Camponesas assumem debate contra agrotóxicos no PR
Por Andrea Rosendo e Riquieli Capitani
De Ponta Grossa/ Paraná
O mês de março é marcado por diversas atividades das mulheres urbanas e rurais. Em todo o Paraná, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos sociais da Via Campesina fizeram debates internos e foram às ruas denunciar o uso excessivo dos agrotóxicos nas plantações.
Por Andrea Rosendo e Riquieli Capitani
De Ponta Grossa/ Paraná
O mês de março é marcado por diversas atividades das mulheres urbanas e rurais. Em todo o Paraná, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos sociais da Via Campesina fizeram debates internos e foram às ruas denunciar o uso excessivo dos agrotóxicos nas plantações.
Nesta sexta-feira (11), cerca de 300 pessoas ligadas aos assentamentos da região correram o risco de serem alvos da violência policial em frente à empresa Cargill, na região sul, em Ponta Grossa, quando a Polícia Militar foi acionada para intimidar as manifestantes.
O confronto com os policiais aconteceu durante o ato em alusão ao Dia Internacional da Mulher, logo após a saída das camponesas do prédio da Bunge, onde fecharam os portões daquela empresa. De lá seguiram para o protesto em frente à Cargill, onde onze policiais da polícia militar do Paraná – inclusive um deles com um cão – foram acionados para tentar coagir as manifestantes.
As mobilizações em frente às duas empresas aconteceram porque Ponta Grossa concentra várias indústrias ligadas ao agronegócio, que produzem insumos agrícolas (venenos), o que, para os camponeses, leva à contaminação dos trabalhadores e trabalhadoras e ao aprofundamento da crise ambiental. A intenção era realizar panfletagem denunciando os riscos do uso dos agrotóxicos. No entanto, a atitude revelou o papel da polícia no governo Beto Richa.
Para uma das lideranças do pré-assentamento Emiliano Zapata, Genecilda Gotardo, de Ponta Grossa, a manifestação com ênfase nestes temas foi levantada pelas mulheres para mostrar os impactos dos agrotóxicos sobre a saúde dos camponeses e camponesas.
“Dentro dos movimentos sociais já havia essa discussão, mas faltavam as mulheres do MST e da Via Campesina assumirem essa luta, porque os dados dos trabalhadores doentes que manuseiam os venenos não aparecem. Quando o camponês vai ao médico, dizem que ele está doente por outros motivos porque o médico é pago pela firma e jamais vai dizer que a pessoa está doente porque mexeu no veneno. O ser humano tem o direito de saber com o que vai trabalhar e o que vai comer. A saúde entra pela boca. Mas não tem nenhum documento, nada que revele as mortes por conta disso”, denunciou a camponesa.
Audiência pública
Antes do confronto com os policiais, os trabalhadores e trabalhadoras do campo participaram de uma audiência pública na Câmara Municipal, organizada pela Sindicatos dos Professores (APP-Sindicato) e pela vereadora Ana Maria de Holleben. Na pauta de discussão, estava a efetivação da Casa de Abrigo para Mulheres Vítimas de Violência, que já possui estrutura no bairro Santa Paula, em Ponta Grossa.
“Todos os problemas que o capitalismo cria, o Estado tem que resolver. A lei não cuida dos pobres. E o problema da violência é resultado da desigualdade no país. Temos uma Casa em Ponta Grossa, mas está fechada. O Estado precisa atender todas as mulheres vítimas de violência”, reivindicou Genecilda.
A vereadora professora Josete (PT), de Curitiba, trouxe dados da pesquisa sobre a violência doméstica da Fundação Perseu Abrano de 2010, intitulada “Mulher Brasileira e Gênero no Espaço Público e Privado”. Segundo ela, 23 por cento da violência praticada contra a mulher estava relacionada com alcoolismo, drogadição ou desequilíbrio, mas, por outro lado, 84 por cento das entrevistadas já ouviram falar da Lei Maria da Penha, que tipifica todas as formas de violência.
“A lei caracteriza todos os tipos de violência, mas é mais voltada para a principal, que é a violência doméstica. Também trouxe avanços como a assistência à mulher vítima de violência, criação de juizados e medidas protetivas e também assistência jurídica, mas no Paraná não há uma Defensoria Pública. Temos de cobrar isso do Estado. Outro desafio é garantir a efetivação das políticas públicas em educação e saúde e cobrar para que as delegacias estejam preparadas para atender as vítimas. No Paraná só há um Juizado Especial para atendê-las e em Curitiba apenas uma Casa Abrigo”, destacou a vereadora.
Partilha de alimentos e de conhecimentos
A partilha de alimentos da agricultura familiar camponesa aconteceu na praça central de Ponta Grossa. Na ocasião, as mulheres partilharam também conhecimentos sobre luta das mulheres camponesas.
A dirigente do MST Maria Isabel Grein destacou o objetivo da ação. “Estamos na rua neste Dia Internacional da Mulher para protestar contra a violência a mulher trabalhadora, a violência doméstica e a violência do capital no campo, que incide sobre os nossos corpos através do modelo de agricultura da monocultura produzida com sementes transgênicas. O grande volume de agrotóxicos também vem prejudicando a saúde de quem vive no campo e de quem se alimenta destas mercadorias produzidas pelo agronegócio”, declarou.
O ato serve para denunciar ainda o aumento de abortos, a incidência de câncer e doenças do sistema nervoso entre os trabalhadores e trabalhadoras do campo. De acordo com Maria Isabel: “Querem roubar nossa cultura camponesa, mas continuamos lutando pela Reforma Agrária nas áreas conquistadas. Estamos produzindo alimentos saudáveis para nossas famílias e para o povo brasileiro. E, como mulheres, continuaremos na luta pela vida, pela Reforma Agrária e pelo direito de produzir alimentos sem agrotóxicos, participando com nossos companheiros das mobilizações da classe trabalhadora”, frisou.
Para a engenheira florestal e assentada da Lapa, Priscila Facina Monnerat, as indústrias não podem ditar as regras do que utilizar ou não na agricultura. “Desde ha muito tempo é uma obrigação usar os agrotóxicos. Ninguém pede se você aceita ou não. Por isso, temos que ajudar a fazer essa denúncia para a sociedade. No entanto, temos que oferecer alternativas e uma delas é a agroecologia, que serve como contraponto a esse modelo que destrói e traz sérios riscos a vida humana”, ponderou.
Antes da alimentação coletiva, a secretária de Gênero e Igualdade Racial da APP-Sindicato, Lirani Maria Franco, reafirmou o compromisso do sindicato com a luta das camponesas e com a educação do campo. Para ela, a educação pública tem um compromisso em dar visibilidade às condições desiguais de vida que, ainda hoje, as mulheres sofrem.
“A dupla jornada de trabalho, o cuidado com a família, os deveres da casa são atribuições que a sociedade ainda cobra das mulheres, como se somente a elas coubessem essas responsabilidades. Enfrentar a violência contra as mulheres é outro desafio. Mulheres da cidade e do campo têm que se somar na luta pela igualdade entre homens e mulheres. E a APP contribuí com esse processo seja na formação ou na defesa de políticas públicas para melhorar a vida das mulheres e defende a educação do campo. Esta tem que servir para mudar a realidade do campo respeitando a sua cultura e o seu desenvolvimento”, declarou.
Ainda sobre o tema, Genecilda lembrou que o governo tirou as escolas do campo e levou-as para as cidades. “Queremos nossas escolas nos nossos assentamentos. Como estamos num pré-assentamento, ainda não construímos, mas nos outros assentamentos os educandos foram levados para as cidades. Isso para nós não constrói porque se a gente tira a criança do campo não tem a continuação do nosso trabalho, pois ela passa a viver a cultura da cidade”, argumentou.
Panfletagem
Os camponeses também seguiram pelas ruas da cidade fazendo panfletagem, atividade prevista na Jornada Nacional de Mobilizações das Mulheres. O Paraná é o 11º estado a realizá-la, em ação que está mobilizando mulheres desde o dia 04 de março, reunindo cerca de 2.500 mulheres do MST.
O primeiro encontro ocorreu entre os dias 4 e 5 de março em Maringá (Região Noroeste) e reuniu cerca de 160 pessoas. No sábado (12), na Região Oeste, 200 mulheres realizaram estudo e debate coordenado por Isabel Grein sobre “A história da mulher na luta”. Na Região Central, a estimativa é reunir, em 20 de março, 1.500 mulheres que irão fazer o debate sobre o tema e também discutir a violência que as mulheres sofrem. Na atividade de Ponta Grossa, a participação envolveu camponeses dos assentamentos da Lapa e Bituruna.
As manifestações desta sexta-feira tiveram apoio do Movimento Sem Terra (MST), APP-Sindicato, entre outros movimentos da Via Campesina. Vários protestos já ocorreram em anos anteriores na cidade, mas este foi o primeiro comandado por mulheres campesinas da região sul do Paraná.
Luz para todos
A luz não é para todos os assentados. As 50 famílias do Emiliano Zapata ainda vivem sem energia elétrica. Segundo os camponeses, isso inviabiliza a produção, a comunicação e dificulta a educação das crianças. Foram com esses argumentos que as mulheres se dirigiram à sede da Copel para exigir a instalação da energia elétrica. “Estamos há oito anos no assentamento, mas precisamos de documentos para que a luz seja instalada. Estamos indignadas, pois não temos documentos da área. Estamos dizendo para o poder público de Ponta Grossa que é possível levar a luz para o campo?”, questionou Genecilda.
Posse das terras
A caminhada até a sede da Embrapa foi a primeira atividade do dia. Trabalhadoras e trabalhadores do campo foram cobrar a posse do assentamento Emiliano Zapata. Desde 2003, as famílias instaladas em uma área de 630 hectares na Fazenda Modelo, propriedade da Embrapa, vivem apenas com um gerador de energia com uso controlado.
Como o INCRA ainda não legalizou a área, os assentados pedem a agilização no processo da regularização da terra. “Queremos que o INCRA faça a liberação da área para que possamos ter acesso às políticas públicas da Reforma Agrária”, enfatizou uma das lideranças.