“Não arredaremos o pé enquanto não tivermos terra para produzir”

 


 


Por Nanda Barreto

Ainda era madrugada quando a linha de frente o MST cortou o alambrado e iniciou a ocupação de uma área de 600 hectares em Viamão, na Grande Porto Alegre. Aproximadamente 200 famílias estão no local. A ação integra a estratégia do MST para pressionar o governo gaúcho a cumprir um termo de compromisso firmado em abril deste ano.

Pelo acordo, o governo Tarso deveria assentar mil famílias até 2012. A promessa, no entanto, ficou só no papel e até agora nenhuma família teve seu direito garantido. “Estamos determinados: pra gente sair daqui só com um assentamento concreto. Temos companheiros que estão há 7, 8 anos vivendo debaixo da lona, lutando pelo direito de produzir. É um vida dura”, salienta trabalhador rural João Paulo da Silva, que deixou o acampamento Nova Esperança, em Santana do Livramento, para participar da ocupação.

Por volta das 10 horas, a primeira viatura da Polícia Militar chegou ao local – situado nas redondezas do pedágio da RS 040 – para conversar com lideranças. O advogado Emiliano Maldonado, que presta assessoria jurídica ao grupo, explica que a área ocupada não cumpre nenhuma função social, além de prestar um desserviço à sociedade. “É uma terra livre para o tráfico. No início deste ano uma operação da Polícia Federal apreendeu cerca de duas toneladas de maconha num galpão que fica na área”.

Resistir, produzir

Enquanto dezenas de integrantes do movimento levantavam barracas, e armavam estruturas de bambu e penduravam faixas e bandeiras, a agricultora Jussara Melo se dedicava a preparar o almoço coletivo. Acampada há 6 meses no interior do estado, ela decidiu tentar nova vida em Viamão. “Vim com meus dois filhos e com meu marido e não vamos arredar o pé daqui enquanto não tivermos terra para produzir”, garante.

Em situação semelhante está a agricultora Suzana da Silva, que é vizinha de acampamento da Jussara, em Charqueadas. “Eu tenho um guri de 12 anos e uma guria de 8. A mais nova aprendeu a caminhar e a falar num acampamento do MST. Estamos na luta há muito tempo. O governo prometeu e já é hora de cumprir. Só vamos sair daqui com a terra na mão. Sabemos que não será fácil, mas nada vem fácil pra gente”.

Apesar das dificuldades, Suzana gosta da vida que leva. “Estamos ensinando nossos filhos a lutarem pelos direitos deles. E o acampamento é uma grande família. Aliás, eu conheço muita família por aí que não tem a união que nós temos. Isso acontece porque temos um mesmo objetivo, estamos juntos no mesmo barco”, acredita.

Ação integrada

Outras duas ocupações foram realizadas simultaneamente no rio Grande do Sul. No município de Vacaria, no Nordeste gaúcho, aproximadamente 400 famílias de sem-terra ocupam uma área pública, de responsabilidade do governo estadual. Em Sananduva, cerca de 200 pessoas ocupam uma área de 320 hectares.

“O governo diz que não tem dinheiro, mas ele tem. O que o governo não tem é prioridade com o pequeno agricultor. Nesse caso de Vacaria a área é deles e não teriam que pagar nada. Esta outra área aqui de Viamão está na mão do tráfico e já deveria ter sido expropriada”, reclama João Paulo da Silva, que é filho de pequenos-agricultores assentados e atua no MST há quase 10 anos.

 

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