Mészáros analisa crise do capital em Campinas

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Abaixo, leia entrevista exclusiva de Mészáros à Revista Sem Terra (edição de janeiro/fevereiro de 2008), concedida a Igor Felippe e Miguel Stedile. O pensador ataca capital financeiro e governos, e enfatiza papel da educação rumo ao socialismo

A articulação do capital financeiro com os países mais poderosos de toda a história da civilização ocidental ameaça o futuro da humanidade pelo nível de exploração da natureza. O motor do desenvolvimento que sustentava a superioridade do capitalismo sobre os outros modos de produção, o conceito de “destruição produtiva” criado pelos economistas neoliberais, sofreu uma mudança estrutural que o deixou do avesso. Atualmente, o sistema capitalista avança por meio de uma “produção destrutiva”.

“A maneira como o sistema capitalista opera hoje, sob o domínio do capital financeiro destrutivo e com apoio de poderosos governos, está nos levando à destruição. Temos que nos opor fundamentalmente a isso”, defende o pensador húngaro István Mészáros, professor emérito da universidade de Sussex, na Inglaterra, designado o principal intelectual marxista da atualidade.

Nascido em Budapeste, em 1930, o autor de “A teoria da alienação em Marx” (1970), “O poder da ideologia” (1989) e de “Para além do capital – Rumo a uma teoria da transição” (1995), publicados no Brasil pela editora Boitempo, visitou a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), na cidade de Guararema (SP), em novembro.

Mészáros recebeu uma homenagem do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) pela importância da sua obra para a compreensão da sociedade contemporânea e pela contribuição na luta socialista. Na escola, ele plantou uma árvore de mogno para deixar a marca da sua visita.

“Considero o Movimento Sem Terra muito importante para o futuro por uma característica particular. Eu escrevo muito sobre a necessidade de uma aliança substantiva, não formal, e o movimento é uma manifestação muito clara e importante dessa aliança, que é o futuro”, declarou o pensador na cerimônia.

 

A seguir, trechos de seu depoimento.

CAPITAL E GOVERNOS

O capital financeiro tem o poder de governos e os governos poderosos apóiam o grande capital. Se você olhar ao redor do mundo, todos os governos neoliberais estão do lado do grande capital. A única saída é resistir por meio de um modelo que garanta o futuro, preserve o meio ambiente e a terra, em vez da destruição do planeta onde vivemos. Temos que nos opor fundamentalmente a isso. O MST é diferente disso, não causa destruição e está construindo. Não envenena a terra e respeita o ciclo de produção natural.

AGRICULTURA

“O grande capital domina o agronegócio e produz destruição, porque a sua única razão é o lucro. Destrói florestas e tantas outras coisas, inclusive com o uso de venenos químicos que se coloca na terra. O futuro e a sobrevivência humana dependem da resistência ao poder financeiro do grande capital nesse campo”.

CIRCULO VICIOSO

“Nunca houve um sistema de produção na história da terra que possa remotamente ser comparado ao desperdício da economia capitalista. Não há futuro nisso, que só pode durar por um curto período”.

MOVIMENTO DE MASSA

“Precisamos de um grande movimento de massa. Não pequenos movimentos e movimentos que brigam entre si, por pequenas divisões sectárias que não conseguem nada. É preciso um grande movimento de massa, educação e modelo viável de produção, uma forma de vida sustentável”.