Ex-policial ameaça acampamento do MST no PR
Na madrugada do último sábado (6/2), cerca de 200 trabalhadores do MST reocuparam a fazenda São Francisco II, grilada pelo tenente-coronel aposentado da Polícia Militar Valdir Copetti Neves, em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, no Paraná.
Após a ocupação, o ex-tenente-coronel foi até o local com um grupo de seguranças, fortemente armados, ameaçando os Sem Terra de morte e disparando vários tiros por cima dos barracos. Ninguém foi atingido.
As famílias Sem Terra estão com medo, pois há grandes riscos de ataque por parte do grupo de Neves, por se tratar de uma forte articulação entre o ex-tenente e milícias privadas da região. Neves permanece próximo ao local da ocupação com o grupo de homens armados, ameaçando os trabalhadores e vigiando todos os passos das pessoas no local.
Está é a terceira vez que o MST ocupa a área, de 33 alqueires que pertence a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), e foi grilada por Neves.
A área é pública, porém o ex-tenente entrou na Justiça Federal com ação de usucapião, que foi negado em primeira instância, pois segundo o Código Civil Brasileiro, as terras públicas não podem ser objetos de usucapião. No entanto, Neves recorreu da decisão, que agora deve ser julgada pelos Desembargadores da Justiça Federal da 4ª região em Porto Alegre.
A fazenda foi ocupada pelo MST, em agosto de 2005. Em seguida, as famílias foram despejadas pela PM, e a área foi reocupada em maio de 2007, quando novamente a PM despejou os Sem Terra do local.
O MST promete permanecer na área por tempo indeterminado, até que a situação seja resolvida.
Neves é condenado por comandar milícia armada
Em dezembro de 2009, a Justiça Federal condenou o tenente-coronel Valdir Copetti Neves a 18 anos e 8 meses de prisão além de um ano de detenção, perda do posto na corporação e multa de R$ 20 mil no caso que ficou conhecido como “Março Branco”. Mas como a decisão foi em primeira instância, ele recorre da sentença em liberdade.
O coronel é acusado de chefiar uma milícia armada, formada por policiais aposentados, contratada por fazendeiros para despejar áreas ocupadas pelos Sem Terra na região de Ponta Grossa. A milícia praticou vários crimes, entre tentativas de homicídio até o fornecimento de armas e drogas para incriminar outras pessoas.
O coronel já havia sido investigado e preso em 2005 acusado de fazer parte de uma das maiores quadrilhas de extermínio do país, também formada por policiais militares, além de advogados e assaltantes.
Em dezembro de 2004, quando trabalhadores do MST ocuparam uma fazenda próxima às propriedades “patrulhadas” por Neves ele começou a “investigar” os Sem Terra. O então tenente-coronel chegou a atacar o acampamento, tentando desocupar a terra à força. Como não conseguiu expulsar os trabalhadores, contratou Izabel Rocha Araújo para que fizesse falsa denúncia contra lideranças do movimento. Em seguida, Neves também planejou – embora não tenha chegado a executar – a simulação de um acidente de carro para “plantar” maconha no veículo de um dos líderes do acampamento, na região.