A importância da escola para a juventude do MST

Por Mayra Lima Do Jornal Sem Terra A educação da juventude do MST é um grande desafio com o qual toda a militância deve se preocupar. Faltam escolas no meio rural, principalmente para que os camponeses cursem o ensino médio – são mais de 500 mil jovens do MST nas áreas de Reforma Agrária e no máximo 50 escolas de ensino médio construídas.


Por Mayra Lima
Do Jornal Sem Terra

A educação da juventude do MST é um grande desafio com o qual toda a militância deve se preocupar. Faltam escolas no meio rural, principalmente para que os camponeses cursem o ensino médio – são mais de 500 mil jovens do MST nas áreas de Reforma Agrária e no máximo 50 escolas de ensino médio construídas.

Essa escassez, muitas vezes, obriga os estudantes a migrarem para a cidade em busca de oportunidade de formação. A jornada de lutas de agosto traz à tona essa conjuntura. A ação conjunta dos setores de educação e juventude mostra que espaços como seminários, debates, encontros, além da própria escola devem estimular o protagonismo da juventude, não só na sala de aula, mas também nas lutas travadas no campo brasileiro.

Em entrevista ao Jornal Sem Terra, a integrante da coordenação estadual do MST do Pará e do Coletivo estadual de educação e cultura, Sirlene Ferraz, mostra a necessidade que a demanda por escolas some-se a temas que são do cotidiano da juventude, como o debate acerca do agronegócio e seus malefícios, cultura de massa e criminalização dos movimentos sociais

Qual a importância da escola para a formação e organização da juventude do MST?

A escola, através de suas práticas pedagógicas, cumpre um papel fundamental na vida da juventude, mediante a organização do tempo educativo direcionado a esse público. Escolas voltadas para a construção de conhecimento, que potencializem a organização da juventude para além do espaço da escola e que reflitam alternativas para a permanência da juventude no campo, como acúmulo de resistência na luta pela Reforma Agrária.

Quais os principais desafios que o setor identifica para a formação da juventude?

Acredito ser necessário pensar diferentes espaços de debates como encontros, seminários temáticos e oficinas. É importante que se pautem temas da atualidade que tragam o potencial e os desafios da juventude na conjuntura atual como o tema do agronegócio, criminalização dos movimentos sociais, cultura de massa e outros que contribuam com o processo de formação da juventude. Criar brigadas de agitação e propaganda, estudar outros métodos de educação popular que possibilitem conhecer outras experiências e vincular permanentemente a formação e a ação também são prioridades.

A jornada de lutas de agosto traz a educação como pauta. Quais as principais reivindicações?

Iremos pautar a luta por escolas do campo, cada vez mais escassas. Além disso, iremos denunciar a postura autoritária do Tribunal de Contas da União (TCU) que impede a realização dos cursos financiados pelo Pronera. Em consequência, dificulta a liberação do recurso e inviabiliza a realização dos cursos, reprimindo com isso o protagonismo da luta dos movimentos sociais por educação. Com essa postura o TCU não só fortalece a criminalização dos movimentos sociais como também impede o avanço da classe trabalhadora.

Quais políticas públicas são necessárias para garantir a formação da juventude camponesa na área da educação, cultura e esportes?

Em primeiro lugar, ter uma escola do campo que garanta a educação básica de qualidade para a nossa juventude. A realização de cursos formais, tal como a garantia da formação dos educadores, também é necessária. Isso tudo tem que vir acompanhado de estruturas que contribuam no processo pedagógico, como quadras de esportes, pontos de cultura nas áreas de acampamento e assentamentos; bibliotecas e projetos nas diversas linguagens artísticas: audiovisual, artes cênicas, músicas e artes plásticas.

O não acesso ao ensino médio no campo é visto como um dos principais problemas. Por quê?

Essa questão tem sido realmente um grande problema, pois o ensino médio em nossas áreas tem enfrentado vários entraves. Primeiro o avanço do agronegócio em detrimento da agricultura familiar camponesa; segundo não existe de fato uma política pública voltada para o campo. A Reforma Agrária não é prioridade para o governo. Nesse sentido, não sendo prioridade, não há interesse em construir escolas de ensino médio no campo. Outro problema está na forma de ensino modular, em que os professores são de outros locais, fora da realidade dos alunos. Há situações em que os professores não
comparecem na escola, dificultando com isso o aprendizado. A falta de escolas de ensino médio regulares do campo leva a juventude a estudar na cidade ou simplesmente deixar de estudar. Por isso, é urgente e necessário lutar por escolas do campo, com uma proposta pedagógica que leve em conta a especificidade da juventude camponesa, garantindo a sua permanência no campo.

Temos vários jovens em cursos formais e informais nas universidades. Qual a importância desta parceria para a formação da juventude camponesa?

As parcerias com as universidades são muito importantes, porque facilitam convênios para os diversos cursos de nível superior, possibilitando o acesso à pesquisa e à produção do conhecimento. Além disso, é uma grande oportunidade aos camponeses e camponesas que por muito tempo tiveram o acesso à academia negado. O conhecimento acadêmico sempre esteve distante do povo do campo. Esse conhecimento construído em parceria com as universidades possibilita o fortalecimento da luta através da pesquisa.

Como a organização da juventude dentro do MST pode ser uma força na luta por mais escolas no campo?

Através dos coletivos de juventude nas diversas áreas de acampamentos e assentamentos. Acreditamos que podemos avançar na luta por escolas se construirmos uma metodologia que potencialize a participação dessa juventude nos espaços de debate e mobilizações. A juventude pode pautar, a partir da agitação e propaganda, as bandeiras centrais que unificam a luta por escolas, identificar outras demandas como o ensino médio nas áreas, e construir intervenções, a partir de experiências vivenciadas nas áreas de acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária.