Marcha acredita na vitória da redução da jornada de trabalho
Do Vermelho
A chuva fina que caiu durante todo o dia em Brasília não afastou os milhares de trabalhadores da 6ª Marcha da Classe Trabalhadora, realizada nesta quarta-feira, na Esplanada dos Ministérios. Logo cedo, os dois lados da pista já anunciavam a manifestação. De um lado, cartazes das centrais sindicais anunciavam o mote da campanha 40 Horas Já; do outro, faixas dos deputados que apoiam a reivindicação.
Os discursos – de líderes sindicais e parlamentares – centraram na necessidade de que a proposta de redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais seja colocada em votação. Eles acreditam na vitória, tomando como exemplo a votação unânime a favor da matéria quando analisada na comissão especial da Câmara.
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), autor da projeto, disse isso para os trabalhadores que encheram o gramado em frente do Congresso Nacional, agitando bandeiras, faixas e cartazes, e gritando: “1, 2, 3, 4, 5 mil/ 40 horas já ou paramos o Brasil”.
O deputado Vicentinho (PT-SP), relator da matéria na comissão especial, também acredita que se colocada em votação agora, a matéria será aprovada com folga. Após a manifestação, os dirigentes das centrais sindicais, unidas em torno da reivindicação, e parlamentares, estiveram em audiência com o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), a quem pediram pressa na votação do projeto.
Sem data marcada
Os argumentos utilizados em defesa da redução da jornada de trabalho foram novamente expostos na audiência, nos discursos e nas palavras de apoio dos manifestantes. A proposta vai garantir a abertura de dois milhões de novas vagas de trabalho, além de ajudar na redução dos índices de acidentes de trabalho e permitir mais tempo de lazer e convivência familiar para o trabalhador.
Segundo o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP),que também é presidente da Força Sindical, Temer afirmou que é preciso conciliar os interesses divergentes sobre jornada de trabalho em uma proposta comum. Temer se dispôs a coordenar essa negociação, mas disse que não é possível marcar data para a votação da proposta.
Paulo Pereira da Silva disse que, se a proposta não for votada neste ano, os trabalhadores começarão a promover greves a partir de janeiro do ano que vem.
Movimento maduro
A Marcha da Classe Trabalhadora é realizada anualmente pelas centrais sindicais e tem este ano como eixo central a redução da jornada de trabalho. Mas os trabalhadores também destacaram, em seus discursos, a defesa da destinação dos recursos da exploração do petróleo do pré-sal para a saúde, educação e combate à pobreza.
Também fizeram parte das reivindicações deste ano outros assuntos que estão aguardando votação no Congresso Nacional, como o reajuste nas aposentadorias; o fim do fator previdenciário; a ratificação das Convenções 151 (que dispõe sobre e negociação coletiva no serviço público) e 158 (que coíbe a demissão imotivada) da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e aprovação da política de valorização do salário mínimo.
Os líderes sindicais também reafirmaram a luta pela reforma agrária, com ênfase para a atualização dos índices de produtividade da terra, outro assunto polêmico, em função da resistência dos ruralistas, que aguarda decisão do governo federal.
O presidente da CUT, Artur Henrique, disse que é esta a sexta marcha unificada das centrais, o que revela a maturidade do movimento sindical. Os dirigentes sindicais também destacaram como vitória a união das centrais em torno de assuntos de interesse comum dos trabalhadores.
Fator de divisão
O reajuste das aposentadorias, que está na ordem do dia e dividiu as centrais, também figurou nos discursos dos líderes. Os presidentes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, estão unidos pela fim do fator previdenciário e pelo reajuste das aposentadorias para aqueles que ganham acima de um salário mínimo.
“Além dos temas que nos são caros como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, defenderemos com todo nosso empenho a extinção do fator previdenciário pois o consideramos um golpe nos interesses dos aposentados e pensionistas que contribuem, enquanto trabalham, e são lesados na hora da aposentadoria”, afirmou Ricardo Patah.
Os parlamentares que não traíram os trabalhadores, na fala dos líderes sindicais, estiveram na manifestação para prestar apoio. Da bancada do PCdoB estiveram presentes, além do senador Inácio Arruda, os deputados Daniel Almeida e Alice Portugal, da Bahia, Chico Lopes, (CE), Vanessa Grazziotin (AM) e Jô Moraes (MG), Perpétua Almeida (AC), além de parlamentares do PT, PDT e PSB. A manifestação foi encerrada com fogos de artifício.