Assassinos de dirigentes do MST são condenados em PE
Por Cassia Bechara
Da Página do MST
Os assassinos Cícero Soares de Melo e Luiz José dos Santos, conhecido como Luiz Nanai, foram condenados em um Juri Popular por duplo homicídio qualificado dos dirigentes do MST Josias de Barros Ferreira, de 28 anos, e Samuel Matias Barbosa, de 33, em 2006. Eles receberam a pena de 40 e 39 anos de prisão respectivamente.
Josias e Samuel foram covardemente assassinados no acampamento Alto da Balança, às margens da BR-232, no município de Moreno (PE), em agosto de 2006. No acampamento viviam, desde 2000, 59 famílias ligadas ao MST.
Vitória contra os crimes do latifundio
Apesar das manobras que rodearam o processo: o julgamento havia sido adiado na última sexta-feira, por um pedido do Promotor de Justiça, que repentinamente voltou atrás de sua decisão durante o final de semana, sem comunicar o MST.
A avaliação era que se tratava de uma manobra para que o julgamento fosse realizado sem a participação do MST, de seu advogado de acusação ou mesmo da imprensa.
Mesmo assim, o resultado do julgamento simbolizou uma importante vitória contra a impunidade dos crimes do latifúndio e um precedente que pode influenciar outros julgamentos.
Para o MST, esse resultado representa a justiça pelos assassinatos de dois importantes dirigente do Movimento, que foram assassinados por dedicar suas vidas à luta pela Reforma Agrária e por defender as bandeiras e os princípios do MST.
Histórico do caso
Em janeiro de 2006, a empresa Copergás iniciou negociações para a desocupação da área, com o intuito de construir um gasoduto.
Entendendo a importância da obra para o Estado de Pernambuco, o MST aceitou desocupar a área, com a condição de que as famílias fossem assentadas em outra área próxima, e de que não fosse paga nenhuma indenização pela desocupação.
Os assassinos estavam infiltrados no acampamento a serviço de um político da região, o radialista Murilo, com o objetivo de convencer as famílias a receber indenização pela desocupação da área.
Para o MST, aceitar dinheiro em troca de terra contra os princípios do Movimento, que luta por Reforma Agrária e considera que a terra não pode ser uma mercadoria.
Com o resultado de uma assembleia realizada no acampamento, em que a maioria das famílias decidiu que não se aceitaria a indenização proposta – e que continuariam a luta pelo assentamento – Cícero mandou que fosse retirada a bandeira do MST do local, no sentido de tentar desqualificar a área como sendo do MST e conseguir a indenização.
Josias disse que a bandeira só seria retirada por cima do seu cadáver. Ao dar as costas, o dirigente do MST foi alvejado. Samuel tentou socorrer o companheiro e também foi baleado nas costas.
Josias morreu na hora. Samuel foi socorrido com vida e levado ao Hospital da Restauração, mas não resistiu.
Mesmo depois de alvejar os dois com tiros, os assassinos ainda deram chutes, machadadas e mutilaram parte do corpo de Samuel, enquanto ele ainda estava vivo.
Para o Reverendo Marcos Cosmo, do MTST, que foi citado pela imprensa local como sendo o movimento ao qual o Cícero estaria ligado, a briga não foi entre sem-terra ou entre sem-terra e sem-teto: “Essas pessoas não pertenciam ao MTST. Não existe nem nunca existiu conflito entre nós e o MST”.