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Por Rogério Tomaz Jr
Do Blog Conexão Brasília Maranhão
Parece piada de humorista de esquerda, mas não é.
Está no site do Instituto CNA: a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) oferecerá cursos aos senhores da Casa Grande – chamados de produtores rurais – sobre “Trabalho Decente”.
Latifundiários não sabem o que é trabalho decente
É isso mesmo. Os escravagistas modernos produtores rurais vão aprender na Escola do Pensamento Agropecuário – “um centro de conhecimento com a função primordial de difundir pesquisas, estudos, diagnósticos, teses e princípios embasados na metodologia científica e filosófica focada no desenvolvimento agropecuário” – o que significa “Trabalho Decente”.
A iniciativa é muito boa e merece louvor. Só tem um problema: ela chega um pouco tarde, com apenas quatro séculos de atraso.
Se o “pensamento agropecuário” adotasse a bandeira do “Trabalho Decente” no século XVII, talvez não tivéssemos passado por mais de trezentos anos de escravidão como regime oficial de trabalho, fenômeno que fincou profundamente suas raízes e deixou feridas ainda hoje abertas na sociedade brasileira.
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Cabe questionar se a intenção é “pra valer” ou apenas “fogo de palha”, já que a própria presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), defende a manutenção do desrespeito à legislação trabalhista – e, portanto, a continuidade da utilização da mão-de-obra escrava ou análoga à escravidão – por parte dos senhores de escravos produtores rurais.
Algumas declarações da senadora – cotada para ser vice do tucano José Serra, lembremos – em recente entrevista à Veja:
“Ocorre que a norma que rege o trabalho no campo, a NR-31, tem 252 itens. Em qualquer atividade, cumprir 252 critérios é muito difícil. Nas fazendas, isso é uma exorbitância.”
“A NR-31 é uma punição à existência em si da propriedade privada no campo.”
“Nas minhas palestras, eu recomendo aos produtores rurais que avaliem a comida, o banheiro e o alojamento dos empregados por um critério simples: se eles forem bons o bastante para seus próprios filhos e netos, então eles são adequados também para os empregados.” [ou falta ênfase à senadora ou falta quem acredite nas suas palavras]
“O IBGE e o Ipea foram aparelhados pelos ideólogos dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente.”
Desde já sugiro como professor da Escola do Pensamento Agropecuário o jornalista Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, um dos primeiros a denunciar a dimensão real do trabalho escravo contemporâneo.
Se o propósito da CNA é sério, esse gesto de convidar o Sakamoto para dar algumas aulas seria bastante coerente.
De qualquer modo, espero e torço para que os cursos da CNA surtam efeito e logo o Brasil não precise mais investigar possíveis ocorrências de trabalho escravo, pois isso terá deixado de existir graças à consciência moderna e cidadã da CNA e dos senhores de escravos produtores rurais.