Boas perspectivas de luta
Editorial Brasil de Fato
Este ano pode se caracterizar como um momento especial para os setores populares. Em 2010, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegará ao fim do seu 2º mandato. E, no período de seus dois governos, o ponto de unidade das organizações populares foi a derrota da direita nas duas eleições presidenciais. O que já é um fato muito relevante em nossa história.
Editorial Brasil de Fato
Este ano pode se caracterizar como um momento especial para os setores populares. Em 2010, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegará ao fim do seu 2º mandato. E, no período de seus dois governos, o ponto de unidade das organizações populares foi a derrota da direita nas duas eleições presidenciais. O que já é um fato muito relevante em nossa história.
Porém, nessa trajetória, os setores populares ingressaram em um período de fragmentação e divergências táticas, que ganharam relevo com a cristalização de diferentes posições em relação ao atual governo Lula.
Essas diferenças criaram campos políticos que atuaram com unidade apenas em momentos específicos. A natureza e as contradições do atual governo, aliadas à fragmentação do movimento sindical, estudantil e das organizações populares, são elementos que caracterizaram esse período Lula.
O reflexo disso foi o enfraquecimento da esquerda brasileira no enfrentamento dos principais inimigos da classe trabalhadora, especialmente o imperialismo, as grandes empresas transnacionais e o capital financeiro.
Esse quadro se agravou ainda mais com a ofensiva da direita e do imperialismo que, pressionado pela atual crise econômica, lançou sobre a América Latina novos esforços para satisfazer as necessidades do seu complexo industrial-militar por mais lucro e desrespeito à soberania dos povos.
Sinais positivos
Porém, apesar deste cenário adverso, a esquerda brasileira dá sinais positivos. Nesse sentido, na última semana de maio, aconteceram atividades importantes, que apontam para o fortalecimento dos setores populares e para a reconstrução da unidade na luta em torno de plataformas políticas, com a perspectiva de ampliação de direitos para o povo brasileiro, o fortalecimento da classe trabalhadora e mudanças estruturais na sociedade brasileira.
As atividades da Assembleia Popular, da Coordenação dos Movimentos Sociais e a conferência das centrais sindicais, além do congresso da Conlutas e Intersindical marcado a primeira semana de junho, representam avanços para a esquerda brasileira e apontam para melhores momentos.
Além desses espaços, as plenárias dos pequenos agricultores e da Comissão Pastoral da Terra, além do encontro nacional pela erradicação do trabalho escravo, reuniram diversos setores e demonstraram avanços das lutas em torno de bandeiras progressistas.
Pontos convergentes
É importante ressaltar que o mais importante desse conjunto de atividades é a construção de plataformas políticas com pontos convergentes. São propostas de caráter estruturante, em torno de forças sociais importantes, como as centrais sindicais, pastorais sociais, movimentos populares, entidades estudantis e organizações não-governamentais.
Nesse sentido, as plataformas políticas defendem um novo modelo de desenvolvimento, com uma nova política econômica, voltada à geração de empregos, fortalecimento do mercado interno, distribuição de renda, tirando a nossa economia das mãos do capital financeiro e das empresas transnacionais.
A defesa da soberania nacional e o fortalecimento de blocos continentais, como o Mercosul, a Unasul e especialmente a Alba, são fundamentais para enfrentar o imperialismo dos Estados Unidos, associado às burguesias locais, e viabilizar transformações estruturais nos países da América Latina.
Além disso, há uma visão comum de que só conseguiremos melhorar as condições de vida do povo do campo, orientar os rumos da nossa agricultura e garantir a produção de alimentos saudáveis para o mercado interno com a realização da reforma agrária e o fortalecimento da pequena agricultura, deixando para trás o modelo do agronegócio.
E os nossos recursos naturais, como a água, as terras, o petróleo e os minérios, devem ficar sob controle do Estado, sendo utilizados na perspectiva de um projeto popular para o Brasil, que atenda em primeiro lugar as necessidades do povo brasileiro.
Também há um consenso sobre a necessidade de um modelo de desenvolvimento que respeite o meio ambiente, a diversidade dos biomas e, principalmente, a Amazônia. Enquanto o capital explora as nossas riquezas naturais até a exaustão em busca do lucro, as propostas dos diversos fóruns da classe trabalhadora apontam para um modelo que tenha como princípio a sustentabilidade ambiental.
Por fim, a democratização dos meios de comunicação de massa, que estão sob controle da classe dominante, se coloca como uma necessidade para impedir que a burguesia utilize esses instrumentos contra as lutas e as bandeiras da classe trabalhadora. Qualquer medida progressista, democrática e popular será combatida pela mídia burguesa, que esconde as contradições da sociedade e silencia os anseios do povo.
Retomar as lutas
Esperamos que as articulações da classe trabalhadora avancem no sentido da unidade, especialmente depois do período eleitoral, para construirmos um sólido programa que seja capaz de orientar as principais lutas e selar uma unidade mais consistente dos setores populares. Temos de transformar a unidade da classe trabalhadora em lutas sociais, com povo na rua, para conseguirmos enfrentar os interesses do capital financeiro, das empresas transnacionais e vencer a classe dominante brasileira e o imperialismo estadunidense.