Impactos do agronegócio sobre ambiente e saúde são alarmantes, avaliam especialistas
No último fim de semana, a Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva promoveu um debate sobre o processo produtivo do agronegócio e suas relações e consequências para a saúde pública e o meio ambiente, durante o 9º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, realizado em Recife (PE).
Na mesa, coordenada pela pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, os palestrantes Vicente Almeida (Embrapa), Marcelo Firpo (ENSP/Fiocruz), Wanderlei Pignati (UFMT) e Lia Giraldo (CPqAM/Fiocruz) falaram do macrofenômeno do agronegócio e sua relação com a economia, a produção industrial, a política, a pesquisa e a necessidade de transição para um novo modelo agroecológico no país.
Para Vicente Almeida, da Embrapa, a alimentação e o ambiente são duas das principais formas de se obter saúde. Em sua apresentação, perguntou se há impactos do agronegócio sobre o ambiente, quais seriam esses impactos e como se expressam na saúde e no ambiente. Segundo ele, trata-se de um conceito construído pela política e pela economia, mas que demanda uma maior produção de conhecimento científico sobre o tema.
Vicente lembra que o processo produtivo do agronegócio gera disputa de território. De acordo com o pesquisador, essa disputa leva à concentração fundiária que, por sua vez, gera riqueza, que gera poder, que ocasiona a fome, a erosão genética e a contaminação do solo, da água e da biodiversidade. “O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. A agricultura promete geração de renda e emprego, mas o que vemos são trabalhadores contaminados, alimento contaminado. É importante avançarmos na negação do atual modelo e incentivarmos uma transição agroecológica. É preciso analisar os custos que essa mudança traz e suas conseqüências para a população”.
Para Marcelo Firpo Porto, pesquisador da ENSP, é necessária a articulação de uma rede de pesquisadores lutando contra o agronegócio, e não somente contra os efeitos do agrotóxico. Para isso, segundo ele, é importante articular saúde, economia, agronomia, política e outros atores para uma transição agroecológica justa e sustentável. “Grandes plantações são uma bomba ecológica, pois agridem a cultura local, geram disputa por território e trazem vários outros danos. Um exemplo da expressão do agronegócio é a soja. Ela tem avançado sobre o cerrado brasileiro e a Amazônia. É a expressão clara da expansão da monocultura e do agronegócio. Envolve diretamente queimadas para a preparação do solo e cria aquele ‘oceano’ de soja”.
Marcelo apresentou um mapa que demonstrou a expansão do agronegócio de 1995 a 2005. Nesse período, a venda de agrotóxicos triplicou, e a área de plantio aumentou apenas 20%. “O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Denúncias da Rede Brasileira de Justiça Ambiental falam da fusão da indústria química com produtores de semente. O agrotóxico que o Brasil consome foi proibido na Europa e nos Estados Unidos. É preciso incentivar a transição agroecológica, e o papel da saúde é fundamental para um modelo com justiça social e cultural, com segurança alimentar e preservação ambiental”.
Na sequência, Wanderlei Pignati, professor da Universidade Federal do Mato Grosso, afirmou que o Mato Grosso é um dos maiores produtores de soja, de gado e madeira – o que, segundo ele, “tem destruído o estado”. De acordo com Pignati, em 2007, o Brasil possuía 52 milhões de hectares com lavoura temporária e uma média de dez quilos de agrotóxico por hectare. “Esse número revela uma média de 500 a 600 milhoes de quilos por ano no Brasil”.
O palestrante fez questão de ‘desconstruir’ algumas afirmações com relação ao uso do agrotóxico. Uma delas diz que o uso adequado da substância não traria prejuízos ambientais. “Isso não é verdade. Qualquer utilização traz danos ao ambiente e, consequentemente, à saúde. Outra falsa afirmação é a de que a falta de informação dos agricultores é a maior causa das contaminações ocupacionais e ambientais”.
O pesquisador afirmou que os agrotóxicos usados nas lavouras são absorvidos pela pele, pulmão e sistema gastrointestinal dos trabalhadores, com grande parte alojada nas plantas e no solo. “Acreditava-se que as embalagens das substâncias eram os principais meios de contaminação. Na verdade, o principal é saber onde foi parar o que está lá dentro e evitar sua utilização”.
Em seguida, Lia Giraldo, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz), se concentrou nas políticas sobre o tema. De acordo com ela, o Brasil possui um marco legal sobre o agrotóxico, mas que vem sendo degradado por medidas provisórias da bancada ruralista do congresso. “Temos três ministérios que tratam o tema: o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; o Ministério da Saúde; e o Ministério do Meio Ambiente. Mesmo assim, temos imensos problemas com essa questão. Além das questões judiciais do setor empresarial, encontramos dificuldades dentro do próprio governo, suas alianças e o congresso”.
Agronegócio, ambiente e saúde
O debate tocou em pontos importantes das relações do agronegócio com saúde pública e meio ambiente.
Vicente Almeida (Embrapa) lembrou que as disputas por terras ligadas ao agronegócio geram concentração fundiária, fome, erosão genética e contaminação do solo, da água e perdas de biodiversidade. “O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. A agricultura promete geração de renda e emprego, mas o que vemos são trabalhadores e alimentos contaminados. É importante avançarmos na negação do modelo e incentivarmos uma transição agroecológica. É preciso analisar os custos que essa mudança traz e suas conseqüências para a população”, disse.
Marcelo Porto (Escola Nacional de Saúde Pública/ENSP) foi radical e defendeu a formação de uma rede de pesquisadores das áreas econômica, de saúde, agronomia, política e afins, que lute contra o agronegócio, não só contra seus efeitos. “Grandes plantações são uma bomba ecológica, pois agridem a cultura local, geram disputa por território e trazem vários outros danos. Um exemplo é a soja. Ela é a expressão clara da expansão da monocultura e do agronegócio”, comentou.
Wanderlei Pignatti (Universidade Federal de Mato Grosso) disse que a produção de soja, gado e madeira tem destruído o estado. Segundo ele, em 2007 o Brasil tinha 52 milhões de hectares com lavouras temporárias e usava uma média de dez quilos de agrotóxico por hectare. “Esse número revela uma média de 500 a 600 milhoes de quilos por ano no Brasil”.
Segundo ele, venenos usados nas lavouras são absorvidos pela pele, pulmão e sistema gastrointestinal dos trabalhadores. Também comentou que até mesmo o “uso adequado” de agrotóxicos traz danos ambientais e à saúde. “Qualquer utilização traz danos ao ambiente e, consequentemente, à saúde. Outra falsa afirmação é a de que a falta de informação dos agricultores é a maior causa das contaminações ocupacionais e ambientais”.
As informações são da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).