MST promove encontro com 400 assentados no Mato Grosso do Sul

 

Do FatimaNews

 

 

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Em pronunciamento feito na tarde desta quarta-feira (20), na abertura do 3º Encontro Estadual dos Assentados, que está sendo realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) nas dependências da Escola Estadual Nova Itamarati, no Assentamento Itamarati, em Ponta Porã, o economista João Pedro Stédile, membro da executiva nacional do MST, disse que o governo da presidenta Dilma Rousseff ainda não avançou em termos de investimentos e que tem seguido apenas o ‘trilho’ deixado pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

A participação do economista no primeiro dia do encontro, que dura até sábado (23), atraiu centenas de lideranças políticas, empresariais, do MST e de órgãos federais e estaduais. Stédile só iria falar ontem, mas como o outro palestrante, Ademar Bogo, não conseguiu cumprir a agenda, o líder nacional do MST permaneceu no assentamento e fará nova palestra hoje no encontro.

Durante a abertura foram registradas as presenças de José Batista dos Santos, da coordenação nacional do MST; ex-deputado federal João Grandão (PT-MS), Gilberto Rodrigues, da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer); Paulo Roberto da Silva, superintendente da Pesca no Estado; o ex-prefeito de Ponta Porã, Vagner Piantoni (PT); Celso Arruda, delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em Ponta Porã; Yolanda Gauto, chefe do escritório do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), entre outros.

O público, estimado em aproximadamente 400 pessoas, contou com representantes de entidades de agroecologia, acadêmicos das Universidades Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Federal da Grande Dourados (UFGD), líderes e assentados de outros assentamentos do Estado. Ao abrir o evento, João Pedro Stédile fez uma análise da conjuntura política e social no Brasil.

Enfrentamento no campo

Para Stédile, a luta da classe na agricultura brasileira está perdendo o enfrentamento no campo para o agronegócio, que segundo ele, é formado por três pontas: os grandes latifundiários, os bancos e seus financiamentos e as grandes empresas multinacionais, “que estão tomando conta da agricultura brasileira”. Segundo ele, essas multinacionais estão interessadas apenas na monocultura, como a soja, milho, algodão e ultimamente a cana de açúcar para produção de etanol.

“Esse monocultivo é uma grande barreira para a agricultura familiar que depende de explorar outras culturas, tanto para subsistência como para o comércio, já que especialmente o Assentamento Itamarati é dotado de uma grande área e com muita diversidade agrícola”, explicou. No modelo do agronegócio implantado no Brasil, João Pedro Stédile entende que não há espaço para o pequeno agricultor. “Não precisamos existir para o agronegócio ganhar seu dinheiro”, comentou.

Uso de agrotóxicos

O economista lembrou que o agronegócio explora a terra de forma mecanizada, à base de agrotóxico. “Agride o meio ambiente matando a biodiversidade e provocando chuvas desproporcionais em regiões atípicas, despovoa a área rural, não oferece oportunidades de trabalho e manda o homem do campo de volta para os grandes centros, é uma agricultura sem agricultor, somente na base de máquinas agrícolas”, argumentou.

Classe trabalhadora

Stédile observou que desde 1989 a classe trabalhadora não tem participado da política brasileira. Segundo ele, a sociedade brasileira está amortizada por duas condicionantes: o monopólio dos meios de comunicação e o refluxo do movimento de massas. A primeira condicionante, segundo ele, é explicada por existir no Brasil três grupos que controlam tudo.

“Por isso que as manchetes dos jornais televisivos são todas iguais: eles se combinam mesmo”, revelou. “A outra condicionante é que estamos no refluxo do movimento de massas. É como se a classe ficasse em silêncio, esperando uma oportunidade melhor. É como numa partida de futebol: quando a torcida percebe que o time está perdendo, ela fica em silêncio”, explicou.

Distribuição de renda

Ao abordar a questão do Código Florestal e da política social do país, João Pedro Stédile revelou que uma recente pesquisa encomendada pela presidenta Dilma Rousseff teria 90% constatado que a população brasileira é contra o novo Código Florestal. “Vai favorecer o agronegócio e prejudicar o pequeno agricultor familiar”, sentenciou.

Stédile também criticou o governo Lula quanto à distribuição de renda. Para ele, programas sociais como o Bolsa Família, não é distribuição de renda e sim ‘transferência de renda’. Stédile alertou ao governo federal que “faça uma verdadeira distribuição de renda e não dê continuidade nessa ‘transferência de renda’ de seu antecessor”. Mesmo assim, reconheceu que o programa conseguiu tirar 40 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

Com admirável capacidade de discorrer sobre a conjuntura política do país e o papel dos movimentos sociais no processo de transformação, João Pedro Stédile representa o rosto e a história de um movimento que, contra a vontade de alguns, angaria adeptos e simpatizantes por todo o país. Na sua fala severa, se percebe a voz da intelectualidade calejada que está na luta, e encontra na rigidez a forma de defender a ética social.