Em parceria com Unesp, militantes iniciam primeira etapa do mestrado
Por Talles Reis
Da Página do MST
O mês de setembro foi de estudo intenso para os 39 estudantes do curso de mestrado em Desenvolvimento Territorial da América Latina e Caribe, uma parceria da Via Campesina com a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
Composta por militantes da Via Campesina de 13 estados, além de um argentino, um peruano e um colombiano, os estudantes tiveram a primeira etapa do curso realizada na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).
Na aula inaugural, Edgar Kolling, do MST, lembrou que “o estudo está presente no Movimento deste as suas origens, mas estudo não apenas como sinônimo de escolarização, mas também como aquele esforço individual e coletivo para compreender a realidade, intervir nela e transformar o mundo. Por isso que para o MST o estudo é um princípio organizativo”.
Kolling também citou pesquisa recente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de que apenas 1% dos jovens residentes nos assentamentos tem curso superior completo, ante os 12% do Brasil. Esse dado demonstra mais um elemento da exclusão a que a população do campo está submetida.
Ao se referir ao curso, o dirigente lembrou sua metodologia, pensada a partir de uma perspectiva crítica. “Este curso reforça a ideia de que vocês sejam lutadores e construtores de um mundo melhor, mais justo, igualitário e solidário”.
O professor Bernardo Mançano Fernandes, da Unesp, destacou a importância da ciência e teoria, da necessidade dos estudantes se preocuparem com a produção teórica, ressaltando que a “postura de ver a ciência como um processo de construção do conhecimento é uma postura propositiva, ofensiva, e não conformista. Quero defender aqui que vocês entendam a ciência que está sendo trabalhada como de caráter propositivo, não só denuncismo”, disse.
Rosana Fernandes, integrante da turma de mestrado e assentada em Goiás, avaliou muito positiva a parceria entre os movimentos sociais do campo e a universidade, pois permite o regime de alternância onde as etapas de aula são intercaladas pelo tempo comunidade.
Assim o assentado ou assentada não ficam muito tempo longe da família, da casa, das atividades produtivas e organizativas. “Seria muito difícil a gente conseguir um curso formal da academia. Meu objetivo tem sido aprofundar os conhecimentos teóricos para contribuir com a organização dos trabalhadores”, ressalta.
O educando Delwek Matheus, assentado em São Paulo, reafirma que “o curso é fruto da luta pela terra, e cabe aos camponeses irem se apropriando de outros espaços, como o espaço acadêmico”.
Durante a etapa, a turma também definiu o seu nome: Turma de Mestrado José Carlos Mariátegui, em homenagem ao militante peruano que contribuiu para a interpretação da realidade latinoamericana, a partir de uma análise marxista.
A próxima etapa será em março do ano que vem. Divididos em três linhas de pesquisa, os estudantes têm 24 meses para a conclusão do mestrado, que também conta com o apoio da Cátedra da UNESCO em Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial e do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).