MEMÓRIA – 24 anos sem Padre Josimo
Por Reynaldo Costa
Da Página do MST
Em 10 de maio de 1986, era assassinado um defensor dos trabalhadores rurais. Há 24 anos, o padre preto de sandálias surradas, como era conhecido Josimo Morais Tavares, símbolo de resistência contra a opressão foi assassinado, em Imperatriz, no Maranhão, por latifundiários da região.
Nascido em uma família humilde, Josimo nasceu em Marabá (PA), na beira do Rio Araguaia, quando sua mãe estava a lavar roupas. Era páscoa de 1953 e parecia uma história já contada a milhares de anos. Foi logo depois dele mudar para Xambioá, no Tocantins, quando ganhou uma irmã, que morreu cedo de desnutrição.
Aos 11 anos, parte para Tocantinópolis onde passa a estudar em um seminário. De lá, ruma a Brasília, depois para Aparecida do Norte (SP), até que chega a Petrópolis (RJ) para estudar no seminário franciscano. O teólogo Leonardo Boff, um de seus professores, lembra que o aluno paraense “era muito quieto e equilibrado. Era decidido. Optou por trabalhar com os pobres e nunca se desviou”.
A opção pela Vida
No Brasil é muito difícil ser pobre, negro e filho de camponeses. Por conta disso, Josimo foi alvo de muitos preconceitos. Quando terminou os estudos em Petrópolis, decidiu voltar a Xambioá, para dedicar sua vida à causa dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Se torna padre em 1979.
No momento da formação, faz a seguinte reflexão: “Não quero ser padre de escritório, mas não quero ser padre burro. Gostaria de ser letrado como um teólogo, ao mesmo tempo que humilde e simples o suficiente para poder trabalhar com o povo”.
Depois de se tornar padre, se mudou para Wanderlândia, onde iniciou seu trabalho com os pobres, atuando em uma escola secundária e assumindo o trabalho da Pastoral da Juventude da cidade. Foi lá que compreendeu como a concentração da terra era o problema mais urgente da população da região.
Também foi coordenador da pastoral da Diocese, atuando na região do Bico do Paraguaio, que compreende norte do Tocantins, sul do Pará e oeste do Maranhão, área conhecida por intensos conflitos de disputa pela terra e que anos antes havia sido o cenário da guerrilha do Araguaia, uma das regiões mais violentas do Pais na época. Logo depois se tornou um dos coordenadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Josimo passou a denunciar os grileiros de terra, a opressão dos latifundiários contra os lavradores e a defender os direitos do povo, conscientizando-os sobre sua força.
Por suas idéias e ações, causou ódio aos fazendeiros da região, passando a receber diversas ameaças de morte. Em abril de 1986, Josimo sofreu um atentado, mas as balas não o atingiram.
Consciente do risco que corria por defender seus ideais, escreve um testamento onde reafirmou seus compromissos com o povo pobre.
Um mês depois desse ataque, foi assassinado com dois tiros pelas costas quando subia as escadarias do prédios onde funcionava o escritório da CPT em Imperatriz.
Um assassinato corvade, mostrando a cara do latifúndio.
Uma de suas ultimas obras escritas, chamada de “Testamento”, o padre reafirma a sua fé na luta e o seu compromisso com o evangelho
“A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar”, afirma.
Os mandantes
Anos depois do crime, as investigações policiais identificaram o pistoleiro Geraldo Paulo Viera como o assassino. Condenado a 18 anos e 6 meses de prisão, ele fugiu três vezes da cadeia e foi morto em um assalto a banco.
Outros responsáveis pelo crime também foram condenados. Adailson Vieira teve pena de 18 anos, Osmar Teodoro da Silva, na época presidente da Câmara de Vereadores de Augustinópolis (TO), foi condenado a 19 anos, e Guiomar Teodoro da Silva e Vilson Nunes Cardoso, a 14 anos. João Teodoro da Silva, outro acusado, faleceu antes de ser julgado.
Outros dois acusados Nazaré Teodoro da Silva e Osvaldino Teodoro da Silva foram absolvidos pelo Tribunal do Júri. A sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, mas os réus recorreram para o Supremo Tribunal Federal.
O crime continua impune e agora prescrito. As famílias continuam sua luta e os conflitos na região ainda são numerosos.