Presidentes participam de encerramento do Fórum Social das Américas
Por Eduardo Tamayo G. e Sandra Trafilaf
Da Minga Informativa
Com a presença dos presidentes Fernando Lugo, Evo Morales e Pepe Mujica, foi encerrado o IV Fórum Social das Américas (FSA), no domingo, em Assunção, no Paraguai.
Durante o evento, os movimentos e redes sociais de todo o continente americano apresentaram aos governantes as conclusões da Assembleia de Movimentos Sociais.
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O encontro com os presidentes aconteceu em um ambiente festivo no qual se escutaram palavras de ordem pela Reforma Agrária, contra a militarização e a criminalização dos povos e pela unidade latinoamericana.
Defesa da soberania
“Nossa América Latina está caminhando”. Com estas palavras, ditas também em guarani, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, iniciou sua fala aos participantes das diferentes organizações e movimentos sociais presentes no IV Fórum Social das Américas.
Lugo cumprimentou também os presidentes da Bolívia e do Uruguai, enfatizando que há alguns anos atrás era impensável que um indígena ou um ex-guerrilheiro chegassem a ocupar uma cadeira presidencial na América Latina, acrescentando que “ainda não alcançamos nossa meta, e não devemos perder o horizonte, a luz que nos mostra este Fórum Social das Américas, importante para iluminar os caminhos da América Latina”.
Fernando Lugo lembrou dos lutadores Simón Bolívar, São Martín, Artígas e das mulheres que lutaram pela libertação do continente: “quanto terão sonhado nossos pais e lutadores de nossa pátria para ver este momento? Um só povo em marcha na construção da pátria grande. Um sonho frustrado há dois séculos”.
Lugo destacou as manifestações de solidariedade com o povo paraguaio, que é a força que os sustenta pelo árduo caminho da mudança, afirmando que sem diversidade cultural e pluralismo não é possível avançar para uma verdadeira construção da América Latina.
Os povos e os governos progressistas estão fazendo grandes esforços para recuperar os recursos naturais, reafirmando e consolidando a soberania, para garantir os processos de integração que se desenvolvem em benefício dos povos.
Nesse sentido, o Paraguai aposta em uma integração energética regional e sub-regional, que disponha soberanamente de seus recursos, sob um novo modelo solidário.
O presidente do Paraguai também alertou sobre os perigos que espreitam a América Latina, lembrando o exemplo do golpe de estado em Honduras. Além disso, acrescentou que “a paz na região é outro elemento da democratização que vivem os países, frente às tentativas de desestabilização destes processos democráticos. O confronto direto não faz parte de nossa agenda, uma mostra disso foi o caso da Colômbia e da Venezuela, que estão construindo novas formas de superar os problemas”.
O novo desafio para Fernando Lugo é a urgência de adotar políticas públicas que permitam erradicar a pobreza, instalar um sistema de saúde preventiva, destinar fundos para uma educação gratuita e a formação de quadros e profissionais qualificados, com a ressalva de que este desafio se deve construir com os movimentos sociais para fazer realidade o sonho de milhões de pobres no continente.
A importância da diversidade
O presidente da República do Uruguai, José Mujica, colocou, em uma breve intervenção, que não há um só modelo de democracia.
Para ele, hoje a luta deve incluir a multiplicidade de modelos, acrescentando que “isso nos obriga a refletir que se deve aprender a viver sem agredir aos demais. A liberdade deve ser pensada desde a diversidade…Não conseguimos forjar ainda uma só pátria, extensa é a marcha, longo o compromisso, comprida a esperança”.
Ao capitalismo não interessa a vida
Evo Morales destacou os lucros econômicos alcançados pelo seu governo. Nos últimos 40 anos, a Bolívia tinha permanentes déficits fiscais, no entanto, agora é um país com uma outra realidade, isso graças à recuperação dos recursos naturais e por ter conseguido se libertar dos condicionamentos do G7 (os sete países mas ricos do planeta) e do Fundo Monetário Internacional.
“Esta é uma rebelião democrática contra o imperialismo, agora estamos melhor que antes”, manifestou Morales.
Ele denunciou que em décadas passadas se tomou as armas para lutar pelas mudanças, mas agora é o imperialismo que recorre às armas para tentar frustrar os processos de mudança da América Latina, utilizando os pretextos do narcotráfico e do terrorismo.
“Na Bolívia e em outros países os dirigentes sociais, sindicais e políticos, fomos acusados de narcotraficantes, nos jornais e demais materiais da grande imprensa se noticia que o Sub-comandante é narcotraficante e que Hugo Chávez é narcotraficante. Desde o episódio do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, o caso das Torres Gêmeas, nós, os líderes antiimperialistas e antineoliberais somos terroristas”.
Morales acrescentou que nas últimas semanas se instalou uma campanha, através de meios como CNN, que são os inimigos dos povos e defensores do imperialismo, na qual se lançam provocações e ofensas à revolução bolivariana, acusando o companheiro Chávez de proteger os terroristas.
Acrescentou, ainda, que para o Departamento de Estado, Chávez é terrorista e Morales é narcotraficante.
Em relação às mudanças climáticas, denunciou os efeitos que elas estão causando na Bolívia, onde a onda de frio provocou a morte de milhões de peixes na Amazônia, fenômeno que nunca tinha ocorrido.
Os incêndios, as inundações, as secas nunca antes vistas em alguns lugares aumentam cada vez mais. Frente a esta situação, o capitalismo, em vez de pensar em salvar a vida reduzindo seus gases de efeito estufa, está pensando em ampliar e salvar seus negócios, como o mercado de carvão, desenvolvido a partir de nossas florestas.
O capitalismo, em vez de salvar a humanidade, o planeta Terra, se preocupa apenas com os negócios, não lhe interessa a vida, não lhe interessa o planeta Terra, o que lhe interessa é acumular capital em poucas mãos, destroçando o planeta, a vida e a humanidade no seu conjunto. Por isso, segundo Evo, chegamos à conclusão que no presente século é importante defender a mãe terra para defender os direitos humanos.
Morales assinalou que alguns dos planejamentos da Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra, realizada em Cochabamba, em abril deste ano, foram incorporados como opções de negociação para a conferência sobre mudanças climáticas de Cancún, entre eles: limitar o aumento da temperatura a um grau centígrado, a redução de emissões em 50% até o ano 2017, respeitar os direitos da Mãe Terra e o pleno respeito aos direitos humanos e os direitos dos povos indígenas.
(Foto: Cláudia Denegri)