Agronegócio avança sobre o Cerrado e deve desmatar mais 20% do bioma
Herton Escobar
Do Estado de S.Paulo
A área total desmatada do Cerrado deverá crescer 20% até 2050, chegando a 960 mil km², caso as taxas atuais de ocupação do bioma continuem iguais nas próximas décadas. É o que projeta um estudo publicado neste mês na revista científica Journal of Land Use Science.
Com isso, a proporção de áreas convertidas do Cerrado chegará a quase metade (48%) da área total do bioma, um dos maiores, mais ricos e ameaçados sistemas de savana do mundo.
As projeções são baseadas numa extrapolação temporal e espacial dos padrões atuais de ocupação do bioma, que é a principal área de produção de grãos, carne e leite do País. A base de comparação é o mapa do Cerrado em 2002, produzido pelo programa Probio, quando a área total desmatada era de 800 mil km², ou 40% do total do bioma.
Entre 2002 e 2007, a taxa de desmatamento foi de 0,3% ao ano, segundo cálculos do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás. Mantido esse ritmo nas próximas décadas, o Cerrado deverá perder mais 160 mil km² (uma área maior do que o Estado do Acre) de vegetação nativa até 2050. Uma média de 40 mil km² desmatados por década.
“É uma área grande, mas não chega a ser catastrófica”, diz o pesquisador Manuel Eduardo Ferreira, do Lapig, autor principal do estudo.
Mais importante do que os números, diz ele, são os mapas que mostram para onde o desmatamento deverá avançar. “É uma ferramenta de planejamento. Estamos mostrando onde as coisas vão acontecer.” Essa projeção espacial é baseada em fatores reais que regem a dinâmica de ocupação do bioma, como a inclinação do terreno, fertilidade do solo, proximidade de estradas e de centros consumidores, além de fatores climáticos.
A expectativa é de que o desmatamento aumente principalmente na Bahia, Piauí e Maranhão. /H.E.