Colheita do arroz agroecológico mostra força da Reforma Agrária


Por Hugo Kitanishi
Do Jornal Sem Terra

 


Por Hugo Kitanishi
Do Jornal Sem Terra

 

A 9ª Abertura da Colheita do Arroz Ecológico reuniu 1.000 agricultores assentados da região de Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul,  em 2 de abril, no assentamento Capela, que é fruto da luta das famílias que integram o MST.

Participaram prefeitos, vereadores de diversos municípios, o governador Tarso Genro, o ministro do Desenvolvimento Agrário Pepe Vargas, o ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra, o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) Celso Lisboa de Lacerda.

Em uma colheitadeira, Tarso Genro, juntamente com outras autoridades, deu início à colheita do Arroz Agroecológico. A estimativa para a safra desse ano é de 300 mil sacas. O número representa cerca de 70% do arroz orgânico certificado no estado.

No total, são 428 famílias envolvidas, situadas em 16 assentamentos e 11 municípios, em uma área de produção que chega a quase 3.900 hectares. De acordo com Emerson Giacomelli, membro da coordenação estadual do Movimento, a produção é vendida para o Programa e Aquisição de Alimentos (PAA) e para a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além do mercado regional.

A agroindustrialização do arroz é feita no assentamento em Nova Santa Rita. A safra nos anos de 2010 e 2011 soma cerca 345 mil sacas. No total são 28 campos de sementes, chegando a uma área de produção de sementes  a aproximadamente 245 hectares e numa estimativa de 42 sacas.

João Paulo Rodrigues, da Coordenação Nacional do MST, destacou a necessidade de desenvolver outra matriz tecnológica frente à hegemonia dos agrotóxicos. “O que estamos comemorando aqui é uma colheita, mas não qualquer colheita, é uma colheita de arroz orgânico. O que estamos mostrando é que a produção por meio de uma matriz agroecológica é possível, e o mais importante, levando alimento mais saudável para a população”.

Autoridades

Tarso Genro destacou a importância da organização dos movimentos sociais no Brasil. “Vocês não são um problema para esse país: vocês são a solução”, afirmou o governador gaúcho.

O ministro Pepe Vargas elencou as simbologias comemoradas pela 9ª Abertura da Colheita do Arroz Ecológico. “O primeiro símbolo é o da Reforma Agrária que dá certo. O segundo é o da sustentabilidade ambiental, feita pela agricultura familiar. O terceiro símbolo é o conjunto de programas governamentais e políticas públicas que contribuem para o avanço e para o salto de qualidade da agricultura familiar”, pontuou o ministro.

Vida de Camponês

O agricultor Jeferson da Silva, 27 anos, conhecido como Cabelo, contou que o segredo do arroz agroecológico está no manejo feito pelo controle da água, com o período de alagamento em que a área fica submetida. “A estrutura de arroz é feita na área de várzea e de forma coletiva. Participo de um coletivo formado por 12 famílias, que  somam juntas um total de 90 hectares. Já são seis anos de trabalho conjunto”.

Cabelo mora com a esposa e duas filhas (uma de um ano e meio e outra de sete anos) na unidade produtiva – o chamado lote. “A unidade produtiva é dividida em duas áreas. Uma com quatro hectares, voltada para a moradia e subsistência. E outra de oito hectares, voltada para a produção”, descreve o assentado.

A experiência do Arroz Agroecológico tem início em 1999, pelos assentados da reforma agrária nos municípios de Nova Santa Rita, Tapes e Viamão. O Grupo Gestor envolve a Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs), que fornece Certificação Participativa do Arroz “Terra Livre” – marca que dá nome ao arroz comercializado pelos agricultores, e mais três cooperativas. A área total de certificação orgânica é de cerca de 6.700 hectares.

Termo de Empenho

Durante o evento, Tarso Genro e o ministro da Integração Nacional assinaram protocolo de implementação do programa “Água para Todos”, que visa atender 47 assentamentos de 18 municípios do Rio Grande do Sul, conforme projetos elaborados pelo Incra.

O termo de empenho é de R$ 38 milhões, sendo R$ 2 milhões provenientes do governo do estado. “Hoje nós estamos inaugurando o programa. O Água para Todos  vai beneficiar as famílias de agricultores por meio do fornecimento de infraestrutura hídrica para as áreas de assentamento”, garantiu Bezerra.