Cooperação é fundamento de uma nova sociedade

Por Pedro Carrano De Francisco Beltrão, no Paraná O projeto popular e soberano para o Brasil implica a tarefa de recuperar a dimensão histórica do campesinato e o seu vínculo de resistência nos territórios. O território é o núcleo de base e um espaço fundamental de organização para as populações do campo, de acordo José Maria Tardin, coordenador da Escola Latino-Americana de Agroecologia (Elaa).

Por Pedro Carrano
De Francisco Beltrão, no Paraná

O projeto popular e soberano para o Brasil implica a tarefa de recuperar a dimensão histórica do campesinato e o seu vínculo de resistência nos territórios. O território é o núcleo de base e um espaço fundamental de organização para as populações do campo, de acordo José Maria Tardin, coordenador da Escola Latino-Americana de Agroecologia (Elaa).

“No território camponês somos uma família, razão da nossa organização política, nos organizemos em nossos núcleos de base. Nossa organicidade é reforçada lá no quilombo, no assentamento, que nos permitam alimentar esta frondosa árvore da nossa organização política”, explana.

Ele aponta a cooperação como um fundamento dos lutadores sociais e da construção de uma nova sociedade. “Ao longo da história nós camponeses forjamos formas de cooperação que o capitalismo tem destruído, seja no empréstimo de ferramentas e animais, nos maravilhosos mutirões, que nos permitem realizar uma grande festa e um grande baile, nas formas mais avançadas e permanentes de organizações”, reflete, citando também as cooperativas como exemplo de gestão coletiva e repartição do resultado do trabalho.

Projeto para o Brasil

O campesinato é um sujeito político fundamental na História da América Latina e mundial, uma vez que nenhuma revolução social se realizou sem a presença do campesinato. Com estas palavras, José Maria Tardin, coordenador da Escola Latino-Americana de Agroecologia (Elaa), iniciou sua reflexão sobre os elementos necessários para forjar um outro projeto de recuperação do humano, da natureza e do socialismo – durante o segundo dia da nona Jornada de Agroecologia (dia 20).

É necessário um projeto político que encontre uma unidade entre a diversidade de sujeitos políticos no campo: “Para nós é importante recuperar esta memória histórica, ora nos vemos como pequenos agricultores, atingidos por barragens, como sem-terra, como povos indígenas, juventude camponesa, somos uma diversidade que cada vez mais implica na exigência de uma percepção de um sujeito coletivo mais amplo”, descreve.

A partir da identificação do campesinato como um sujeito político e sua importância na percepção de uma outra forma de viver e produzir, Tardin enxerga a necessidade de aproximação com outros setores da sociedade, principalmente os urbanos. “(Devemos) alcançar qualificação para o diálogo com outros setores e camadas urbanas, priorizadas no mundo das nossas relações. Nosso projeto político não se resume ao setor camponês”, explica.

A produção camponesa permite o reconhecimento da dimensão social da produção. Neste sentido, Tardin defende que a luta pela terra não pode ter o enfoque apenas na busca pela propriedade individual. “Mesmo que uma família alcance a terra por uma herança de trabalho da família, só se realiza porque há uma dinâmica social de luta do campesinato. Não é resultado exclusivo de uma família, mas de um processo histórico, da luta dos quilombolas, dos indígenas”, coloca.