Assentamento 17 de abril completa 15 anos de resistência
Por João Marcio
Da Página do MST
Em abril, o Assentamento 17 de abril completa quinze anos de existência, sendo umas das mais emblemáticas conquistas dos MST.
Parte das vítimas do massacre na "Curva do S", em Eldorado do Carajás, no Pará, que resultou em 21 mortes e aproximadamente 69 mutilados, depois de marcha do antigo acampamento da fazenda Macaxeira, vivem nesse assentamento.
Se a conquista da terra foi simbólica à custa de vidas e consequentes pessoas com sequelas, o modo como o assentamento se desenvolveu se tornou modelo.
Por João Marcio
Da Página do MST
Em abril, o Assentamento 17 de abril completa quinze anos de existência, sendo umas das mais emblemáticas conquistas dos MST.
Parte das vítimas do massacre na “Curva do S”, em Eldorado do Carajás, no Pará, que resultou em 21 mortes e aproximadamente 69 mutilados, depois de marcha do antigo acampamento da fazenda Macaxeira, vivem nesse assentamento.
Se a conquista da terra foi simbólica à custa de vidas e consequentes pessoas com sequelas, o modo como o assentamento se desenvolveu se tornou modelo.
Em um município dominado pelas grandes fazendas-empresa, cuja derrubada da mata serviu apenas para formação de pasto à agropecuária, o assentamento representa hoje um certo equilíbrio para o abastecimento de alimentação para a cidade.
O povo paraense já sente na mesa da refeição o tratamento desigual dado à agricultura camponesa, comparado ao agronegócio e à monocultura das grandes fazendas. “O segundo maior Estado da federação, em extensão de terras, não assegurou ainda sua soberania alimentar. Hoje compra arroz e feijão de Tocantins, Goiás e até São Paulo”, afirma Raimundo Oliveira, líder do PT no sudeste do Pará.
Embora a agricultura camponesa esteja em segundo plano, é a maior responsável por 70% de alimentos consumidos no país, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
Dados da prefeitura de Eldorado do Carajás confirma a importância do Assentamento 17 de Abril para a cidade. A cidade possui o maior número de agricultores da região, abastecendo cerca de 20% total do mercado local, sendo o frango, o milho e a mandioca os produtos mais escoados para a cidade.
A produção de leite também é expressiva. Segundo a prefeitura, são de 15 a 20 mil litros por dia ordenhados, o que representa a média da produção nacional, além da apicultura, que manda à cidade mais de 200 quilos de mel anualmente. Sem contar um criadouro com 25 mil peixes.
Diversidade orgânica
Para Altamiro Simplicio da Silva, tudo que se planta “nas terras do assentamento se colhe”. Em seus 25 hectares, planta milho, cupu, jiló, berinjela, coco, repolho, abóbora, cenoura, alface, beterraba, pimentão, mamão, arroz e caju. Seu Altamiro é o maior produtor de cacau na região, em 2010 colheu dois mil e quinhentos quilos da fruta.
Com uma renda de seis a sete mil reais mensais, no país campeão de consumo de agrotóxicos, ele afirma o seguinte: “não utilizo nada de fertilizante, herbicida, veneno, tudo eu mesmo faço, com o esterco da galinha, do boi a das folhas secas, além da produção diversificada que ajuda a proteger dos bichos, assim economizo dinheiro e não enveneno meus alimentos”.
O agrônomo e assentado Alessandro dos Santos Silva diz que é uma prática dos agricultores não utilizar venenos em suas plantações e diversificar ao máximo, assim como ele que planta milho, melancia, mandioca, tem um criadouro de peixe, e ainda possui alguns gados leiteiros.
Hoje cerca das 700 famílias que vivem nos 37 mil hectares no assentamento tem seus ganhos de diferentes maneiras.
O senhor Jeová Cavalcanti, o segundo cadastrado para conseguir um lote na então fazenda Macaxeira, vive da venda do leite para a cidade, porém toda a alimentação de sua família é retirada do lote, onde planta arroz, maracujá, milho, feijão, abacate, goiaba, manga e limão, além de criar porco e galinha.
”Dificilmente vou ao mercado na cidade comprar algo, pois daqui eu tiro tudo”, afirma.
“Criei foi meus treze filhos do que plantei nessa terra”, afirma o senhor Raimundo Silva. Para ele, essa é uma característica dos assentamentos. “As pessoas decidem o modo como querem viver, participam da vida política do local, tem acesso às terras e seu meio de produção”.
“Se trabalhasse numa fazenda e não no meu lote, jamais discutiria os rumos da comunidade, e viveria escravo de macroeconomia decidida pelos que dominam a produção e a terra”, reconhece Silva, filho do assentamento 17 de abril, que é formado em agronomia.