Blog para acompanhar a criminalização está no ar
Do Blog do Miro
Estreou nesta quinta-feira, dia 18, o blog da rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais. Esta foi uma das decisões da reunião de montagem da rede, que ocorreu na semana passada na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e que teve a presença de cerca de 100 pessoas, entre jornalistas, radialistas, blogueiros, estudantes e radiodifusores comunitários.
O endereço é http://www.reformaagraria.blog.br/
Um dos objetivos editoriais do blog é acompanhar os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), instalada no final do ano passado por imposição da bancada ruralista que visa criminalizar os lutam por terra no país. A nova página também servirá para divulgar experiências bem sucedidas de reforma agrária, de assentamentos rurais e de agricultura familiar, que a mídia privada omite. Ela terá sessões fixas, como o raio-x do latifúndio, impactos do agronegócio, quem apóia a reforma agrária, entre outras.
O blog pretende ser um ponto de referência para outros sítios, blogs e publicações que tratam deste tema. Ele é aberto à colaboração de todos os que entendem a urgência da reforma agrária e que não aceitam a criminalização da luta pela terra promovida pelos latifundiários do campo e da mídia. Para aderir à rede de comunicadores basta acessar a página e fazer o cadastro. Contribua com textos, fotos, vídeos.
Os responsáveis pelo blog são os signatários do manifesto de criação da rede. Reproduzo o manifesto abaixo:
Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.
Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros – e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.
A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo “grave atentado”. A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é “bandido”, é “marginal”. Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.
Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.
Trata-se de grave distorção.
Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.
No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido…
A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.
Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar – nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.
A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.
Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.
Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.
Venha refletir com a gente:
– por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?
– como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?
– como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?
É o convite que fazemos a você.
Assinam:
– Alcimir do Carmo.
– Altamiro Borges.
– Ana Facundes.
– André de Oliveira.
– André Freire.
– Antonio Biondi.
– Antonio Martins.
– Bia Barbosa.
– Breno Altman.
– Conceição Lemes.
– Cristina Charão.
– Cristovão Feil.
– Danilo Cerqueira César.
– Dênis de Moraes.
– Emiliano José.
– Emir Sader.
– Flávio Aguiar.
– Gilberto Maringoni.
– Giuseppe Cocco.
– Hamilton Octavio de Souza.
– Henrique Cortez.
– Igor Fuser.
– Jerry Alexandre de Oliveira.
– Joaquim Palhares.
– João Brant.
– João Franzin.
– Jonas Valente.
– Jorge Pereira Filho.
– José Arbex Jr.
– José Augusto Camargo.
– José Carlos Torves.
– José Reinaldo de Carvalho.
– José Roberto Mello.
– Ladislau Dowbor.
– Laurindo Lalo Leal Filho.
– Leonardo Sakamoto.
– Lilian Parise.
– Lúcia Rodrigues.
– Luiz Carlos Azenha.
– Márcia Nestardo.
– Marcia Quintanilha.
– Maria Luisa Franco Busse.
– Mario Augusto Jacobskind.
– Miriyám Hess.
– Nilza Iraci.
– Otávio Nagoya.
– Paulo Lima.
– Paulo Zocchi.
– Pedro Pomar.
– Rachel Moreno.
– Raul Pont.
– Renata Mielli.
– Renato Rovai.
– Rita Casaro.
– Rita Freire.
– Rodrigo Savazoni.
– Rodrigo Vianna.
– Rose Nogueira.
– Rubens Corvetto.
– Sandra Mariano.
– Sérgio Caldieri.
– Sérgio Gomes.
– Sérgio Murilo de Andrade.
– Soraya Misleh.
– Tatiana Merlino.
– Terezinha Vicente.
– Vânia Alves.
– Venício A. de Lima.
– Verena Glass.
– Vito Giannotti.
– Wagner Nabuco.