Famílias de Felisburgo conquistam a Terra Prometida
[img_assist|nid=8677|title=|desc=Representantes de diversos movimentos, estudantes e professores prestaram homenagem às vítimas de Felisburgo|link=none|align=left|width=640|height=433]No último sábado, foram assentados definitivamente as 40 famílias que resistiram na terra após o Massacre de Felisburgo.
No ato solene, que ocorreu durante a tarde, na praça central da cidade, estiveram presentes várias autoridades do governo federal, estadual e municipal, além de muitos simpatizantes e militantes do MST. Horas antes, durante a manhã, uma marcha percorreu a cidade e após o ato todos se dirigiram para o antigo acampamento Terra Prometida, agora oficialmente um assentamento já produtivo e promissor. Segundo o vice-prefeito Franklin Canguçu, foi visível a transformação na economia local desde a instalação do acampamento. Em seu discurso durante o ato, disse que “a comunidade hoje já responde por 80% das hortaliças do município”.
A antiga fazenda Nova Alegria foi a primeira do Brasil a ser desapropriada pelo critério de crime ambiental, abrindo precedentes que poderão gerar um novo rumo para os processos de desapropriação. O delegado estadual do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Rogério Correia, espera que “seja a primeira de uma série de outras tantas (desapropriações) que o governo possa fazer” utilizando este dispositivo. O [img_assist|nid=8679|title=|desc=Área do assentamento Terra Prometida|link=none|align=right|width=640|height=480]ordenamento jurídico prevê os critérios de produtividade, desrespeito ao meio-ambiente ou ao bem-estar dos trabalhadores, mas em toda a história da política de Reforma Agraria brasileira, até agora, somente se utilizou a produtividade para os processos de desapropriação. E, mesmo assim, com uso dos índices de 1975, defasados em duas décadas e meia em relação aos avanços das técnicas agrícolas. “É o primeiro passo, mas agora é preciso que o governo efetive a Reforma Agrária, dando condições de vida dignas, com acesso a moradia, crédito, assistência técnica, educação, saúde, entendendo a Reforma Agrária como um conjunto de medidas para combater o êxodo rural e melhorar a vida do homem no campo”, conclui.
Para o bispo da diocese de Almenara, Dom Hugo Van Steekelenburg, a conquista da área é uma vitória do povo, que estava desacreditada por muitos na região, e ao mesmo tempo um recado. “Significa uma esperança de que pode melhorar as coisas aqui (na diocese), que tem uma maioria de latifundiários, que não cedem nem um pedaço de terra para o próximo, os sem-voz, sem-vez”. Há dez anos a frente da diocese, marcada pela grande concentração fundiária e pela violência da burguesia agrária, Dom Hugo tem sido um grande apoiador dos pobres, defensor da ação pastoral libertadora da Igreja. “É uma esperança também para nós como Igreja, para que possamos estar do lado do pobre, do povo sem-voz, sem-vez, e, ao que parece, eles tem uma voz, tem uma vez, porque ele conseguiram”, aponta.
[img_assist|nid=8678|title=|desc=|link=none|align=left|width=640|height=480]A comemoração da conquista correi pela noite com muito churrasco e comida farta, com a concretização dos sonhos de muitos ali presentes. Mas um sentimento de ausência e luto permeava a todos os festejos. “Os sonhos que se realizaram foi a conquista da terra e do respeito e dignidade que muitos tinham perdido. E de colocar comida na mesa das pessoas aqui. Mas para aqueles cinco que tombaram o sonho não se realizou, então esta data sempre será um misto de alegria e dor”, diz Eni, da direção estadual do MST.
Para cumprimento da justiça para as famílias vítimas do massacre, ainda faltam a indenização das famílias pelo estado, por sua omissão em vista das várias denuncias que prenunciavam a ação, e a punição dos assassinos, que permanecem em liberdade.