Juventude debate aprendizagem como fruto da ação e reflexão

 
Por Camilla Hoshino                                                              
Fotos: Leandro Taques
Da Página do MST

O segundo dia do Festival de Artes das Escolas de Assentamento do Paraná trouxe mais reflexões e debates entre a juventude. Após a participação dos jovens, pela manhã, em oficinas de música, dança, teatro, comunicação, o espaço da tarde desta terça-feira (08) foi reservado para a segunda conferência do evento.

Para discutir o tema “Organização dos estudantes e perspectivas de futuro no campo: inculcações, certezas e desafios”, estiveram presentes Maria Izabel Grein, do setor de educação do MST, e Raul Amorin, do coletivo de juventude do MST.

O acúmulo prático e teórico dos convidados permitiu que a conferência unisse debates centrais para o Movimento Sem Terra: juventude, educação e organização.

Ambos demonstraram preocupação quanto ao papel da educação em garantir tanto a formação intelectual e crítica, quanto o vínculo de aprendizado com a vida dos próprios jovens, ou seja, garantir uma educação que corresponda às necessidades de produção, de arte e cultura dentro dos assentamentos.

Além disso, apontaram a necessidade de organização da juventude para que possam enfrentar coletivamente os problemas e desafios que afetam diretamente os jovens, e aprender com as próprias experiências organizativas. “A juventude precisa se ver como maioria dentro da escola e se auto-organizar. Ela não deve encontrar saídas individuais, mas deve se ver nas saídas coletivas”, apontou Raul.

Diante disso, duas perguntas centrais foram colocadas para o debate em grupos: qual o projeto de educação e de escola que queremos e como podemos nos organizar nos coletivos de juventude para garantir a escola que queremos?

Os debatedores chamaram a atenção para outros pontos essenciais: a necessidade de democratização dos espaços da escola – de forma que os jovens participem das decisões, gestão e que possam cobrar o tipo de educação que desejam -, a não negação do debate da juventude e a clareza nos objetivos de demanda da juventude.

Ação que gera aprendizado

Apesar de terem colocado a escola como condição fundamental para o aprendizado, assim como possível espaço de atuação política, Maria Izabel e Raul ressaltaram outros elementos indispensáveis para a formação do jovem no campo, que estão relacionados às experiências e ações práticas do próprio MST e de sua história.

“A escola é central, mas temos outros espaços educativos da Reforma Agrária. Temos a experiência da ocupação, a experiência da organização nos assentamentos, do trabalho coletivo, a experiência da construção da história e da cultura. Tudo isso acaba educando”, afirma Maria Izabel.

“Não faz sentido a gente lutar por educação no campo sem ter como horizonte a inserção da luta pela Reforma Agrária Popular, pois foi ela própria que deu base para a construção da educação no campo”, reforçou Raul.

No entanto, apesar das experiências práticas, para Maria Izabel existe uma investida muito grande contra a juventude para que ela não continue no campo e valorize a vida nas cidades. Ela acredita que independente da decisão de continuar no campo ou não, a juventude precisa ter clareza de quais são os objetivos de construção do futuro nas suas decisões.

Nesse sentido, o 2° Festival de Artes mostra a capacidade da juventude em criar as condições para ela mesma garantir suas necessidades, no que diz respeito a sua organização para garantir as apresentações, e a capacidade de criar coisas novas a partir da criatividade coletiva.

“Da mesma forma que acontece no Festival, para terem lazer, esporte, arte, não precisam sair do campo e consumir aquilo que o mercado oferece, principalmente nas cidades. Além disso, quanto ao próprio dinheiro para consumo, se existe terra, espaços para produzir, será que não podemos criar espaços produtivos onde a juventude possa participar e dali tirar os recursos e condições para viver, sem precisar sair do campo?”, questiona.

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