Mais de 600 mulheres do MST ocupam o Incra de Aracaju, em Sergipe
Da Página do MST
O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Aracaju (SE) foi ocupado por 600 Mulheres camponesas do MST, nesta sexta-feira (8). As mulheres reivindicam a desapropriação das áreas ocupadas pelas famílias Sem Terra no estado. Há mais de 11 mil famílias acampadas em Sergipe, esperando a Reforma Agrária debaixo das lonas pretas.
Além da redistribuição das terras, as mulheres cobram do Incra melhorias na infraestrutura dos assentamentos, como a construção de casas, abastecimento de água, luz, e créditos para desenvolver as atividades produtivas das mulheres. As trabalhadoras rurais entregaram uma pauta ao Superintendente do Incra, Leonardo Goes.
A ocupação fez parte das atividades promovidas em todo o Brasil durante este mês de março, sob o lema Mulheres Sem Terra na Luta Contra o Capital e Pela Soberania dos Povos. Ao longo desses dias, as mulheres também participaram de debates no centro de formação Canudos do MST, no assentamento Moacir Wanderley, sobre a questão do papel e da luta das mulheres no sistema capitalista atual.
Confira a entrevista com Dilma Lima dos Santos, integrante da direção estadual do MST de Sergipe.
Porque as Mulheres Sem Terra estão se mobilizando?
Hoje, 8 de março, é um dia nacional de luta. Aqui em Sergipe, estamos reunidas desde terça-feira: fizemos até quinta-feira um Encontro de formação política com cerca de 100 Mulheres militantes. Hoje, nos juntamos com as companheiras que chegaram dos nossos assentamentos e acampamentos para ocupar a sede do Incra em Aracaju. Esta manifestação tem o papel de mostrar para a sociedade nossa luta cotidiana contra o capital.
Qual é o contexto da luta pela reforma agrária em Sergipe?
A situação da reforma agrária no Estado de Sergipe é a mesma que a situação nacional: a reforma agrária não está sendo discutida pelo governo federal, e isto acaba impedindo o avanço da conquista de novos assentamentos, no nosso estado também.
Aqui temos o exemplo da fazenda Tingui, que dia 12 de março vai fazer 16 anos de luta. Uma década desta luta do povo da Tingui aconteceu durante o governo do PT (Partido dos Trabalhadores). Mas mesmo assim, a gente não conseguiu avançar.
Quais são as reivindicações das Mulheres hoje?
Estamos cobrando o assentamento imediato das 11500 famílias acampadas no estado de Sergipe. Cobramos crédito para que as mulheres possam se organizar melhor nos assentamentos, construindo as casas e as agroindústrias e beneficiando os assentamentos.
Para isto, as mulheres do MST têm que se organizar em cooperativas. As mulheres estão ainda com dificuldades para participar, por causa da falta de compreensão dos companheiros, ou porque elas têm que cuidar dos filhos. Mas estamos melhorando este processo através da nossa luta.
A saúde da Mulher, um tema de luta – Entrevista com Cristiane C.S Zurkinden, médica e militante do MST.
O vínculo entre saúde e gênero foi um dos elementos debatidos durante o encontro. Por quê?
As mulheres são particularmente vulneráveis aos ataques neoliberais: elas sofrem discriminações no mercado de trabalho (com salários inferiores, uma maior taxa de desemprego, etc.), mas também dentro de casa, onde são elas que assumem a maior parte do trabalho doméstico, além de sofrer muitas vezes agressões físicas ou verbais. Esta realidade tem um impacto sobre a saúde da mulher, e dificulta o cuidado da saúde, por falta de tempo e recursos.
Quais são os fatores que influenciam a saúde da Mulher?
São vários. Primeiro o fator biológico: entre as causas mais importantes de morte das mulheres constam o câncer de mama, o câncer de útero e as complicações devidas a um aborto. Estas causas são vinculadas às características da anatomia feminina.
Mas outros fatores são importantes também: a existência de um serviço público de saúde acessível a todas – este acesso é hoje difícil, especialmente nas áreas rurais; as desigualdades econômicas; a questão da educação e da prevenção. Sem esquecer a questão cultural: as discriminações e violências sofridas pelas Mulheres podem ser um fator agravando as doenças mentais como depressão ou angústia.
Como fortalecer a luta para a saúde da mulher no campo?
É imprescindível melhorar e implementar o nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Para isto, devemos nos mobilizar com toda a sociedade. Também temos que melhorar a formação das mulheres camponesas sobre as questões da saúde, prevenção de doenças, políticas públicas de saúde: a saúde da mulher deve ser uma bandeira de luta no campo.