Assassinos de trabalhadores Sem Terra ficam impunes no PR

Da Terra de Direitos

O julgamento do assassinato dos trabalhadores rurais Vanderlei das Neves, 16 anos, e José Alves dos Santos, 34 anos, terminou ontem, às 21h, depois de dois dias de relatos de testemunhas e interrogatórios da defesa e acusação. Os acusados, Antoninho Valdecir Somenzi, 57 anos, e Jorge Dobinski da Silva, 69 anos, foram absolvidos pelo júri, que alegou falta de provas para atribuir os crimes aos suspeitos.

Em 16 de janeiro de 1997, cerca de dez trabalhadores foram alvejados por tiros em uma lavoura de milho. Na ocasião, além de Neves e Santos, que morreram no local, José Ferreira da Silva, 38 anos, também foi ferido com um tiro de raspão no olho.

O crime aconteceu na Fazenda Pinhal Ralo, em Rio Bonito do Iguaçu, da empresa Giacometi Marondin (atual Araupel), na área que pertence a maior ocupação de terras realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O caso foi apenas o 2º julgamento de trabalhadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Paraná. O júri já havia sido cancelado oito vezes e aconteceu mais de 13 anos depois do crime. Cerca de 100 integrantes do movimento acompanharam o julgamento (Leia mais).

Demora da justiça pode ter influenciado na decisão dos jurados

De acordo com o assessor jurídico da Terra de Direitos Antonio Sérgio Escrivão Filho, o conjunto de casos de assassinatos demonstra um padrão de impunidade seletiva em relação aos crimes que envolvem a morte de trabalhadores rurais sem terra. “Nestes casos, é recorrente que já o inquérito policial se arraste por uma década. O mesmo ocorre com esses crimes quando chegam no judiciário”, diz.

Segundo o assessor, no Paraná temos ainda dois assassinatos ocorridos há mais de cinco anos que ainda estão em fase de inquérito policial, e dois assassinatos que aconteceram há mais de dez anos cujos acusados ainda não foram julgados. “Este padrão de impunidade alimenta a violência contra trabalhadores rurais sem terra no Brasil”, enfatiza.