Trabalhadores protestam contra grilagem de terras em SP
Nesta quinta-feira (10/12), dia em que se comemora a publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dia internacional de luta pelos direitos humanos, o povo de Araraquara recebe 400 trabalhadoras e trabalhadores rurais Sem Terra de todo o estado de São Paulo que marcham na cidade. A concentração será às 9h, na Praça Santa Cruz e às 9h30 os manifestantes marcharão até a porta da sede da Cutrale.
Nesta quinta-feira (10/12), dia em que se comemora a publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dia internacional de luta pelos direitos humanos, o povo de Araraquara recebe 400 trabalhadoras e trabalhadores rurais Sem Terra de todo o estado de São Paulo que marcham na cidade. A concentração será às 9h, na Praça Santa Cruz e às 9h30 os manifestantes marcharão até a porta da sede da Cutrale.
A proposta do ato é denunciar o estrago que o agronegócio da laranja e da cana vem espalhando sobre esta terra rica em nutrientes, as nascentes e o ar que respiramos. A agricultura em grande escala acaba com o solo e o contamina com substâncias químicas tóxicas que vão parar nas águas subterrâneas e nos córregos. A indústria do suco concentrado e as queimadas da cana contaminam o ar. A cidade conhece bem o cheiro. O agronegócio utiliza 713 milhões de litros de agrotóxico por ano no Brasil.
Mas as trabalhadoras e trabalhadores rurais vêm também denunciar o uso privado de terras públicas federais, que foram tomadas ilegalmente e vendidas para as grandes empresas a preço de banana. Esse é o caso dos 3 mil hectares em mãos da Cutrale em Iaras, no interior São Paulo, que as famílias de agricultores tentaram recuperar. A terra é um bem comum, morada e fonte de alimentos frescos para todos. O que nossa terra dá vai para o exterior, quando ela poderia encher a mesa de todos de comida saudável. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, no mundo há um bilhão de pessoas passam fome. No Brasil são 14 milhões e o 70% delas mora no campo. A concentração da propriedade no Brasil só é superada pela de Paraguai. Segundo o último censo do IBGE, 1% dos proprietários detém 46% das terras. Esse 1% é composto por 15 unidades econômicas com mais de 2.500 hectares. O Produto Bruto Interno anual do agronegócio é de 90 bilhões de reais, mas sua dívida com as instituições públicas supera 110 bilhões de reais anuais.
As trabalhadoras e trabalhadores sem terra querem que a terra seja fonte de trabalho para todos. O agronegócio se sustenta à custa de trabalho “terceirizado” mal pago e não responde pelas obrigações trabalhistas. A alta produção em pouco tempo não é só resultado da mecanização, também resulta de condições de trabalho de grande fatiga que acaba com a saúde dos trabalhadores, não raro causa acidentes e a toda safra da cana leva dezenas de cortadores à morte por estafa. Segundo o último censo do IBGE, enquanto o agronegócio contrata 3,5 milhões de trabalhadores, a agricultura familiar emprega 13 milhões. Mesmo os pequenos produtores de cana e laranja ficam na mão do grande agronegócio que exporta. Quando lhe interessa, a grande empresa compra ao preço que ela mesma estabelece. Ou o agricultor vende para ela, ou fica com as laranjas apodrecendo no pé.
O grande proprietário de terra, o grande contaminador, o patrão que não paga direito nem cuida da segurança dos seus empregados consegue engavetar os processos que correm contra ele. Os trabalhadores são tratados como bandidos quando reclamam pelo que lhes é de direito: reforma agrária em terras que não cumprem a sua função de produzir alimentos, que não geram emprego, que não cumprem com as leis trabalhistas, que estão sendo contaminadas e degradadas.