Escândalo da carne de cavalo na Europa atinge JBS e Nestlé


Por Jamil Chade
Do O Estado de S. Paulo

O escândalo da fraude no comércio de carne na Europa respingou no grupo brasileiro JBS. Ontem, a suíça Nestlé revelou que realizou testes em alguns de seus produtos e constatou que eles continham carne de cavalo, e não de vaca, como suas embalagens informavam. A carne era fornecida pelo JBS, o maior produtor de carnes do mundo, que havia comprado o produto de outra empresa na Alemanha antes de repassar para a Nestlé.

Por Jamil Chade
Do O Estado de S. Paulo

O escândalo da fraude no comércio de carne na Europa respingou no grupo brasileiro JBS. Ontem, a suíça Nestlé revelou que realizou testes em alguns de seus produtos e constatou que eles continham carne de cavalo, e não de vaca, como suas embalagens informavam. A carne era fornecida pelo JBS, o maior produtor de carnes do mundo, que havia comprado o produto de outra empresa na Alemanha antes de repassar para a Nestlé.

O escândalo na indústria alimentícia foi primeiro revelado na Inglaterra, há pouco mais de duas semanas, indicando a presença de carne de cavalo em produtos que se apresentavam como sendo carne de vaca, até mesmo em grandes redes de fast-food, como a Burger King.

A polêmica, em poucos dias, se espalhou por vários países europeus, escancarando falhas no sistema de controle sanitário da União Europeia (UE) e uma cadeia de produção envolvendo intermediários, produtos e empresas que, no final da linha, nem mesmo sabem a origem do que estão vendendo. Mas se até agora o escândalo envolvia empresas de porte médio, a nova revelação demonstra que a fraude está instalada no setor de carnes da Europa e respinga nas maiores empresas do setor.

Exames

A Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo, confirmou ontem que, depois de realizar exames em seus produtos, constatou que também teria sido vítima da fraude. A informação foi revelada uma semana depois de a própria Nestlé ter emitido um outro comunicado garantindo que seus produtos não haviam sido afetados pelo escândalo europeu.

Segundo um comunicado da companhia com sede na Suíça, o fornecedor seria a empresa alemã H.J. Schypke, que fornece a carne à JBS Toledo N.V., uma subsidiária do grupo brasileiro na Europa. Já a JBS usaria carne da empresa alemã para repassá-la para a Nestlé. O JBS comprou a Toledo, com sede em Gent, na Bélgica, em 2010, por 11 milhões.

Em comunicado no Brasil, o JBS informou que a empresa Schypke “não pertence ao seu grupo econômico e não possui qualquer relação societária ou operacional com a companhia”. Além disso, segundo a nota, o fornecedor alemão teria sido “auditado e aprovado” por todos os seus clientes europeus antes de começar a vender seus produtos para a JBS Toledo.

“A JBS Toledo informa ao mercado que suspendeu todos os contratos com a Schypke e que não comercializará mais produtos europeus até que a confiança na segurança do sistema de fornecimento do bloco seja restabelecida”, diz o comunicado. “Nenhum caso de violação foi identificado nos produtos fabricados pela própria JBS.”

Prateleiras

“Nossos testes encontraram DNA de cavalo em dois produtos feitos com a carne fornecida pela H.J. Schypke”, indicou a Nestlé, que garante já ter avisado as autoridades de sua constatação e insistindo que não existe risco para a saúde dos consumidores.

Mesmo assim, a Nestlé optou por retirar das prateleiras dos supermercados produtos como o ravióli e o tortelini de carne da marca Buitoni. Essas substituições ocorreram na Itália e na Espanha. Já na França, o produto afetado é a lasanha à bolonhesa Gourmandes. Os testes nesses produtos revelaram que mais de 1% da carne testada não era de vaca.

Pedindo desculpas aos consumidores, a Nestlé insiste que vai aumentar a partir de agora os programas de controle de qualidade, adicionando aos exames a verificação de DNA de cavalo em sua produção na Europa. A companhia garantiu que suspendeu todo o fornecimento vindo da empresa alemã e que vai substituir os produtos atingidos por carne 100% de vaca.

Nas últimas duas semanas, empresas registraram a queda da venda de alimentos prontos em quase 50%, enquanto as autoridades políticas do continente não disfarçam a saia-justa diante do escândalo.