Sem Terra chegam a Maceió e participam de reunião com governador


Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
 

Em marcha desde a manhã da última segunda-feira (4/11), cerca de dois mil trabalhadores rurais organizados no MST, Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) de todo o estado de Alagoas, chegaram à capital nesta quarta-feira (6), onde reafirmam a importância da democratização da terra para quem vive na cidade.

Nesta quinta-feira (7), a Marcha por Terra e Justiça segue para o centro da cidade de Maceió, onde já está agendada uma reunião com o governador do estado, Teotônio Vilela Filho (PSDB), às 15h.

Depois de 60 km percorridos, enfrentando sol e chuva, os Sem Terras seguem pelas avenidas de Maceió denunciando a paralisia da Reforma Agrária no país e exigindo imediata desapropriação das áreas das fazendas São Sebastião (Atalaia), Cavaleiro, São Simeão e Bota Velha (Murici), onde 400 famílias acampadas vivem ameaças de despejo.

Clique aqui e confira mais fotos da marcha

Para José Roberto, do MST, a divisão das terras cumpre papel importante para o homem e a mulher no campo e na cidade. “A Reforma Agrária é o caminho para acabar com o desemprego e garantir que os camponeses vivam no campo. Além de levar alimentos saudáveis para quem vive nos centros urbanos”, afirmou.

Nas BRs cercadas pelo monocultivo da cana de açúcar no estado, os agricultores preencheram as vias com suas bandeiras, faixas e palavras de ordem em protesto ao descaso dos governos federal e estadual com os trabalhadores rurais.

Leia também:
MST realiza 3° Jornada Cultural e o 4° Festival da Canção em Santa Catarina

“Estamos em Marcha na disputa de um novo modelo de sociedade, onde todos e todas tenham seus direitos básicos garantidos e que possam viver com dignidade. E se hoje dois mil estão nas ruas é para mostrar que não estamos conformados com a sociedade que vivemos”, disse Josival Oliveira, do MLST.

Mobilizações

Logo na manhã da terça-feira (05/11), os camponeses ocuparam o prédio da prefeitura do município de Messias, onde, em audiência com o prefeito Jarbas Filho (PSDB), pautaram as demandas de infraestrutura e lazer nos assentamentos e acampamentos da região.

Ainda na manhã de terça, a Marcha seguiu para o Centro de Ciências Agrárias (CECA) da Universidade Federal de Alagoas, no município de Rio Largo. No local, os trabalhadores denunciaram o descompromisso da Universidade com o povo, servindo aos interesses das elites do estado nas pesquisas voltadas para melhoramento genético da cana.

“Entendemos que o papel da universidade não é usar recursos públicos para pesquisas que beneficiam usineiros, mas, sim, que construam uma alternativa de desenvolvimento para região e que possam servir à grande maioria do povo brasileiro”, afirma a nota divulgada pelos movimentos sociais que constroem a Marcha.

Já na quarta-feira (06/11) a Marcha seguiu para a principal avenida de Maceió, quando os movimentos ocuparam o prédio da Eletrobrás, exigindo resolução imediata dos problemas das áreas que ainda sofrem com a falta de energia elétrica.

 

Confira na íntegra a nota pública da CPT, MLST, MST e MTL sobre o ocorrido no Centro de Ciências Agrárias da Ufal:

 

MARCHA POR TERRA E JUSTIÇA

NOTA PÚBLICA

Universidade para o povo ou para os usineiros?

 

No ultimo dia 03/11, uma coluna com mais de 2 mil homens e mulheres camponesas, organizados em movimentos sociais, partiram de Murici até Maceió, com trajetória de 60km, a serem percorridos em marcha. O ponto de partida, a cidade de Murici, é marcado pelo domínio de famílias latifundiárias no plano da política e da economia, o que lega ao todo da população, o secular destino da exclusão e exploração. De lá até o ponto de chegada, os movimentos estampam a bandeira da justiça social, com uma Reforma Agrária Popular que divida as terras e altere a realidade sócio-econômica do campo e da cidade.

Dentre vários atos que temos realizado pressionando órgãos públicos, durante a manhã desta terça-feira (05/11), os trabalhadores rurais foram recebidos com total abertura no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca-Ufal). Ao se confrontarem com experimentos de melhoramento genético da cana-de-açúcar, inclusive transgênicos, que beneficiam (não de hoje) os principais responsáveis pela miséria em Alagoas, grupos de latifundiários e usineiros, a massa revoltada de trabalhadores decidiu pela ação direta: destruir o que historicamente nos destrói.

O objetivo da ação política não foi um ataque à universidade ou às pesquisas acadêmicas em geral. Mas, sim, demonstrar à sociedade que os camponeses e camponesas do Brasil são contra este modelo que privilegia a monocultura exportadora, utilizando nossas riquezas naturais, nossas terras e mão-de-obra barata, destruindo o meio ambiente e produzindo trabalho escravo. Entendemos que o papel da universidade não é usar recursos públicos para pesquisas que beneficiam usineiros, mas sim, para pesquisas que construam uma alternativa de desenvolvimento para região e que possam servir à grande maioria do povo brasileiro.

Quer dizer, temos na estrutura de uma Universidade Pública estudantes, pesquisadores e laboratórios para promover ainda mais o avanço do monocultivo de cana-de-açúcar, causando a elevação dos preços dos alimentos e a concentração da propriedade da terra. Queremos alertar que a diminuição sucessiva da área plantada de alimento terá, em breve, consequências gravíssimas para toda população mundial.

Hoje a população urbana está sofrendo com a alta no preço dos alimentos e com o excesso de agrotóxicos. A agricultura familiar, responsável pela comida que chega à mesa do povo brasileiro, está sendo devorada pela ganância dos latifundiários.

A Universidade Pública deve, através da produção de ciência, servir para dar solução aos problemas do povo, como a fome, e não, ao agronegócio e ao capital financeiro, que querem transformar os alimentos, as sementes e todos os recursos naturais em mercadoria para atender os interesses, o lucro e a ganância das grandes empresas transnacionais. Portanto, que pesquisem o desenvolvimento de milho, de feijão, de macaxeira. Se os usineiros querem fazer pesquisa para aumentar seus lucros, que façam em suas terras e contratem seus técnicos.

Certamente quando a universidade pública entender seu papel social, ela poderá contribuir muito utilizando o conhecimento acumulado e os técnicos servidores públicos que se apropriaram destes conhecimentos, com recursos públicos do povo brasileiro, para a melhoria das condições de vida da maioria e a produção de alimentos saudáveis e baratos.

Não nos espantamos, entretanto, com a pobreza das coberturas midiáticas sobre o tema, particularmente as mensagens veiculadas pelos meios ligados às Organizações Globo. Ao afirmar que pesquisas foram destruídas, adotam a política de defesa do latifúndio e negligenciam a informação. O ato destruiu exclusivamente experimentos (da cana-de-açúcar) a serviço dos responsáveis pela miséria e os altos índices de desigualdade de Alagoas. Como de costume em coberturas da Mídia Convencional, a abordagem meramente factual costuma distanciar a sociedade de um aprofundamento histórico-crítico dos fatos que ora ocorrem.

A política de Reforma Agrária está estagnada, com índices de desapropriações de terras inferiores aos do período de Ditadura Civil-Militar. Enquanto isso um grande contingente de recursos tem sido repassado para o financiamento da agricultura do veneno e dos transgênicos, impulsionando o envenenamento de nossas populações e meio ambiente, o adoecimento e morte do povo e estimulando a concentração cada vez maior de riqueza.

Por fim, conclamamos a sociedade alagoana e brasileira à reflexão sobre o papel da terra e à luta em defesa dos camponeses, povos tradicionais e trabalhadores em geral, que, em movimentos sociais, ousam desafiar os projetos de poder das elites e propor um horizonte de justiça social para o Brasil.

 

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – CPT

MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DOS SEM TERRA – MLST

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST

MOVIMENTO TERRA, TRABALHO E LIBERDADE – MTL