CNA dá as cartas e perde

Antônio Canuto
Secretário da Coordenação Nacional da CPT

A CNA acabou de publicar o estudo "Quem produz o que no campo: quanto e onde II", pelo qual pretende mostrar que a agricultura empresarial, o agronegócio, é mais produtivo que a agricultura familiar.

Para isso, com a participação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez uma releitura dos dados do Censo Agropecuário de 2006, divulgados pelo IBGE no final do ano passado.

Antônio Canuto
Secretário da Coordenação Nacional da CPT

A CNA acabou de publicar o estudo “Quem produz o que no campo: quanto e onde II”, pelo qual pretende mostrar que a agricultura empresarial, o agronegócio, é mais produtivo que a agricultura familiar.

Para isso, com a participação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez uma releitura dos dados do Censo Agropecuário de 2006, divulgados pelo IBGE no final do ano passado.

Para conseguir a façanha de buscar desmentir os dados oficiais que mostram que a agricultura familiar é a responsável pela comida consumida pelos brasileiros, a CNA dividiu os produtores rurais entre os enquadráveis nas normas do Pronaf e os não enquadráveis.

Leia também
CNA fez “mágica metodológica” em estudo

E os critérios para dizer quem está enquadrado e quem não está, são estabelecidos pelas normas do Banco Central. Desta forma, a produção de pequenas propriedades, algumas até abaixo de um módulo fiscal (em alguns municípios com menos de cinco hectares, portanto) é incorporada à agricultura empresarial.

Os pequenos agricultores com boa renda se somam ao agronegócio, já os assentados e os agricultores pobres ficam do outro lado.

Esta é a pretensão explícita do trabalho encomendado e divulgado pela CNA: “Mais de dois terços dos enquadráveis geram um Valor Bruto da Produção tão baixo que se questiona a possibilidade de algum instrumento voltado à produção vir a alterar significativamente o nível de renda deste segmento.

O fato é que produzem praticamente para o autoconsumo e não geram receita nos estabelecimentos. Se sua sobrevivência vem da receita de outras fontes, seria justificável inclusive caracterizá-los como residentes rurais e assisti-los com políticas sociais e de combate à pobreza, em geral mais baratas e eficazes.” (Resumo executivo, pg III, Item 3)

Vamos dizer que acatamos a metodologia do estudo. 3.330.667 estabelecimentos é o total dos enquadráveis no Pronaf. São 64,4% de todos os estabelecimentos e ocupam 18% da área. Eles respondem por 22,9% do Valor Bruto da Produção Agropecuária.

Na outra pronta, 0,3% dos estabelecimentos, só 14.590 com mais de 60 módulos (entre mais 300 e mais de 6.000 hectares) ocupam 88.043.319 hectares, 26,7% de toda a área. Sua participação no Valor Bruto da Produção Agropecuária é de 18,6%.

Em área significativamente menor, os enquadráveis no Pronaf tem uma receita 4,3% maior que as grandes propriedades.

Quem contribui mais com a nação?