PM atende latifúndio e atua de forma arbitrária no Pará

Por Márcio Zonta Da Página do MST O militante do MST, Edílson Celestino, foi preso por duas horas e meia pela Polícia Militar, do município de Curianópolis, no Pará, sob alegação de cobrança do cadastro a famílias acampadas, no dia 5 de julho. No entanto, na delegacia, nenhum recurso financeiro foi encontrado com o trabalhador rural. O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista, classificou a prisão como ilegal, porque a “acusação da cobrança não tinha fundamento”.


Por Márcio Zonta
Da Página do MST

O militante do MST, Edílson Celestino, foi preso por duas horas e meia pela Polícia Militar, do município de Curianópolis, no Pará, sob alegação de cobrança do cadastro a famílias acampadas, no dia 5 de julho.

No entanto, na delegacia, nenhum recurso financeiro foi encontrado com o trabalhador rural. O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista, classificou a prisão como ilegal, porque a “acusação da cobrança não tinha fundamento”.

Trabalhadores rurais do MST, de acordo com Celestino, estavam sendo ameaçados por fazendeiros desde a última semana de junho, quando começaram o trabalho de base no município, com um carro de som. “Alguns homens desconhecidos nos encontravam na rua e pediam para irmos embora da região”, revela.

No dia da prisão, a repressão veio por parte da PM. Segundo o trabalhador rural, homens em um carro descaracterizado, mas com a farda da polícia, sem identificação, fizeram as primeiras ameaças no começo da tarde. “Me chamaram e disseram que eu não podia fazer reunião”, relata Celestino.

O advogado da CPT, José Batista, afirma que “ninguém pode ser detido ou preso por se manifestar, fazer reunião ou se mobilizar, porque isso é direito constitucional. A polícia fez um ato ilegal”.

Motivação

Na última semana de junho, foram descobertas cinco fazendas pelo Ministério Público do Pará, Ministério do Trabalho e Polícia Federal, que se estendem de de Parauapebas até Curianópolis, com trabalhadores rurais (homens, mulheres e até crianças), em condições análogas à escravidão.

Para Charles Trocate, da coordenação do MST no Pará, esse seria um dos motivos para a PM e os fazendeiros intimidarem os militantes. “O Sindicato Rural, coordenado pelos fazendeiros, se
encontra temeroso pela organização do MST na região, com medo de ocuparmos essas fazendas que tem trabalho escravo”, acredita.

Para Batista, há evidências da relação entre as polícias Militar e Civil do município de Curianópolis com os fazendeiros. “A polícia vem revelando toda a sua promiscuidade com o latifúndio nesse caso”, avalia.

Incitação à violência

A arbitrariedade da polícia, além da prisão ilegal de Celestino, se estendeu depois da chegada dos militantes do MST à delegacia, que procuravam informações sobre Celestino.

Uma militante do MST, que prefere não ser identificada, disse que na delegacia perguntou a um investigador sobre Celestino e teve como resposta xingamentos. “Fui humilhada. Parece que não temos direitos”, desabafa.

Ela relata que os trabalhadores rurais foram chamados de “bando de vagabundo”, “marginal”, “ladrões”, “traficantes” e “ridículos”.

Sobre as palavras de ofensa do investigador, que não foi identificado, Batista afirma ser um comentário que incita a violência. “Esse tipo de manifestação, sim, é criminosa e está prevista no Código Penal brasileiro, principalmente quando se torna pública vinda de uma autoridade”.

Ele alerta que “essa incitação à violência vale também para percebermos que grande parte da polícia no Pará é conivente aos atos nefastos cometidos pelo latifúndio”, conclui.