Comissão da Câmara investiga assassinatos em fazendas de Dantas
Por Murilo Silva
Editor do Conversa Afiada
A Comissão Externa constituída pela Câmara dos Deputados para investigar a morte do tratorista Webert Cabral Costa, 24 anos – no dia 24 de julho na fazenda Vale do Triunfo, na cidade de São Félix do Xingu, sul do estado do Pará – esteve em São Félix, nessa quarta-feira (18), para colher depoimentos.
A fazenda Vale do Triunfo pertence à Agropecuária Santa Bárbara, com sede em Campinas, São Paulo, e que possuiu mais de 500 mil hectare
Por Murilo Silva
Editor do Conversa Afiada
A Comissão Externa constituída pela Câmara dos Deputados para investigar a morte do tratorista Webert Cabral Costa, 24 anos – no dia 24 de julho na fazenda Vale do Triunfo, na cidade de São Félix do Xingu, sul do estado do Pará – esteve em São Félix, nessa quarta-feira (18), para colher depoimentos.
A fazenda Vale do Triunfo pertence à Agropecuária Santa Bárbara, com sede em Campinas, São Paulo, e que possuiu mais de 500 mil hectares de terra no Pará.
A Santa Bárbara é controlada pelo Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas.
Webert foi receber uma dívida trabalhista na fazenda, no dia 24 de julho. Tratava-se de uma indenização que alegava ser devida por conta de um acidente de trabalho. Webert nunca mais voltou.
A Comissão Externa, que tem o deputado Cláudio Puty (PT – PA) como presidente, e o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB – SP) como relator, foi montada para investigar os desdobramentos da morte de Webert, e outras denúncias de desaparecimentos na região.
Webert foi morto na porta da fazenda supostamente pelo funcionário Divo Ferreira, 45, que contou com a possível ajuda de Maciel Berlanda do Nascimento, 31.
Vinte e nove dias depois, o corpo de Webert foi localizado dentro de uma mata de 20 hectares, na propriedade, por funcionários da própria fazenda, que levaram os policiais ao local exato.
Maciel Nascimento se entregou no dia 11 de setembro, no começo do mês. Divo Ferreira já se havia entregado – os dois acompanhados de advogados da Santa Bárbara, como noticiou o Conversa Afiada.
Divo Ferreira alega que agiu em legítima defesa. Depois de uma discussão, Webert teria feito menção de pegar uma arma, e foi quando Divo disparou.
Contudo, a suposta arma de Webert jamais foi encontrada.
Outro fato que se sobrepõe à versão de Divo Ferreira é que Webert foi morto com um tiro na nuca. O corpo dele foi encontrado com uma corda amarrada à perna. Esses são sinais de que Webert teria sido “covardemente executado”, como registrou o delegado Lenildo Mendes em seu inquérito.
A versão de execução é confirmada ainda por uma testemunha ocular.
Segundo essa testemunha, Divo teria chegado por trás de Webert e disparado contra ele na cabeça, à queima-roupa. Com a ajuda de Maciel, Divo teria jogado o corpo de Webert na caçamba de uma camionete da Santa Bárbara com o propósito de ocultar o cadáver.
Apesar de ser registrado como funcionário da fazenda, segundo o deputado Protógenes Queiroz, Divo Ferreira é conhecido por todos como um pistoleiro perigoso na região.
De fato, vários depoentes disseram à Polícia saber que Divo tinha arma de fogo e que costumava andar com ela.
De acordo com o relato da irmã de Webert aos deputados, colegas do irmão estão sob a ameaça de Divo. Segundo ela, Divo Ferreira já teria avisado que assim que sair da prisão vai matar todas as testemunhas.
Com as prisões, o caso foi encerrado, já que não foi possível identificar mandantes.
O desfecho, no entanto, não satisfaz a Comissão de deputados, nem a família de Webert.
Na versão da família, depois de meses cobrando a empresa, o gerente da fazenda, José Geraldo Putin, teria dito a Webert que faria o acerto, em duas parcelas.
Ainda segundo o que membros da família disseram aos deputados, no dia 24, quando Webert foi à fazenda, foi a pedido da própria gerência, para se encontrar com José Geraldo.
A mãe de Webert, dona Rosária, pediu para o filho não ir. Já que o próprio Webert havia relatado à família um caso de execução na fazenda, que ele mesmo teria presenciado.
Segundo Webert, casos assim eram comuns na região.
Ao chegar na portaria da fazenda, Webert foi barrado pelo vigilante Adriano Vieira.
Conforme relatou em seu depoimento – a que o Conversa Afiada teve acesso – Adriano barrou a entrada de Webert seguindo ordens do auxiliar-administrativo Fabrício Pereira Pamplona, duas semanas antes.
Em depoimento, Fabrício Pamplona disse que, ao ser comunicado pelo rádio da chegada de Webert, orientou o vigia Adriano para informar ao gerente José Geraldo sobre a presença de Webert na portaria.
Foi o que Adriano fez, conforme registrado no seu depoimento. Pediu orientação à gerência pelo rádio e, pelo rádio: “alguém deu a ordem para que Divo Ferreira fosse resolver o problema”, consta no depoimento.
Alguém, quem?
Isso, o depoimento não responde.
O gerente José Geraldo Putin também foi ouvido no inquérito policial.
Ele confirmou que foi comunicado pelo rádio de que Webert estava na portaria para falar com ele.
Na versão de José Geraldo, ele teria ido a pé de sua casa até a portaria da fazenda, teria andado cerca de 3 quilômetros, mas não encontrou ninguém na portaria.
O delegado de polícia chegou a pedir a interceptação telefônica de José Geraldo, mas o pedido foi negado pelo juiz Celso Gusmão de Moura, da comarca de São Félix do Xingu.
Segundo o deputado Cláudio Puty, é fundamental federalizar o caso, e ampliar as quebras de sigilo telefônico para encontrar os eventuais mandantes desse e de outros crimes.
Segundo o deputado Puty, as denúncias são muitas, mas acabam não sendo registradas como homicídio, e sim, como desaparecimento.
O próprio caso do Webert foi negligenciado como um ”desaparecimento” por um primeiro delegado.
Mas, a família de Webert, em especial a mãe, dona Rosária, não se conformou com essa resposta. Ela encheu um ônibus e foi bater na porta do secretário de Segurança Pública do estado, na capital Belém.
Foi o secretário Luiz Fernandes que mandou abrir o inquérito de homicídio, que foi conduzido por um segundo delegado.
Segundo o deputado Puty, existem várias referências a um açude de dois quilômetros de extensão, dentro da fazenda Vale do Triunfo, chamado, sugestivamente, de ‘Justa Causa’ ”. Segundo as denúncias feitas aos deputados, os corpos das vítimas são jogados no lago.
De acordo com deputado Protógenes, há relatos de tortura, execução e de condições de trabalho análogas à escravidão.
Conforme disse o deputado Protógenes, as testemunhas são muitas, e além disso, a cidade toda sabe dos casos de violência: “você vai no açougue o cara te fala, vai na banca te falam, entra na farmácia te falam…”, diz ele.
O presidente nacional da CUT, Wagner Freitas, disse ao Conversa Afiada que irá, pessoalmente, com a Comissão e com a CUT do Pará até a região para acompanhar as investigações sobre os casos de violência cometidos contra os trabalhadores rurais.
O deputado Protógenes Queiroz disse que vai pedir ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que federalize o caso.
Protógenes pretende ainda chamar os responsáveis pela Santa Barbara para depor sobre as denúncias, inclusive o diretor-presidente da companhia, Carlos Rodenburg e o sócio-proprietário, Daniel Dantas.