Assentamento garante escola e renda para 10 mil pessoas em Parauapebas

Por João Marcio Da Página do MST O assentamento Palmares, que tem 16 anos, está organizado em dois núcleos onde moram aproximadamente 10 mil pessoas, em Parauapebas, no Pará. Algumas características são diferentes de assentamentos do sul e sudeste do Brasil. “As famílias possuem lote urbano e rural dentro dos seus 15 mil hectares”, explica uns dos coordenadores do Palmares, Eurival Martins, o Totô.


Por João Marcio
Da Página do MST

O assentamento Palmares, que tem 16 anos, está organizado em dois núcleos onde moram aproximadamente 10 mil pessoas, em Parauapebas, no Pará. Algumas características são diferentes de assentamentos do sul e sudeste do Brasil. “As famílias possuem lote urbano e rural dentro dos seus 15 mil hectares”, explica uns dos coordenadores do Palmares, Eurival Martins, o Totô.

Ele diz que o modo de sobrevivência dos assentados do Palmares é pautado pela agricultura camponesa, para subsistência e venda do excedente por meio das cooperativas organizadas dentro do assentamento, que escoam a produção para feiras e supermercados da região de Parauapebas, município onde está localizado.

Além dessas, outras atividades econômicas são desenvolvidas. Segundo Totô, “os moradores organizaram uma cooperativa de transporte para atender a comunidade e todo comércio no Palmares é de propriedade dos assentados”.

A educação é outra prioridade. A Escola Municipal Aprendendo na Prática possui 1436 alunos matriculados atualmente, entre os ensinos médio e fundamental. A diretora Deusa Matos conta que a escola atende inclusive jovens de outras comunidades da região.

Deusa relembra com orgulho a fundação da escola, em 1994. “A pedra fundamental desse colégio foi plantada quando ficamos acampados cinco meses em frente ao Incra, em Marabá. Nesse período vimos a necessidade de alfabetizar nossas crianças e organizamos também o setor de educação do MST no Pará”, diz.

Os investimentos em educação não pararam por aí. O futuro é ainda mais promissor com a construção do Instituto Latino Americano de Agroecologia (IALA) no assentamento. Sua estrutura contará com 20 salas de aula e um auditório para 400 pessoas. Serão ministrados cursos de especialização para alunos de todo o Brasil e América Latina, em parceria com Universidade Federal do Pará (UFPA).

Charles Trocate, da coordenação nacional do MST, deixa claro o objetivo do instituto: “Queremos que nossos militantes e estudantes ajudem na resolução dos problemas que se apresentam na sociedade”.

Contador de histórias

Dentre os diversos moradores do assentamento Palmares, Francisco Marques Ferreira Filho, o Chico, se emociona ao contar a sua trajetória e a das famílias até a conquista do assentamento. “Quem vê isso aqui hoje não sabe a luta que travamos para conseguir esse pedaço de terra”.

Chico conta que a primeira área a ser ocupada foi o cinturão verde, controlado pela mineradora Vale em Parauapebas. “Militantes do MST fizeram trabalho de base no município de Curionópolis para ocuparmos uma área da Vale, como pressão ao governo pela Reforma Agrária. Aceitei na hora, pois vinha do Maranhão em busca do garimpo, mas já não tinha mais nada”.

Depois disso, área de poder dos latifundiários da família Nardeli, que hoje é parte do Palmares, foi ocupada. “Ficamos três meses intocados dentro da mata, pois a ameaça de pistoleiros era intensa”.

Embora o Incra tivesse interesse de comprar a área para fins de Reforma Agrária, a família Nardeli negava as negociações. Chico recorda que 1.500 famílias caíram na estrada. “Rapaz, imagine sair daqui com família no meio dessa estrada! Só dava para almoçar, por causa da quantidade de comida, que era pouca”.

Mas no meio da marcha que iria para Eldorado dos Carajás, os trabalhadores tiveram a notícia de que o governo federal estava prestes a comprar a área. “Foi um dia histórico, o Incra arrumou uns ônibus para as famílias voltarem ao acampamento e 40 companheiros nosso seguiram para Brasília, numa comissão que continha senadores e membros do Instituto de Terra do Estado do Pará (Iterpa), para acompanhar a audiência de negociação com os Nardeli”.

O governo acabou comprando a terra por um preço superfaturado: “Foi $ 8 milhões por 15 mil hectares de terra”, revela Totô.

Embates com a Vale

A mineradora Vale, que corta com sua linha férrea parte considerável do assentamento Palmares, sofreu várias mobilizações feitas pelos assentados contra as imposições da empresa na região. “A mineradora influência em todas as decisões políticas e judiciais na cidade”, aponta Totô.

A mais emblemática foi a ocupação da linha férrea em 2007. “Foi quase um mês de ocupação para pressionar que o governo municipal e a empresa cumprisse com seus deveres sociais perante a comunidade, tínhamos uma pauta pedindo o asfaltamento da vila urbana, ampliação da escola e saneamento básico, entre outras demandas. Algumas coisas foram cumpridas, outras ainda não”, lembra Chico.

Chico diz que hoje é satisfatório ver como muitos dos assentados tem outra consciência. “Tinha companheiros que quando chegaram aqui não sabiam ler e escrever, hoje discursam muito bem, se politizaram”, orgulha-se.

Participante assíduo das mobilizações de hoje e de ontem, que garantiram a conquista das famílias a terra, a soberania alimentar e a uma renda que proporciona boas condições para viver, Chico diz que despertou depois que passou a integrar o movimento.

“Eu achava que a sina do povo era sofrer, mas no MST aprendi que as conquistas são feitas de luta, como a que conquistamos o assentamento Palmares e o fizemos ao longo desses 16 anos de vida”, conclui.