Acampamento do MST comemora seis anos de resistência no Maranhão
Por Reynaldo Costa
Da Página do MST
Por Reynaldo Costa
Da Página do MST
Uma verdadeira construção de resistência. Assim pode se definir a luta agarrada pelas 220 famílias do Acampamento Roseli Nunes que ocupam a Fazenda Cipó Cortado, no município de Senador La Roque, no Maranhão, desde novembro de 2007. No sábado (18/8), os trabalhadores realizaram uma grande festa para comemorar e agradecer aos apoiadores da luta pela Reforma Agrária na região.
Mesmo ainda sem a desapropriação da fazenda, os trabalhadores acampados da Cipó Cortado já comemoram vitórias. Uma delas é a resistência da luta pela terra na região, que antes não se consolidava.
A truculência dos latifundiários sustentados pela União Democrática Ruralista (UDR) e do Estado impedia o a consolidação do MST na região. A persistência em permanecer na terra, motivo maior das comemorações, passou por enfrentamentos a pistoleiros ligados a UDR, perseguições politicas e até judiciais.
A identidade Sem Terra
A festa contou com a presença de militantes sociais de varias entidades, professores, universitários, religiosos e políticos que ao longo da trajetória do acampamento se firmaram como parceiros na luta pela terra.
Mais de 1000 convidados participaram da comemoração, que iniciou com um grande churrasco. Quem chegava de carro, em carrocerias de caminhões, motocicletas, bicicletas, montados em animais logo eram recebidos com a bandeira do MST, que estava a tremular por todos os cantos do acampamento.
A festa foi construída com a arrecadação entre os próprios acampados, em mais um ato de resistência e de organização. Quase todos os trabalhadores do acampamento usavam a camiseta e boné do MST, compradas pelos próprios assentados, uma verdadeira prova de identidade Sem Terra.
Os trabalhadores transformaram a Cipó Cortado, que há cinco anos vive em situação de tensão contra o latifúndio, num verdadeiro canteiro de alegria estampado no riso das crianças Sem Terrinhas, dos jovens que faziam a segurança e a recepção, dos homens e mulheres que cuidavam da cozinha e do churrasco e também de todos que chegavam de outras localidades.
Cerimônia
Em uma plenária lotada, onde antes era o galpão dos tratores que desmatava a região, os trabalhadores rezaram, cantaram, gritaram palavras de ordem, discursaram e contaram momentos difíceis e alegres que passassem durante estes seis anos de jornada pela terra. “Homenageamos a estes companheiros que mesmo sob ameaças de morte nunca abandonaram o povo da Cipó Cortado”, exclamou Bil, um dos acampados.
Na mística de abertura do ato, uma criança Sem Terrinha, se referindo à dificuldade da sociedade urbana compreender a luta dos Sem Terra, gritou “nós da Cipó Cortado somos gente também e daqui não vamos sair”.
Transformação
Na entrada da fazenda, onde antes havia uma cancela, havia duas bandeiras hasteadas que convidavam o povo a entrar. A placa de madeira que antes anunciava o nome da fazenda hoje demarca um território livre escrito com três letras: MST.
A sede da Cipó Cortado foi transformada em uma escola, com curso até de técnico em agropecuária. Antes era só capim, hoje a terra já esta sendo preparado para um grande plantio de mandioca e milho, um trabalho coletivo onde os trabalhadores esperam consolidar com uma nova festa, a Festa da Colheita.
Histórico
Desde que foi ocupada em 2007, os trabalhadores viveram sob fortes ameaças de mortes e tentativas de massacres por conta dos fazendeiros da região.
Logo no primeiro mês de ocupação, uma grupo armado cercou o acampamento disparando tiros para amedrontar as famílias
Em novembro de 2008, pistoleiros sequestraram dois trabalhadores acampados, os conduzindo à sede da fazenda, onde foram interrogados em condições de torturas. Os jagunços procuravam obter informações sobre as lideranças do acampamento e do MST na região.
Em março de 2010, pistoleiros se vestiram de policiais militares para aterrorizar trabalhadores rurais acampados e inventaram uma blitz militar próximo a entrada do acampamento.
Em maio deste ano, quatro pistoleiros fortemente armado invadiram o acampamento. Os acampados haviam recebido intimidação anteriormente de que teriam o acampamento invadido por pistoleiros. que tentariam localizar lideranças do MST. Organizados, os trabalhadores conseguiram render os quatro homens que chegaram ao acampamento em motocicletas.
A área
Em outubro de 2008 A Justiça Federal do Maranhão determinou a reintegração de posse da gleba Boca da Mata Barreirão, área de 114 mil hectares, localizada nos municípios de João Lisboa, Senador La Roque e Amarante do Maranhão.
Naquele período o Desembargador Federal da União, João Batista Moreira decretou a posse ao Incra com base no artigo 71, lei de n° 9.760/46, que protege o patrimônio público, determinando o despejo dos fazendeiros sem qualquer direito a indenização e com o pagamento de uma multa à União, com valor equivalente aos danos causados e que corresponda à quantidade de frutos colhidos indevidamente na área.
Como se tratava de um período eleitoral, a Secretaria de Seguraça do Maranhão alegou não ter contigente policial disponível deixando tempo para os grileiros recorrerem da decisão.
Dois meses depois, Ana Beatriz Jorge de Carvalho Maia, juíza de Direito da Comarca de Senador La Roque, concedeu um mandato de reintegração de posse aos grileiros da Cipó Cortado, uma de doze propriedades que compõem a gleba.
Segundo Gilvania Ferreira, da Coordenação Estadual do MST, a decisão mostrava o poder que os latifundiários têm na região, a incompetência do Incra ao não arrecadar as terras com decreto e mostra ainda de que lado se posiciona a Justiça do estado.
A propriedade hoje está sendo arrecadada novamente pela União, já que se tratava de uma enorme área grilada na década de 1980. Ao todo, as áreas a serem desapropriadas são quatro propriedades que somam mais de 12 mil hectares, uma destas é a Cipó Cortado, que deve ser entregue para quem de fato produz na terra.