Sergipe comemora 17 anos da maior ocupação da história do estado
Por Luiz Fernando Silva
Da Página do MST
Eram cerca de 2800 famílias Sem Terra que reivindicavam uma fazenda improdutiva de aproximadamente 3.400 hectares, no município de Canindé de São Francisco, no Alto Sertão de Sergipe.
No dia 12 de março de 1996, estas milhares de famílias montaram um acampamento no entorno da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), para reivindicar a terra que pertencia a Antônio Duarte Dutra. Da conquista da área, se construiu o Assentamento Cuiabá.
“A ocupação Cuiabá é uma das maiores ocupações da história do MST e a maior de Sergipe”, conta o dirigente e hoje Deputado Estadual, João Somariva Daniel. O acampamento organizado pelo MST contava com o apoio de setores progressistas da Igreja local.
Mesmo com certa complacência do proprietário da fazenda ocupada, que não arquitetou restrições à desapropriação, a luta dos acampados foi árdua, já que o Estado não viabilizava a realização rápida do assentamento. Os acampados tiveram que enfrentar fome, problemas de saúde e tensão com a comunidade local.
A luta foi vitoriosa. Hoje, a área se tornou um projeto de Reforma Agrária, e um marco histórico na luta dos Sem Terra no estado de Sergipe. Segundo João Daniel, ela foi o ponto de partida de “uma mudança completa no Alto Sertão, trazendo desenvolvimento econômico e social na região”.
No próximo sábado (18), uma grande festa será organizada no assentamento para comemorar esta importante data.
Confira a entrevista do dirigente e hoje Deputado Estadual (PT), João Somariva Daniel, que acompanhou essa grande conquista:
Qual é o significado da conquista do Cuiabá para o MST?
A luta pela terra no Alto Sertão Sergipano iniciou-se muito antes do 12 de março de 1996. O significado da luta pelo assentamento Cuiabá é diferente das lutas anteriores: a ocupação Cuiabá é uma das maiores ocupações da história do MST, e a maior de Sergipe.
Aqueles que tiveram a oportunidade de ver fotos e imagens se certificaram de uma mudança completa no Alto Sertão. Pastores, padres, intelectuais, estudantes e pessoas que vivem na região têm a clareza que teve uma grande mudança a partir dessa ocupação.
Essa data representa uma das maiores demonstrações de que, quando a classe trabalhadora do campo se organiza, ela conquista espaço, força e poder. Na época, a maioria dos camponeses não tinha nenhum pedaço de terra para plantar, e os órgãos governamentais, Incra e governo do estado, se negavam a desapropriar fazendas na região. Os trabalhadores conquistaram a terra através de ocupações, trancamentos de rodovias e marchas.
Hoje, o MST é muito forte na Região do Alto Sertão. Não é à toa que elegemos vereadores e prefeito. Temos grandes exemplos na cooperação agrícola e um grande poder de produção. E um momento de muita felicidade para todos. O Movimento ajudou a sociedade da região a pensar, refletir, amadurecer e apoiar a organização.
Os acampados tiveram apoio da população?
As grandes marchas em meados de 1997, a primeira grande manifestação em Canindé de São Francisco, no dia 12 de março de 1996, não tiveram apoio da sociedade. Hoje essa história mudou. Temos programas de rádio e apoio da população. O comércio sabe o quanto a economia cresceu com a participação do MST.
Qual é a importância do MST no processo de desenvolvimento na Região do Alto Sertão Sergipano?
A importância do Assentamento Cuiabá para a região é sem dúvida a distribuição da riqueza. Temos várias lideranças na região relatando que, na época, os fazendeiros vendiam gado e compravam produtos agropecuários em outras regiões ou na capital, e empregavam no máximo dois vaqueiros, sem os direitos trabalhistas.
Atualmente essas mesmas áreas têm, na grande maioria, centenas de famílias produzindo, a exemplo do assentamento Jacaré Curituba, que conta com aproximadamente 700 famílias, e do assentamento Cuiabá, onde vivem mais de 300 famílias.
O Cuiabá teve um papel fundamental no desenvolvimento da região. O latifúndio traz miséria e desemprego. Ao contrário, a distribuição da terra traz desenvolvimento econômico e social. Isso é comprovado no mundo inteiro.
O Sertão mudou a partir da implantação dos assentamentos. O maior exemplo é o município de Poço Redondo, antes e depois do MST. Esse ano conquistamos R$ 30 milhões que serão investidos na construção de habitações em assentamentos, que trarão desenvolvimento na região.
A Reforma Agrária traz desenvolvimento econômico, político, cultural e social, transforma e agrega valores às famílias. Esse é um grande feito do MST: dar um sentido à vida das pessoas e trazer a esperança de ter o que comer, onde dormir, onde produzir e educar seus filhos. É resgatar o sonho de uma sociedade mais justa e igualitária.