Movimentos sociais do campo vão repetir ações unitárias nos estados
Pedro Rafael Ferreira
Da Agência Brasil de Fato
de Brasília (DF)
Pedro Rafael Ferreira
Numa demonstração de força popular, os movimentos sociais do campo marcharam com 10 mil pessoas pelas ruas da capital do país, nesta quarta-feira (22), para denunciar o “esmagamento” da população rural ante o atual padrão de desenvolvimento promovido pelo Estado brasileiro. O Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que durou três dias, serviu também para selar uma articulação conjunta entre as 13 principais entidades que militam na questão agrária. “O governo conhece bem as nossas reivindicações, mas não nos atendeu. A não resposta às nossas pautas fez com que unificássemos as ações, com forte expressão política. Para o próximo período, se desenha um cenário de grandes mobilizações nos estados”, avalia Rosângela Piovizani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). O Encontro remete ao I Congresso Nacional Camponês, organizado em 1961, no auge da atuação das Ligas Camponesas. Naquela ocasião, também foram reunidas, em Belo Horizonte (MG), as principais organizações políticas que atuavam no campo. Na avaliação dos movimentos, apesar do fortalecimento do agronegócio na última década, somente agora foi possível reunir forças para uma ação conjunta entre diferentes entidades. “O dito projeto popular do último governo deixou encantados muitos companheiros e agora esse encantamento está sendo quebrado. Está muito claro que esse governo tem lado”, acrescentou Rosângela, do MMC.
Agronegócio O documento final do Encontro Unitário não poupa críticas ao atual modelo de desenvolvimento do meio rural, centrado no agronegócio. Ao protestarem em frente ao Palácio do Planalto, camponeses, indígenas, quilombolas, pescadores e o conjunto dos trabalhadores não esconderam a decepção com a omissão do governo. Barracas de lona preta chegaram a ser montadas na praça dos Três Poderes.
No entanto, ao tentarem se aproximar do Palácio do Planalto, os camponeses foram reprimidos pela Polícia Militar (PM) com cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Após o tumulto, o documento final foi levado por 13 representantes mulheres em rápida reunião com o ministro Gilberto Carvalho, titular da Secretaria Geral da Presidência da República. O objetivo não era mesmo negociar. “Nós estamos construindo a unidade em resposta aos desafios da desigualdade na distribuição da terra. Como nos anos 60, esta desigualdade se mantém inalterada, havendo um aprofundamento dos riscos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em consequência da especialização primária da economia”, diz um trecho do documento final. Em outra parte, o documento sintetiza as principais contradições do setor: “este projeto, na sua essência, produz desigualdades nas relações fundiárias e sociais no meio rural, aprofunda a dependência externa e realiza uma exploração ultrapredatória da natureza. Seus protagonistas são o capital financeiro, as grandes cadeias de produção e comercialização de commodities de escala mundial, o latifúndio e o Estado brasileiro nas
suas funções financiadora – inclusive destinando recursos públicos para grandes projetos e obras de infraestrutura – e (des) reguladora da terra”. Na avaliação feita durante os três dias de encontro, o projeto em curso no Brasil visa tão somente a “acumulação de capital especializado no setor primário, promovendo superexploração agropecuária, hidroelétrica, mineral e petroleira”. Para atender o equilíbrio das transações externas, as consequências, denunciam os movimentos, são a concentração da propriedade da terra e da renda e a perda do território. “O Estado brasileiro está vendido para o capital do agronegócio, por isso não se respeita o direito de território indígena, nem quilombola”, afirmou Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional dos Quilombolas (Conaq). |