A presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), Astrid Avila, conta que o projeto do Seminário surgiu a partir da constatação de que a Universidade conta com uma série de projetos que se destinam a fazer um trabalho em conjunto com os movimentos sociais, mas que não havia nenhuma relação ou troca de informação entre eles. “A importância do evento é justamente poder articular esses projetos entre si e criar um espaço também para descobrir quais são as demandas atuais que esses movimentos colocam para a Universidade”,
ressalta Astrid.
Para o presidente do Conselho de Representantes da APUFPR, Claudir José Daltoé, docente do setor de Ensino Profissional e Tecnológico (antiga Escola Técnica) e especialista em Educação do Campo e Agroecologia, a iniciativa de realizar o Seminário tem como mérito principal possibilitar a troca de diálogos entre a comunidade acadêmica e os movimentos sociais organizados. Segundo o professor, esse tipo de evento cria espaços de discussão onde os diferentes agentes sociais da educação pública, sejam trabalhadores do campo e da cidade, estudantes ou servidores públicos, reconstituem o ambiente ideal para o debate público no interior da Universidade. “A realização deste Seminário, construído pelo conjunto da classe trabalhadora organizada e pelos segmentos mais avançados e comprometidos da Universidade, possibilita a construção de projetos e propostas, mais integrados aos anseios populares, promovendo maior emancipação social”, destaca.
Alessandro Marino, do setor de educação do MST, também defende a importância do Seminário como um espaço de diálogo e troca de experiências. Ele explica que a educação tem um papel fundamental para os movimentos sociais na formação de indivíduos críticos e comprometidos com a construção de uma nova sociedade. Entretanto, apesar
da importância dada ao tema pelo movimento, as universidades são ainda um espaço distante da realidade social dessas organizações. “A universidade, enquanto instituição serve a um projeto, que não é o projeto da classe trabalhadora. Muitas vezes, ela funciona para afastar ainda mais as pessoas desse projeto, reproduzindo uma formação
acrítica”, acrescenta.
25 anos do MST
Além de incentivar a troca de experiências e articulação entre diferentes projetos da UFPR, a primeira edição do Seminário Movimentos Sociais e Universidade terá incluso o intento de comemorar os 25 anos de fundação do MST. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi fundado na cidade de Cascavel, oeste do Paraná, em 1984. A organização reúne milhares de trabalhadores rurais que decidiram fundar um movimento social camponês, autônomo, que tem como objetivo lutar pelo acesso a terra, pela reforma agrária e pelas transformações sociais que julgam
necessárias para o país.
Para comemorar o aniversário do MST, além dos debates e atividades promovidas no Seminário, está sendo realizada também uma exposição de fotos que relatam o histórico percorrido pelo movimento. As 25 fotos escolhidas retratam os grandes atos e marchas do MST, e mostram também as singularidades do cotidiano da vida nos acampamentos e assentamentos.
As fotografias em exposição são o registro de 25 anos de existência e de luta de um movimento social do campo. Contam as experiências, tristes e alegres, vividas pelo MST nesses anos: a abertura das porteiras das fazendas, os acampamentos de lona preta, os despejos violentos, os enfrentamentos com os jagunços e fazendeiros, mas também a experiência bem-sucedida das escolas itinerantes e dos assentamentos que produzem tendo como horizonte a agroecologia.
A exposição itinerante teve início na última sexta-feira (23/10) e deve percorrer nove setores da UFPR até o próximo dia 6 de novembro, quando será realizado o encerramento da atividade juntamente com o Seminário.
Veja a exposição fotográfica – MST 25 anos de Lutas e Conquistas!:
– Terça-feira (03/11), 9h às 16, Setor de Ciências da Saúde UFPR: Campus Jardim Botânico, no corredor atrás do prédio.
– Quarta-feira (4/11) 9h às 16h Setor de Ciências Agrárias UFPR.
– Quinta e Sexta (5 e 6/11) 9h às 20h Setor de Ciências Jurídicas UFPR.
– Campus Santos Andrade, saguão do prédio.
Universidade e os movimentos sociais
O MST mantém cerca de 30 projetos de extensão em parceria com as universidades do Paraná. Alessandro explica que, geralmente, essas iniciativas seguem duas linhas: ou são projetos que procuram conhecer a realidade de um assentamento e ajudar a melhorar a produção, como fazem as incubadoras, ou são iniciativas voltadas à educação ou discussão teórica sobre os movimentos sociais. “De ambos os jeitos, esses projetos contribuem com esses locais, seja melhorando a forma de produção de vida ou contribuindo com a reflexão produzida na universidade. Outro ponto
positivo é fazer a universidade estar mais próxima das questões sociais”, complementa.
Para o professor Daltoé, contribuir com as organizações populares e sociais é uma forma de cumprir com a função social da Universidade, que é promover a universalização do acesso ao conhecimento de qualidade, público e gratuito. “A classe trabalhadora contemporânea é frequentemente excluída por processos e acordos que dificultam o acesso
às políticas públicas. Por isso, necessitam do apoio de projetos, programas e outras iniciativas que promovam a sua inclusão para que tenham as mesmas oportunidades”, defende.
O estudante de educação física Tiago de Souza faz parte do projeto Educação e Movimentos Sociais, do Departamento de Educação Física. Ele conta que, apesar de a relação com a Universidade ser difícil, o desenvolvimento do projeto – que consiste no acompanhamento, vivência e intervenção em uma escola pública em Guará, onde cerca 80% dos
estudantes são filhos de trabalhadores do MST – tem uma importância bastante significativa tanto para os estudantes que participam, quanto para o movimento social. “O MST tem uma pedagogia própria, voltada para a transformação social. Estar em contato com essa forma de educação é bastante importante porque na Universidade a gente até pode ter a oportunidade de ter uma educação mais crítica, mas a experiência é bastante teórica. Nos movimentos sociais a gente vivencia a prática”, destaca.
Concepção de educação: reproduzir ou transformar?
Como plano de fundo da discussão sobre movimentos sociais e a universidade destaca-se a necessidade de se pensar o modelo de educação adotado nas instituições públicas e privadas, que privilegiam a formação rápida, voltada somente para o mercado de trabalho. Para a presidente da APUFPR, é preciso defender que o objetivo da universidade não é só formar profissionais, mas também produzir conhecimento e, mediante esse conhecimento, possibilitar transformações sociais. “É fundamental ter interlocução com os movimentos sociais, que são outros coletivos organizados e que imprimem na sociedade esse movimento das contradições e transformações sociais que a gente quer potencializar com a educação”, afirma Astrid.
Conforme essa concepção, caberia às universidades a tarefa de dar respostas também às necessidades de transformações sociais, visando à construção de uma sociedade emancipada. “A Universidade deve ter
sensibilidade e criatividade social para dar oportunidades iguais aos diferentes agentes sociais, criando mecanismos de acesso e formação diferenciada, segundo a necessidade de cada forma de organização, respeitando sua cultura e seu conhecimento historicamente acumulado”, argumenta o professor Daltoé.
Para o estudante Tiago de Souza, os projetos que têm como norte essa concepção de ensino transformador ainda são bastante marginalizados na instituição. “Isso aponta que a Universidade não tem o interesse explícito em manter relações com os movimentos sociais”. Tiago defende que o papel da Universidade deveria ser, justamente, o de manter uma vinculação com a classe trabalhadora e as lutas sociais, tendo em vista a emancipação social.
A professora Astrid comenta também que é preciso levar em consideração o período histórico em que vivemos, em que, devido à crise econômica pela qual o capitalismo passa, a situação tende a ficar ainda mais difícil para os trabalhadores, revertendo-se em arrocho salarial e retirada de direitos sociais. “Hoje, tanto as universidades como os
movimentos sociais vivem um processo muito difícil, que é se contrapor a essa crise do capital, que acaba sempre gerando para os trabalhadores uma conta enorme a ser paga. Os movimentos sociais são uma possibilidade de
enfrentamento de grande parte dos problemas que hoje têm empobrecido a humanidade, tanto na esfera da saúde, quanto da cultura e da economia”, conta.
Fonte: APUFPR-SSind – Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná – Seção Sindical do ANDES-SN