Sem Terra fazem homenagem: ‘Jaelson Melquíades. Presente’

Por Rafael Soriano Da Página do MST Cerca de 1500 famílias Sem Terra realizam na manhã desta terça-feira (30/11) uma caminhada pelas ruas do Centro de Maceió a partir das 8h para pressionar o Poder Público pela punição dos algozes de Jaelson Melquíades e tantos outros que tombaram na luta pela terra. Os agricultores fizeram uma manifestação de paz pelas ruas de Atalaia no dia de ontem, quando se completou cinco anos do mais recente assassinato de liderança do campo no Estado.


Por Rafael Soriano
Da Página do MST

Cerca de 1500 famílias Sem Terra realizam na manhã desta terça-feira (30/11) uma caminhada pelas ruas do Centro de Maceió a partir das 8h para pressionar o Poder Público pela punição dos algozes de Jaelson Melquíades e tantos outros que tombaram na luta pela terra.

Os agricultores fizeram uma manifestação de paz pelas ruas de Atalaia no dia de ontem, quando se completou cinco anos do mais recente assassinato de liderança do campo no Estado.

O Dia Estadual de Luta contra a Impunidade e Violência no Campo e na Cidade começou ontem com uma manifestação pelas ruas de Atalaia.

“Os comerciantes e moradores de Atalaia não mais fecham suas portas ao MST, como há quatro anos fizeram. Isso é fruto de um trabalho contínuo de relação com a população e entendimento desta das reais causas da luta pela terra, que também irá beneficiá-los”, afirmou o padre Arnaldo, da paróquia do município, durante a celebração mística na Rodoviária no Centro da cidade.

O ato de fé e justiça contou ainda com a presença de entidades urbanas que sempre apoiaram a luta do MST, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e sindicatos como o dos trabalhadores da educação e o dos jornalistas. Para Lenilda Lima, vice-presidenta da CUT-AL, “os trabalhadores rurais vivem um clima de tensão e apreensão no campo alagoano.

Quando muito se prende são os executores dos assassinatos, mas raramente seus mandantes. Não basta ter discurso sobre a segurança, se não houver aplicação prática de políticas que a estabeleçam. Mas as autoridades não agem porque são dependentes e acobertadas pelo latifúndio”.

A representante do Sindicato dos Jornalistas, Elida Miranda, completa: “quando são crimes que atingem as elites de Alagoas, a população é obrigada a assistir verdadeiras novelas na mídia sobre os casos, mas quando é o Francisco, o José, o Jaelson, viram apenas estatística e nada se resolve”. O ato contou ainda com a participação da Igreja Católica e com falas do movimento social, em que se lembrou os momentos de coragem desses companheiros assassinados e a permanência de seu espírito de luta, semeado em cada um e cada uma que hoje continuam na batalha.

As milhares de famílias que marcharam nas ruas da Atalaia rumaram então a Maceió, onde ergueram acampamento na praça dos Martírios (Centro) e participam de uma vigília durante a semana.

A violência contra os camponeses não se limita aos assassinatos cruéis de lideranças, mas ainda a falta de políticas públicas que atendam os direitos básicos da população rural. A falta de crédito, de infra-estruturas básicas, de educação, atenção em saúde são exemplos de uma violência estatal que atinge todos os dias o campo alagoano.

Audiência com a Associação dos Municípios Alagoanos

Aproveitando a presença dos agricultores na Capital, uma série de audiências com o Poder Público iniciou nesta segunda-feira (29). A primeira delas foi com a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), contando com a presença de apenas quatro dos 33 prefeitos convidados.

Durante a semana, os trabalhadores ainda pretendem se reunir para encaminhar suas demandas com setores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto de Terras de Alagoas (Iteral), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Eletrobrás/Distribuição Alagoas (antiga Ceal).

Durante a audiência no auditório da AMA, quando o prefeito Palmeri Neto de Cajueiro, representante da entidade, se referiu ao MST como “um Movimento que luta pelo bem-estar das famílias assentadas, mas também pelo bem-estar de toda a população”, foram firmados alguns acordos políticos.

O primeiro entendimento entre as partes é que haverá uma colaboração para buscar recursos para resolver as demandas dos Sem Terra nos ministérios, governos e outras fontes financiadoras. Ainda, tanto prefeitos como camponeses se comprometeram a encaminhar propostas para serem formulados projetos que facilitem a busca destes recursos e agendaram para o dia 21 de fevereiro a continuidade dessa articulação, já com a definição de todos os ministérios e posse dos deputados eleitos.

Marcos Madeira, prefeito de Maragogi, cidade que possui o segundo maior número de assentamentos do país, proporcionalmente, deu seu testemunho: “disseram que eu ia ter muito problema com os Sem Terra, quando assumi. Quando conheci a luta do MST, me aliei a eles. Se não tivesse a terra, quantos não estariam sem emprego?”. Seu filho, Marquinhos Madeira, deputado eleito no último pleito se comprometeu a dedicar o mandato a elaboração de projetos de lei que auxiliem no andamento da Reforma Agrária no Estado.