Jovens debatem o protagonismo da juventude na luta pela terra
Por Camilla Hoshino Fotos: Joka Madruga
Da Página do MST
Por Camilla Hoshino Fotos: Joka Madruga
Da Página do MST
Cerca de 2 mil jovens de diversas regiões do Paraná e de outros estados do Brasil se reuniram nesta segunda-feira (7) para o início do 2° Festival de Artes das Escolas de Assentamento do Paraná.
Além das atividades culturais e artísticas, que acontecem no Ginásio de Esportes do Tarumã, em Curitiba, o início do festival também garantiu um espaço de reflexão e debate.
A primeira conferência levou o tema: “A participação da juventude nos processos de transformação da sociedade”, trazendo como convidados João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, e Thaille Lopes, do coletivo nacional da juventude.
Para eles, ao mesmo tempo em que a juventude do MST é herdeira de uma história que envolve a luta pela terra, escola e cultura, ela também deve ser protagonista dos compromissos e das novas construções do MST e da classe trabalhadora.
“Vivemos um período de crise. Somos filhos de um processo de descenso das lutas, em que a organização dos trabalhadores está mais difícil. Mas ao mesmo tempo, somos filhos dos assentados, somos filhos dos acampados, somos filhos dos processos de conquistas da luta do Movimento Sem Terra”, disse Thaille Lopes.
Para ela, criar uma geração de atores políticos é uma tarefa histórica do MST, pois isto significa criar um elo entre a experiência histórica da classe trabalhadora e o novo, aquilo que o MST está se propondo a construir.
Juventude e transformação Social
Na mesma linha, Stedile destacou a juventude como essencial no processo de lutas para a transformação social, cuja fase é o momento em que se obtém conhecimento, conscientiza-se sobre a sociedade e as relações sociais e quando se tem um sonho de transformação mais aceso.
E relembrou: “se vocês pegarem um livro do MST e olharem as fotos dos chamados ‘dinossauros’, verão que éramos todos muito jovens, estávamos nos nossos vinte e poucos anos. Foi dessa juventude que nasceu a coragem de fazer a ocupação de terra mesmo em uma época de ditadura militar, a coragem de enfrentar a polícia. Dessa coragem da década de 80 que nasceu o MST”.
Ao lembrar um dos maiores ídolos da esquerda em geral, e da juventude, em particular, Stedile destacou o dia 7 de outubro, data de falecimento de Che Guevara. Lembrou que o guerrilheiro tinha 36 anos de idade quando foi fuzilado e que nesta época já havia participado das revoltas populares da Guatemala, da Revolução Cubana, de revoltas africanas, entre outras lutas.
“Quando você tem dúvida se está fazendo certo ou errado, mire-se no exemplo”, disse, mencionando o legado de Che Guevara para a juventude: primeiro, o amor ao estudo; segundo, a solidariedade; terceiro, a indignação diante de qualquer injustiça; quarto, o espírito de sacrifício; quinto, o valor do exemplo e, por último, a obrigação de organizar o povo.
“Espero que vocês guardem no caderno e na memória esses cinco valores que o Che pregou com a sua vida. Eles não estão em nenhum discurso, mas em sua prática”, finalizou.
Participação consciente
Embora a condição do estudo tenha sido ponto de consenso para os debatedores, eles reforçaram o fator organizativo como central para a continuidade das lutas do MST, apontando principalmente a necessidade de produção de um trabalho coletivo num momento em que o individualismo, a competição e o consumo são valores muito fortes na sociedade.
Thaille Lopes ressaltou a necessidade de estar organizado para que se possa construir um processo de luta da juventude que eleve o nível de consciência, assim como melhorar as nossas condições de vida.
“Trabalhar com a juventude é fundamental para a construção de qualquer projeto de sociedade. Para nós, a juventude adquire uma centralidade política no nosso trabalho, não só como posição, mas como uma condição de continuidade da luta para a nossa organização no campo e na cidade”, afirmou.
As falas trouxeram elementos para que os participantes debatessem o papel da juventude, colocando suas contribuições na conferência, após o debate em grupos. Os jovens presentes saíram com a tarefa de levar as novidades das experiências, debates e refletir para os demais jovens que ficaram nos assentamentos e que não tiveram a oportunidade de participar do evento em Curitiba.